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Grupo incentiva consumo de alimentos feios para diminuir emissão de carbono

Reprodução/Facebook/Les Gueules Cassées - Quoi Ma Gueule ?
Imagem: Reprodução/Facebook/Les Gueules Cassées - Quoi Ma Gueule ?

Caroline Chauvet

Em Paris (França)

12/12/2015 06h00

Um grupo chamado "Caras Feias" diz que consumir todos os alimentos que são descartados por não serem visualmente atraentes eliminaria um bilhão de toneladas de carbono em emissões por ano.

"Vamos comer o feio!"

Dentre os vários chamados à ação na conferência do clima das Nações Unidas nesta semana, este por Nicolas Chabanne pode estar entre os slogans mais chamativos.

Chabanne, um empreendedor com laços com os produtores franceses de hortifrútis, está trabalhando às margens da conferência para promover um esforço que ele diz que pode ajudar o clima, ao reduzir o desperdício de alimentos.

Explorando um crescente movimento internacional para venda e consumo de alimentos considerados de aparência ruim para chegarem ao mercado –sejam maçãs menores que o habitual, pimentas achatadas ou queijo camembert disforme– Chabanne promove uma campanha chamada "Gueules Cassées", que poderia ser traduzida como "Aparências Ruins" ou "Caras Feias".

Seu logo é uma maçã sorrindo com um único dente e olho roxo, que Chabanne imprime em selos que os produtores e comerciantes podem afixar em seus produtos menos atraentes e vender a preços reduzidos. Ele vende os selos a poucos centavos de euro cada, mantendo parte do que arrecada e doando o restante a grupos de defesa do consumidor ou ativistas que lutam contra o desperdício de alimentos.

Para usar o selo, o vendedor do produto deve concordar em cobrar pelo menos 30% a menos pelo item do que pelos equivalentes sem defeito.

A eficiência na produção, embalagem e transporte resultante do consumo desses hortifrútis, em vez de seu descarte, poderia eliminar um bilhão de toneladas de emissões de carbono por ano, argumenta Chabanne, e economizar 210 milhões de toneladas de alimentos por ano.

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação estima que um terço dos alimentos do mundo adequados para consumo humano por ano não chega aos consumidores.

Cerca de 800 agricultores e produtores de alimentos estão participando do Gueules Cassées até o momento.

"Estou realmente contente por poder extrair o máximo de tudo o que meu pomar produz", disse Nicolas Benz, um produtor de cerejas que está envolvido no Gueules Cassées desde que Chabanne o iniciou em abril de 2014. Benz disse que o programa lhe permite vender os 10% de suas cerejas que ele nem mesmo colhia antes, já que eram consideradas pequenas demais para a indústria alimentícia.

No final do ano passado, o Gueules Cassées fechou um acordo com a rede multinacional de supermercados francesa Carrefour, que desde abril passou a vender cerca de 85 mil queijos camembert com selos Gueules Cassées. O Carrefour planeja promover os esforços entre todos seus fornecedores no ano que vem.

Recentemente, o fundo de investimento Global Emerging Markets, com sede em Nova York, investiu até 6 milhões de euros para a expansão do programa Gueules Cassées nos países em desenvolvimento.

Há esforços semelhantes de marketing em outras partes. Em San Francisco, uma nova empresa chamada Imperfect Produce (produtos agrícolas imperfeitos) opera um serviço de entrega a domicílio do que descreve como hortifrútis "cosmeticamente contestados". Em Portugal, a cooperativa Fruta Feia vende produtos não fotogênicos obtidos diretamente dos produtores.

Em todo o mundo, "essas ações complementam umas às outras", disse Camelia Bucatariu, uma diretora técnica para desperdício de alimentos da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação.

Chabanne cresceu cercado de pomares, vinhedos e plantações na Provence, no sul da França. Apesar de não ser agricultor, ele trabalhou por algum tempo para a Confrérie de la Fraise –a Irmandade do Morango– que promove produtos de alta qualidade nacionalmente na França.

Mas no início de 2014 ele criou seu próprio negócio, lançando a Gueules Cassées com Renan Even, o presidente de uma pequena distribuidora de hortifrútis, para venda destes.

"Certo dia, ocorreu o clique", lembrou Chabanne. "Eu tinha um amigo que vendia os melhores damascos que você pode imaginar. E eu o vi jogar fora frutas apenas por causa de uma marca na casca causada pelos galhos. Os damascos eram perfeitamente comestíveis. Ele me disse: 'Se eu deixar um destes, toda a caixa será descartada'."