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Seca atual em São Paulo é a maior em 45 anos, mostram dados da USP

15.mai.2014 - Homens caminham pelo leito seco de um dos reservatórios do sistema Cantareira - Rogerio Casemiro/Reuters
15.mai.2014 - Homens caminham pelo leito seco de um dos reservatórios do sistema Cantareira Imagem: Rogerio Casemiro/Reuters

Lilian Ferreira

Do UOL, em São Paulo

16/05/2014 06h00

A seca em São Paulo no último período chuvoso, que vai de outubro a março, foi uma das mais graves já registradas. Segundo dados do IAG (Instituto de Astronomia e Geofísica) da USP (Universidade de São Paulo), esta foi a temporada com menos chuvas desde 1969. É o 13º ano mais seco desde que as medições começaram, em 1934, e também a pior desde a criação do Sistema Cantareira, em 1973.

As análises de falta de chuva dependem dos pontos meteorológicos escolhidos para o cálculo. De acordo com o local onde foi contabilizada a quantidade de chuva, tem-se um resultado maior ou menor para indicar quão severa é esta seca atual. No caso, o ponto considerado para a coleta de dados fica no próprio IAG, cuja sede está localizada na capital paulista.

"Os três anos mais secos em 81 anos de dados do IAG USP foram 1941, 1934 e 1964. Lembro também da seca de 1969, quando tinha-se que buscar água de uma nascente próxima. Recebia-se água de caminhão da Prefeitura de Osasco; anterior ao saneamento.Tempo difícil!", diz Augusto José Pereira Filho, professor do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG/USP.

O professor diz que "até novembro, as chuvas foram bem próximas ou acima do normal. A seca atingiu uma área muito significativa do Sudeste. Na região onde está o posto do IAG/USP e a bacia de interesse [que abastece o Sistema Cantareira], os índices ficaram em torno de 50% abaixo do normal".

A Região Metropolitana de São Paulo, onde está o posto do IAG, tende a receber mais chuva em razão da ilha de calor urbano, lembra o professor.

"Chove menos nos entorno da região, onde estão os mananciais que suprem a demanda por água da capital", afirma Pereira Filho. "Todo essa chuva sobre São Paulo poderia ser aproveitada se não fosse a poluição das superfícies (lixo urbano), córregos e rios (esgoto)". 

Pior seca em 3.378 anos é "extrapolação estatística"

Um estudo realizado pelo Centro Tecnológico de Hidráulica e Recursos Hídricos do governo Geraldo Alckmin (PSDB) aponta que uma crise de estiagem tão crítica quanto a registrada no Sistema Cantareira em um período chuvoso tem um "período de retorno" de 3.378 anos.

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Mas esta conta foi feita a partir de extrapolação estatística, ou seja, é uma probabilidade calculada com base em modelos matemáticos, não em um fato real.

"Este número diz respeito a um resultado estatístico. Vê-se quanto choveu nos últimos anos e, se não aconteceu nenhuma vez, dá para extrapolar com contas matemáticas para ver a probabilidade do evento se repetir", diz Willians Bini, da Somar Meteorologia.

A série histórica de chuva registrada na região do Sistema Cantareira e suas vazões afluentes foram medidas em quatro pontos do departamento de águas do Estado.

"O objetivo do estudo era mostrar a severidade da estiagem ocorrida entre outubro de 2013 e março de 2014, que deveria ser chuvoso. Portanto, não se prenda aos números", diz Paulo Nakayama, que realizou o estudo técnico usado pelo governo, que chegou aos tais 3.378 anos por extrapolação estatística. 

Para Nakayama, o que a análise aponta, com certeza, é que nestes pontos, este período foi o mais seco registrado em 85 anos. "Estatísticas podem trazer valores absurdos", explica.

A ideia que deve ser passada pelo estudo divulgado pelo governo é que este foi um "período excepcionalmente seco, fora do curso", salienta o professor da Escola Politécnica da USP.

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Dados da estação de Piracicaba apontam pior seca desde 1984

Já na estação de Piracicaba, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP/ESALQ), que está perto da nascente do rio Piracicaba, secas como a atual acontecem a cada 25 anos, conta Fabio Marin, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas.

"Aqui tivemos 3 secas piores do que a atual: em 1925, 1964 e 1984. Estamos em um ponto que não abastece diretamente o Sistema Cantareira, mas estes dados indicam que a falta de chuva na região pode se repetir daqui 20 anos", diz Marin. "Esta não é uma seca comum, é uma seca severa. Mas o que a gente pode deixar de mensagem é que se nada for feito, podemos enfrentar tudo isso de novo".

Vale lembrar que três dos quatro reservatórios do Sistema Cantareira localizam-se em cabeceiras de rios que alimentam o rio Piracicaba.

Outra pesquisa, da Somar Meteorologia, analisou quatro estações entre a divisa de São Paulo e o sul de Minas Gerais, região das principais nascentes dos rios que alimentam o Cantareira. A conclusão foi que havia uma tendência de declínio no volume de precipitações desde o último trimestre de 2009. 

"Este foi um verão extremamente seco, uma condição atípica de chuva e recordes atrás de recordes de temperaturas altas. Isso junta-se a uma condição ruim de pelo menos 2 anos de chuvas abaixo da média no verão", explica Bini, que lembra que estas contas também excluem os ciclos climáticos, que apontam para períodos de mais seca a cada 20 a 30 anos.

Em dezembro de 2009 o nível dos reservatórios do Sistema Cantareira era de 95% e um ano depois, no mesmo período de 2010, o volume armazenado já havia caído para 75% de sua capacidade. 

"A Sabesp não tinha um serviço de acompanhamento e monitoramento climático. A Somar já vem falando que teríamos problemas de chuvas e até apontou o risco de racionamento", afirma o meteorologista.

Bini prevê que até outubro ou novembro seja possível recuperar um pouco das reservas do sistema, e então esperar que o próximo ciclo chuvoso possa melhorar a condição do Cantareira.

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