Debate no Rio tem duelo Bolsonaro x PT e ofensas entre Garotinho e juiz

Hanrrikson de Andrade e Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

Uma acalorada troca de acusações entre o veterano Anthony Garotinho (PRP) e o estreante Wilson Witzel (PSC) dominou o debate promovido pelo UOL, pela Folha de S.Paulo e pelo SBT com os candidatos ao governo do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (19). O inusitado duelo acabou tirando o foco dos principais nomes na disputa de acordo com as pesquisas do Ibope e do Datafolha: Eduardo Paes (DEM) e Romário (Podemos).

O debate também foi marcado por refletir em nível estadual o acirramento da política nacional, sobretudo a polarização entre o quadro tido como direita conservadora, a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), e o representante do PT no pleito, Fernando Haddad.

O embate ocorreu quando, no primeiro bloco, a candidata petista ao governo do RJ, Marcia Tiburi, perguntou a Indio da Costa (PSD), cujo partido está coligado com o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), o que ele pensava sobre Bolsonaro. Indio respondeu não só que votará no candidato do PSL, mas disse ainda que ele "vai governar com o povo e para o povo".

Na réplica, Marcia mencionou as polêmicas de cunho machista envolvendo Bolsonaro, e Indio contra-atacou: "Isso tudo é conversa fiada. O PT roubou e explodiu o Brasil. Vou votar no Bolsonaro e não quero sequer que o Haddad chegue ao segundo turno."

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A candidata petista defendeu a legenda e declarou que "existe corrupção em todos os partidos, mas que o discurso da corrupção tem sido usado apenas contra o PT". Citou ainda o fato de que a CGU (Controladoria-Geral da União) e a Lei de Acesso à Informação foram mecanismos criados durante o período no qual o PT esteve à frente da Presidência da República.

Garotinho x Witzel

Coadjuvante na disputa e estreante na política, Witzel, que é ex-juiz federal, atacou o adversário ao questioná-lo sobre seus "antecedentes criminais", em referência à condenação judicial que motivou a impugnação de sua candidatura. O TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro) chegou a reprovar a chapa encabeçada por Garotinho, mas ele conseguiu uma liminar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que, até o momento, o garante na disputa.

Garotinho: 'Eu desafiei e continuo desafiando'

Garotinho, veterano na vida pública e ex-governador do estado, citou a decisão da Corte eleitoral e ironizou o concorrente: "Ainda bem que o Dr. Witzel se aposentou como juiz. Ele não conhece a lei. Dizer que estou inelegível quando acabou de ser dado pelo Tribunal Superior Eleitoral uma liminar me concedendo a suspensão de todos processos."

O pleiteante do PRP também mencionou ter sido ele o autor de denúncias em seu blog contra o ex-governador Sérgio Cabral e outros emedebistas presos na Lava Jato, como o presidente licenciado da Alerj (Assembleia Legislativo do Rio de Janeiro) Jorge Picciani. O candidato ainda aproveitou para alfinetar outro adversário, Eduardo Paes (DEM).

Eu disse onde era casa do Picciani, a fazenda, as barras de ouro, a conta da família do Eduardo Paes. Diga a minha, Dr. Witzel. O senhor não é juiz? Não é homem corajoso? Diga onde tenho dinheiro. Diga onde eu tenho fazenda

Garotinho declarou ainda que Witzel, por ser "conhecedor da Justiça", "sabe que o ônus da prova cabe ao acusador". "Não venha para cá fazer demagogia."

Na réplica, o ex-juiz federal afirmou que Garotinho é "completamente descontrolado" e que "não tem a menor condição de governar o RJ". "Ele sabe muito bem que o dinheiro que foi desviado da saúde mais de 240 milhões de reais foi pra algum lugar ninguém sabe."

Durante o embate, Witzel pediu direito de resposta, mas a direção do debate negou por considerar que não houve ofensa pessoal.

A condenação citada pelo candidato do PSC diz respeito a ação penal na qual Garotinho é réu por desvios de R$ 234 milhões da Secretaria de Estado de Saúde entre os anos de 2005 e 2006, quando sua mulher, Rosinha Garotinho, era a governadora.

O TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) entendeu que houve ato de improbidade administrativa com lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito de terceiros.

Telhado de vidro

Ao longo do debate, vários candidatos tentaram se apegar a escândalos ou investigações envolvendo concorrentes a fim de obter protagonismo.

Assim como já havia ocorrido em debates anteriores, Indio, por exemplo, pautou sua estratégia em ataques ao ex-aliado Eduardo Paes, de quem foi secretário enquanto este esteve à frente da Prefeitura do Rio (entre 2009 e 2016).

Já Tarcísio Motta iniciou o evento atacando Romário sobre o fato de Rodrigo Bethlem, político que foi alvo da Lava Jato no Rio, ser um colaborador de campanha.

O pleiteante do Podemos foi confrontado sobre uma investigação referente a supostos crimes financeiros. Novamente, Romário respondeu que construiu seu patrimônio como jogador de futebol e negou que tenha usado parentes como laranjas para fins de ocultação de bens e movimentações financeiras irregulares.

Reafirmou, ainda, o argumento que tem repetido desde o início da campanha: "O meu dinheiro, eu dou para quem eu quiser."

Paes vira alvo no 3º bloco

Fora do foco dos adversários nos dois primeiros blocos do debate à frente numericamente nas pesquisas de intenção de voto, Paes tornou-se alvo preferencial dos concorrentes na terceira parte do programa.

A gestão dele à frente da Prefeitura do Rio foi tema da pergunta dirigida por Garotinho a Indio da Costa. O candidato do PRP pediu mais detalhes sobre o cenário encontrado por Indio ao assumir a Secretaria de Obras na gestão de Marcelo Crivella (PRB), que é sucessor de Paes no governo municipal.

Foi a deixa para que Indio definisse as contas do município como "terra arrasada, com dívidas que comprometem a gestão pública até 2042", e absolvesse Crivella de críticas.

Em sua tréplica, Garotinho se referiu a Paes como 'Eduardo Cabral', ironizando a amizade entre o ex-prefeito e o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral. Ele perguntou se Indio definiria o ex-prefeito como "corrupto ou mentiroso".

O candidato do PSD disse que "Paes tem vício da mentira. Quando é conveniente, beija a mão da ex-primeira dama Marisa Letícia, depois de atacar o filho dela em sua honra, na Câmara dos Deputados. Que fala mal de Maricá e depois visita o local como se nada tivesse acontecido".

Em suas considerações finais, Paes disse que não havia pedido direitos de resposta por entender que aquele espaço devia ser ocupado por propostas e não por trocas de acusações.

O debate

Participaram do debate no Rio oito candidatos: Anthony Garotinho (PRP)Eduardo Paes (DEM)Indio da Costa (PSD)Marcia Tiburi (PT)Pedro Fernandes (PDT)Tarcísio Motta (PSOL)Romário Faria (Podemos) e Wilson Witzel (PSC).

O elenco foi definido conforme a legislação eleitoral, que determina a participação de pleiteantes das legendas que possuem no mínimo cinco parlamentares no Congresso.

Os debates realizados pelo UOL, Folha e SBT repetem parceria de eleições passadas. Este ano, já foram promovidas sabatinas com parte desses candidatos no primeiro semestre, na fase de pré-campanha. O debate com presidenciáveis acontece no próximo dia 26.

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