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Mesmo com transposição e chuva, Cantareira tem nível menor que em pré-crise

8.ou.21 - Represa do rio Jaguari, em Vargem (SP), que compõe o sistema Cantareira  - LUIS MOURA/ESTADÃO CONTEÚDO
8.ou.21 - Represa do rio Jaguari, em Vargem (SP), que compõe o sistema Cantareira Imagem: LUIS MOURA/ESTADÃO CONTEÚDO

Letícia Mutchnik

Do UOL, em São Paulo

27/11/2021 04h00

Apesar da época de chuvas e da captação de água do rio Paraíba, o nível do Sistema Cantareira sofreu nova queda nesta semana e chegou a 26,2% do volume útil na sexta-feira (26) — índice menor do que o registrado no mesmo período de 2013, ano pré-crise hídrica em São Paulo.

Na sexta da semana passada (19), o nível do reservatório estava em 26,3% da sua capacidade — abaixo de 30%, o sistema entra na chamada faixa de restrição, quando a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) se vê obrigada a retirar menos água do reservatório. É também quando o armazenamento atinge esse índice que a empresa tem a autorização para retirar água do rio Rio Paraíba do Sul — permissão que foi renovada pelas autoridades no mês passado.

A queda acumulada no sistema Cantareira do início do mês até ontem é de 2%. Cerca de 7 milhões de pessoas são atendidas pelo reservatório na região metropolitana de São Paulo.

Mesmo com a transposição parcial de águas da bacia do rio Paraíba do Sul, o nível atual do Cantareira é alarmante. Em novembro de 2013, na antessala da crise hídrica anterior, o sistema não contava com essa fonte suplementar -- que tem se mostrado muito importante -- e atendia a um número maior de pessoas. Mesmo assim, estávamos em uma situação mais 'confortável' seis anos atrás do que agora. Isso dá uma boa ideia da dimensão da crise atual"
Pedro Luiz Côrtes, professor de pós-graduação em ciência ambiental da USP

Professor do Instituto de Energia e Ambiente, da Universidade de São Paulo, Côrtes diz temer "o prognóstico de que teremos um verão com chuvas abaixo da média, o que vai impactar muito negativamente na quantidade de água que teremos disponível até o final de 2022".

Neste mês, também tem chovido abaixo da média, que é 149 mm. A quatro dias do fim do mês, só choveu 72,3 mm — o que corresponde a 48,5% do esperado. "A recarga [de chuva] mais efetiva costuma acontecer nos meses iniciais do ano. Entretanto, causa grande preocupação o nível atual do sistema, pois ele está bem mais baixo do que em 2013", afirma Côrtes.

Como em 2014 a região metropolitana de São Paulo sofreu racionamento, o cenário atual pode indicar o risco de faltar de água no ano que vem.

Para a Sabesp, não há ameaça de desabastecimento. Por meio de nota, a companha disse que retomada da captação de água da bacia Paraíba do Sul é importante "para dar mais segurança hídrica para as regiões metropolitanas de São Paulo e de Campinas"

"O bombeamento de água da bacia do Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira havia sido interrompido em 3/9 após cumprida a cota anual prevista em outorga e só seria retomado em janeiro de 2022. Devido às baixas precipitações registradas neste ano, a Sabesp foi autorizada pelos órgãos reguladores a retomar de forma regular a transposição, o que vem acontecendo desde 30/10", diz a Sabesp.

Na avaliação do professor da USP, caso as condições do sistema Cantareira hoje fossem similares àquelas de 2013 — que atendia 9 milhões de pessoas à época sem contar com a fonte adicional de água do Paraíba do Sul — o reservatório estaria com o nível abaixo de 20% da capacidade.

Veja o nível dos reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo, segundo a Sabesp

  • Alto Tietê: 38% (0% em relação à semana passada)
  • Guarapiranga: 52,5% (+1,7)
  • Cotia: 40,3% (-1%)
  • Rio Grande: 82,5% (0%)
  • Rio Claro: 48,3% (+3,2%)
  • São Lourenço: 67,6% (+0,4%)