Como Samy Amimour se tornou um dos terroristas do Bataclan

Simon Piel

  • AFP

    Samy Amimour e outros dois terroristas mataram 89 pessoas na boate

    Samy Amimour e outros dois terroristas mataram 89 pessoas na boate

No dia 16 de outubro de 2012, onze dias depois de anunciar, com uma letra desajeitada, ao centro da RATP de Pavillon-sous-Bois que estava "se demitindo de suas funções de maquinista" que ele ocupava desde 8 de agosto de 2011, Samy Amimour, um dos autores dos atentados de 13 de novembro, morto durante o ataque ao Bataclan, foi detido para interrogatório em sua casa em Drancy, na região de Seine-Saint-Denis.

Ele não sabia na época, mas desde o mês de maio de 2012 a procuradoria de Paris vinha conduzindo uma investigação preliminar sobre seu plano de partir para o Iêmen ou para a zona paquistanesa-afegã para fazer a jihad. Dois de seus amigos, Charaffe el-M. e Samir B., também como ele residentes de Drancy, foram presos e levados para a sede da Direção Central da Inteligência Interna (DCRI, que depois se tornou a DGSI).

Samy Amimour foi ouvido por quatro dias, 96 horas durante as quais ele foi interrogado sobre sua prática religiosa, seu lugar na França como muçulmano, a jihad internacional e ainda a situação na Síria. Esse interrogatório depois se mostrou limitado, considerando as omissões, as explicações elusivas e a postura diante da polícia e dos magistrados. Também houve uma parte de verdade, ou até de sinceridade, que esclareceu um pouco mais o percurso de um francês que acabou por entrar no terrorismo.

Foi um homem de 25 anos que afirmava ter uma prática bem rígida do islamismo que se apresentou perante os investigadores. Ele explicou ter sentido a necessidade de aprofundar seu conhecimento religioso por volta dos 14 ou 15 anos, mas fazia só dois anos que ele frequentava mesquitas.

"Vou aonde for possível para rezar, mas frequento especialmente as mesquitas de Blanc-Mesnil e de Bourget". Mais a de Blanc-Mesnil do que outras, "pois o imame de Bourget só fala árabe", ele diz, uma língua que ele gostaria de aprender.

Ciente da dimensão escatológica de sua religião, Samy Amimour explicou ter feito tudo como "autodidata", recusando-se então a dizer que fora foi doutrinado. Durante a revista em seu quarto em Drancy, os policiais apreenderam diversas obras religiosas que mostravam sua vontade de aprendizado. Em sua biblioteca havia uma história dos profetas, coletâneas de hadiths e um texto sobre as razões da proibição da carne de porco no islamismo, leituras que ele intercalava com o jornal esportivo "L'Equipe" e o "France Football".

Por vários meses ele frequentou o site jihadista Ansar al-Haqq, com uma certa assiduidade a partir de maio de 2012. Usando os nomes Samy Coleman, "em homenagem a Ronnie Coleman, um famoso fisiculturista", Sam al-Annabi, em referência à cidade argelina de Annaba de onde veio seu pai, e Ibn Azz ad-Din, ele consultava diversos fóruns na internet. Um deles se chamava: "É permitido usar armas de destruição em massa contra os Estados Unidos?", e outro: "Bulgária: atentados contra turistas israelenses: quatro mortos?".

Diante dos policiais que o interrogaram a respeito dessas consultas, Amimour mal conseguia se esquivar. Sobre os Estados Unidos, "é difícil de dizer, com a cabeça fria eu poderia dizer que não é razoável pois há inocentes que vão morrer, mas com a cabeça quente, dependendo do estado de espírito do momento, seria possível pensar que é legítimo, considerando tudo que eles fizeram." E diz: "Não posso esconder de vocês que tudo aquilo que pode acontecer com os israelenses ou com os americanos me traz um certo alívio, uma satisfação."

Bin Laden aparece em vídeos do computador de Ammour

Além dos vídeos do xeque Imran Hosein, foram encontrados em seu computador vários vídeos com apelos à jihad, onde Osama Bin Laden aparecia com destaque. "Ele simbolizava a resistência. (...) Foi ele que deixou os Estados Unidos de joelhos", afirmou Amimour, que na época admitia ter "uma certa admiração" pelo ex-líder da Al-Qaeda. Os "que repudio são aqueles que incitam o ódio contra inocentes como os kuffars ("infiéis" em árabe) não belicosos", ele fez questão de explicar.

Ao longo dos interrogatórios, Samy Amimour afirmou não estar disposto a cometer atos violentos e negou ter qualquer plano terrorista. Embora a jihad defensiva lhe parecesse legítima, ele afirmou diversas vezes que não apoiava os ataques contra inocentes.

No entanto, ao lhe perguntarem se ele estava disposto a morrer como mártir para chegar "ao mais alto nível do paraíso", a resposta foi mais ambígua. "Não tenho como saber, (...) talvez chegando na hora eu não fosse capaz. Posso dizer coisas, mas diante de uma determinada situação, eu certamente não seria capaz." Interrogado pelo juiz no dia 24 de janeiro de 2013, ele afirmou querer "voltar a ter uma vida normal", aprender árabe, trabalhar e se casar.

Embora tivesse considerado por um tempo ir a uma terra de jihad, ele disse ter mudado de ideia em abril de 2012. "O caso Merah me fez pensar muito. Nem todos que têm esse tipo de ideia são irrepreensíveis. Por exemplo, matar crianças é algo de inaceitável, um ato muito distante do caminho certo."

A ideia de ir para um país em guerra na primavera de 2012, financiado em parte por um empréstimo bancário, havia nascido de um cansaço profissional e da "procura por algo que eu não encontrava aqui no sentido afetivo e pessoal, da fraternidade religiosa, que se encontra mais facilmente nesses países."

"Somente a inexperiência e a falta de contatos operacionais deles abortaram esse projeto", observou um capitão da DCRI no dia 19 de outubro de 2012, que pouco se convenceu com essas explicações.

Terrorista sofria com sentimentos de opressão

De acordo com os três aprendizes de jihadistas, o projeto deles se transformou em simples vontade de imigração religiosa para a Tunísia. Diante dos juízes, Samy Amimour justificou assim essa necessidade de partir. Na França, "uma de cada duas leis diz respeito aos muçulmanos.

Há um sentimento de opressão em relação à comunidade muçulmana, de estigmatização pela mídia que depois pesa sobre os indivíduos. Por exemplo, no trabalho não podemos fazer as orações no momento em que elas devem ser feitas. Se a mulher quer usar o véu, é um problema, e se você quer usar barba, também. Além disso, é todo um ambiente não adaptado ao islamismo, o que é normal em um país não muçulmano, mas difícil de viver para um muçulmano."

Indiciado por "formação de quadrilha com fins terroristas", Charaffe el-M., Samir B. e Samy Amimour escaparam do sistema de vigilância no verão de 2013 para irem à Síria, país que já em 2012 Samy Amimour considerava como "a causa mais legítima, em sua opinião". Três mandados de prisão foram emitidos em outubro de 2013 contra os três jovens, em vão. Mas assim mesmo uma audiência será realizada no dia 16 de janeiro de 2016, perante o tribunal correcional de Paris.

Tradutor: Do UOL

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos