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Dente-de-leão e flor de ipê são comestíveis, sabia? Conheça mais

Do UOL, em São Paulo

19/10/2016 06h00

Você conhece aquela planta cuja flor fica em forma de pompom branco e dá para soprar? Talvez já tenha ouvido falar que dá para preparar comida com ela: a dente-de-leão é uma Panc (Planta Alimentícia Não Convencional). Ao lado de outras, como a taioba, a serralha, a beldroega, a capuchinha e a flor de ipê-amarelo, a flor figura entre as plantas que podem ser consumidas, mas não estão em nosso cardápio por falta de hábito ou de conhecimento.

A lista de alimentos inclui folhas, flores, raízes, castanhas e mesmo frutas. Algumas delas estão logo ali no quintal de casa ou na praça, e são tratadas como mato.

As Panc vêm ganhando fama e já apareceram até no reality show de culinária Masterchef. Também são utilizadas por chefs famosos, como a jurada do programa Paola Carosella, ou os internacionalmente reconhecidos Alex Atala e Helena Rizzo. E o prestígio não vem à toa. Sua variedade leva novos sabores e texturas para a mesa.

Mas não é só porque aparecem na TV que se tornaram alimentícias. Muitas dessas espécies fazem parte da culinária popular há muito tempo, especialmente em cidades mais distantes das metrópoles.

"Frutas como cabeludinha, amora vermelha, cambucá, grumixama, maria-pretinha, murici, só não fazem parte do repertório de quem cresceu comprando coisa do supermercado", diz Guilherme Ranieri, gestor ambiental e membro do Grupo de Estudos em Agricultura Urbana.

Para ele, é difícil os caipiras mais tradicionais não conhecerem a capiçoba, o gondó, as cambuquiras, o pepino-do-mato e o almeirão-do-campo.

Segundo o gestor ambiental, estima-se que existam cerca de 10 mil plantas com potencial alimentício no mundo, dentro de um universo de 390 mil espécies.

A onda de redescoberta alimentar, para ele, não tem a ver apenas com os sabores, mas com um olhar de volta a tradições antigas. "As pessoas acabam resgatando na sua história, ou na dos pais e dos avós, as memórias dessas plantas. Ou gostam de explorar coisas novas, o que é ótimo", diz Ranieri, que possui um blog sobre Panc.

Cuidados na colheita

No entanto, incluir uma planta exótica no prato exige cuidados. Aventureiros de primeira viagem podem errar facilmente ao tentar identificar uma espécie e acabar com uma folha tóxica nas mãos.

Para o biólogo André Benedito, as pessoas devem consumir algo "só quando tiverem certeza do que é aquilo". Por isso, é importante procurar auxílio de especialistas. E mesmo sabendo de que planta se trata aquele matinho que está no seu jardim, o ideal é começar consumindo em pouco quantidade. "Quantas pessoas no mundo já consumiram alface para se certificar que é seguro?", exemplifica.

Para começar, é possível também encontrar algumas plantas em feiras orgânicas (sem agrotóxicos), como palma, peixinho, azedinha, mastruço e ora-pro-nobis.

Quem quer desbravar essa natureza pode estudar o que tem em casa. "Descubra os nomes dos matos que sempre nasceram no quintal e você arrancava. Quando menos perceber, estará aprendendo nomes, estudando botânica", indica Ranieri.

Veja cuidados a serem tomados

  • André Benedito

    É fácil de confundir e errar

    Nem todo mato é alimentício. Há plantas tóxicas que não podem ser consumidas. Um exemplo: muitas plantas possuem uma florzinha amarela muito parecida com a flor da dente-de-leão

  • Reprodução

    Pode causar alergia em algumas pessoas

    É o caso da pimenta-rosa, que provoca urticária em quem é sensível. E tem Panc que possui propriedades medicinais, como a tanchagem, o que implica que seu consumo deve ser feito com parcimônia

  • Reprodução

    Poluentes da cidade contaminam plantas

    Tráfego de carros, indústrias e postos de gasolina são fontes de contaminação para as plantas que estão ao redor. Não colete plantas em calçadas e próximo a esses locais. O ideal é colher em uma horta ou no jardim de casa. "A menor das preocupações é o xixi do cachorro", diz Ranieri

  • Eduardo Knapp/Folhapress

    Saiba qual parte é comestível

    Há plantas cujos frutos são comestíveis, mas as folhas são venenosas. Isso vale também para coisas que estão na feira, como o tomate, a berinjela, o jiló e a batata. "É preciso saber o que se está colhendo, ter certeza do que leva à boca. Nunca comer nada sem ter certeza", diz Ranieri.

  • Matosdecomer/Reprodução

    Há muitas plantas e nosso repertório é fraco

    Procure auxílio em livros sobre plantas ou de especialistas. Há grupos no Facebook e sites focados em botânica e identificação de plantas. "Não queira identificar com a planta na mão, prestes a comer. Espere uma semana, se certifique de que é aquilo mesmo", diz André Benedito. Clique neste texto para ver lista de livros de referência Leia mais

  • Fernando Cymbaluk/UOL

    Limpe as plantas na cozinha

    Cozinhe ou coloque em água com cloro para retirar bactérias. Mas lembre-se: não é possível retirar metais pesados e resíduos químicos que impregnam nas plantas expostas aos poluentes de carros, industrias etc. É preciso coletar longe desses locais

  • Shutterstock

    Cultive em casa

    Cultivar em casa após identificar as plantas é a melhor forma de evitar contágios e garantir um consumo seguro. É possível ter pequenas hortas até mesmo dentro de casa. "Muitas Pancs são mais resistentes, menos exigentes e mais divertidas de cuidar", diz Ranieri

Comece a experimentar aos poucos

  • Wikimedia

    Você só come batata?

    Para Ranieri, antes de se aventurar na moda Panc, vale conhecer coisas que já estão no mercado. Para muita gente, inhame, cambuci, cará e maxixe são novidades

  • Instituto Brasileiro de Florestas/Reprodução

    Frutas urbanas

    Outro jeito de variar o cardápio é olhar para cima, em busca das frutas urbanas como nêspera, pitanga, cereja do rio grande e grumixama, que são algumas das espécies facilmente encontradas em cidades

  • Matosdecomer/Reprodução

    Patê de mastruço

    Ir a uma feira de produtos orgânicos, onde se tem contato direto com o produtor, pode ser um caminho para descobertas. Use o mastruço para fazer um patê com ricota. "Possui um sabor picante único", diz Ranieri

  • Ju Nadin/Folhapress

    Feijoada com taioba

    Há uma boa dica de substituição de verduras que cai bem com feijoada. A taioba pode ser usada no lugar da couve.

  • Reprodução

    Polenta verde de ora-pro-nobis

    A ora-pro-nobis é uma planta trepadeira cujas folhas são comestíveis. Podem ser consumidas em saladas, usadas em massas de pães. A dica preciosa de Ranieri: "dá uma polenta verde deliciosa para um almoço de domingo"

  • Reprodução

    O peixinho-da-horta e a cerveja gelada

    O peixinho-da-horta é uma folha aveludada. Ela pode ser consumida empanada e frita. A dica é que harmoniza com uma boa cerveja gelada