"Por 3 vezes achei que fosse morrer", diz sobrevivente de avalanches no Everest

Patricia Jolly

  • Namgyal Sherpa Nima/AP

    Helicóptero resgata alpinistas no monte Everest, no Nepal, na segunda-feira

    Helicóptero resgata alpinistas no monte Everest, no Nepal, na segunda-feira

Levou somente alguns segundos após o terremoto que devastou o Nepal, no sábado (25), para que os picos himalaios soltassem as massas de gelo e de neve que se equilibravam precariamente pelos seus flancos. A notícia da ocorrência de grandes avalanches chegou primeiro do campo base do sul do Everest. Hiperconectado ao resto do mundo, esse efêmero vilarejo de tetos laranja, azuis e verdes é erguido toda primavera a 5.345 metros de altitude em uma área de aproximadamente 1 km pelas operadoras de expedições que levam centenas de clientes candidatos a escalar o Everest, a 8.848 metros de altitude.

"No sábado, entre 11h15 e 15h, por três vezes achei que eu fosse morrer", contou a um amigo o francês Dominique Meignan, ao descer de volta no domingo de manhã para o aeródromo de Lukla (2.700 metros), ponto de passagem obrigatório dos alpinistas que vêm ou estão indo para Katmandu. "Era como se toda a montanha estivesse desabando, explodindo... pedras enormes voando ao nosso redor, deslizamento de terra, casas desabando... O chão se movia com movimentos amplos. Em um momento a montanha acima de mim "explodiu" e eu pensei: 'Ferrou'. Corri como um louco para o fundo do vale, pulei dois muros com cerca de 2,5 metros de altura para dentro de plantações de batata."

"Passamos uma noite horrível, com réplicas [dos tremores]. Fomos obrigados a sair várias vezes durante a noite", ele disse. "Havíamos preparado uma bolsa de sobrevivência para podermos fugir rapidamente abandonando todo o resto."

O aerossol (nuvem de ar e de neve) de deslizamentos vindos do Pumori (7.165 metros) e do Nuptse (7.861 metros), carregando pedrinhas e blocos de gelo, soterrou dezenas de tendas por centenas de metros. Esses projéteis feriram mais de 60 pessoas e causaram ao menos 18 mortes.

Faltam recursos para resgate

Pemba Gyalje Sherpa, presidente da companhia nacional dos guias de montanha nepaleses, que conta com cerca de 50 membros, afirmou ao "Le Monde" na segunda-feira de manhã que "mais de 40 feridos" da avalanche do campo base do Everest haviam sido hospitalizados na véspera em Katmandu e que "uma dezena de corpos" ainda seriam evacuados. "Estamos em stand-by para podermos ajudar lá em cima", disse.

Embora abrigue oito dos 14 cumes mais altos do mundo, o Nepal não dispõe de nenhuma unidade especialmente treinada para resgate em montanha, nem helicópteros adaptados para altitudes muito elevadas.

No dia 18 de abril de 2014, uma avalanche havia matado 16 sherpas a 5.800 metros, pouco acima do acampamento 1 do Everest. O resgate fora organizado pelas operadoras de expedições presentes no local, pelos médicos da Himalayan Rescue Association que todo ano montam, há quase 15 anos, um hospital no campo base, com ajuda de empresas de helicópteros particulares.

O mesmo ocorreu esta vez. O mau tempo impediu os aparelhos de chegarem até o palco da tragédia antes do domingo de manhã, mas os alpinistas presos nos acampamentos de cima começaram a ser retirados por via aérea, dois por vez, na segunda-feira.

Grandes avalanches também foram registradas em outros picos, como Annapurna, Makalu e Manaslu, mas não houve notícia de mortes até o momento. Fora os acampamentos de alpinistas, os vilarejos de grande altitude, para os quais ainda não se tem um balanço de vítimas, foram fortemente afetados. O vilarejo de Langtang, na região de mesmo nome situada ao norte de Katmandu, foi devastado por uma avalanche e um deslizamento de lama, enquanto o de Kyanjin, igualmente destruído, ainda conta o número de feridos.

Tradutor: UOL

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos