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Termoelétrica x desmatamento: emissões no Brasil se mantêm estáveis em 2014

A poluição provocada pelas termoelétricas compensou negativamente a redução do desmatamento na emissão de gases de efeito estufa - Carlos Barria/Reuters
A poluição provocada pelas termoelétricas compensou negativamente a redução do desmatamento na emissão de gases de efeito estufa Imagem: Carlos Barria/Reuters

Do UOL, em São Paulo

20/11/2015 06h00

O Brasil reduziu em 0,9% suas emissões de gases de efeito estufa em 2014, com relação ao ano anterior, aponta novo relatório do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa, divulgado nesta quinta-feira (19) pelo Observatório do Clima (rede que integra diversas entidades da sociedade civil). O resultado, contudo, indica que não foi tão bem aproveitada a queda de 18% na taxa de desmatamento da Amazônia Legal na contribuição do Brasil para o aquecimento global. 

O vilão da atmosfera, que teria impedido a resultado esperado, foi o setor de energia, que elevou em 6% a quantidade de carbono lançada ao ar. Com a emissão de 479,1 milhões de toneladas de CO2, a geração de energia pelos motores de carros e por usinas termoelétricas passa a figurar lado a lado com o desmatamento como principal fonte de gases-estufa da economia brasileira. 

Segundo o relatório, o país emitiu no ano passado 1,558 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente. A diferença de 0,9% em relação ao 1,571 bilhão de toneladas emitidas em 2013 é considerada pelos pesquisadores um sinal de que as emissões no país não subiram e nem caíram: ficaram estáveis. A apresentação dos dados foi feita em cerimônia realizada em São Paulo e contou com a presença da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. 
 
O resultado, ainda assim, é melhor do que o verificado em 2013, quando houve um aumento de 8,2% na emissão de gases de efeito estufa. “Os novos dados consolidam o fim da fase de queda de emissões verificada entre 2004 e 2009. Desde então, as emissões têm flutuado em torno de 1,5 bilhão de toneladas de CO²”, afirma Tasso Azevedo, coordenador do estudo. 
 
A alta verificada há dois anos acompanhou uma aceleração de 28% na taxa de desmatamento na Amazônia, segundo o Observatório do Clima. O observatório do Clima esperava que o efeito inverso fosse observado este ano, com uma considerável queda nas emissões acompanhando a redução do desmatamento. 
 
"A participação das usinas termelétricas na geração de energia para compensar a crise hídrica que afetou as hidrelétricas foi protagonista nesse resultado”, afirma André Ferretti, coordenador-geral do Observatório do Clima. 
 
Dentre os 6% de aumento no setor de energia, a geração de eletricidade apresentou aumento de 23% em suas emissões. Também houve crescimento de 3% nas emissões promovidas pelos veículos automotores. Já a produção de combustíveis - óleo e gás, incluindo frutos da exploração do pré-sal - contribuiu para o resultado com aumento de 6,8% nas suas emissões.
 
Segundo pesquisadores que participaram das estimativas de emissões de gases de efeito estufa em 2014, os dados mostram a importância da continuidade das políticas de controle da devastação na Amazônia para o cumprimento das metas climáticas. Contudo, os especialistas apontam para a necessidade de monitorar o desmate no cerrado. 
 

Sinal amarelo para Paris

Os dados sobre as emissões brasileiras acendem um sinal amarelo para os compromissos que o Brasil quer apresentar na Conferência do Clima de Paris, dizem os responsáveis pela pesquisa. O país pretende se comprometer a realizar reduções absolutas de emissão em toda a sua economia após 2020.
 
“Isso preocupa, porque 2020 é depois de amanhã”, diz Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. “O país precisa fazer uma transição econômica importante se quiser entregar não apenas o que prometeu na INDC [plano climático anunciado pelo Brasil], mas um corte de emissão maior, compatível com a meta de manter o aquecimento global abaixo de 2°C. Com esses níveis de emissão, o espaço para essa transição fica pequeno. Estamos longe da trajetória em que precisamos estar”, conclui. 
 
Já para André Ferretti, é necessário que o país inicie de fato a adoção de um modelo econômico de baixo carbono. “É preciso diversificar nossa matriz energética, investindo em fontes limpas como a eólica e o etanol de segunda geração”, afirma. A presidente Dilma Rousseff anunciou na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas no final de setembro que o país reduzirá em 37% as emissões de gases do efeito estufa até 2025, e em 43% até 2030.

Pastagens e resíduos

No setor agropecuário, as emissões tiveram aumento de 1,2%, chegando a 423,2 milhões de toneladas de CO² equivalente. O resultado, no entanto, sofreria aumento de 25% caso fosse considerado o carbono liberado pelos 60 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil, que não são monitorados.
 
O relatório identificou a necessidade de acrescentar ao cálculo a estimativa do carbono emitido ou sequestrado pelos solos, principalmente nas pastagens. "É no carbono do solo que reside o maior potencial de redução de emissões do setor”, diz Marina Piatto, coordenadora da iniciativa de Clima e Agricultura do Imaflora. Segundo ela, a recuperação de pastagens degradadas e a integração entre lavoura, pecuária e florestas ajudaria o país a alcançar suas metas climáticas. 
 
Menos impactante, o setor de resíduos elevou suas emissões em 2014 em 6,9%, passando de 63,9 milhões de toneladas de CO² equivalente por ano para 68,3 milhões de toneladas. O motivo da alta teria sido o avanço na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que exige a substituição de lixões por aterros sanitários - que emitem mais metano. A redução neste setor poderia ser alcançada com a captura e geração de energia a partir do metano liberado.