Operação Lava Jato

Prisão de Lula infla racha em debate, e Paes explica apelido na Lava Jato

Hanrrikson de Andrade e Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado por corrupção na Lava Jato, esquentou o debate com os postulantes ao governo fluminense, realizado pela TV Globo nesta terça-feira (2). O cenário político nacional e o acirramento da disputa entre direita e esquerda geraram confrontos entre os postulantes -- foram ao menos oito pedidos de direito de resposta concedidos devido a ataques, acusações e ofensas pessoais.

Ao responder a Marcia Tiburi (PT), Indio da Costa (PSD) afirmou que ela representava uma "quadrilha que roubou o Brasil" e que Lula quer "mandar" no país de dentro da cadeia. Ela obteve direito de resposta e retrucou dizendo que Lula foi "vítima" de uma "operação" para impedir a candidatura dele à Presidência.

Não faço parte de nenhuma quadrilha. Faço parte do partido mais querido do Brasil, do maior partido da América Latina.

Marcia Tiburi, candidata do PT ao governo do Rio

A petista ainda exaltou o presidenciável do PT, Fernando Haddad, a quem chamou de "melhor ministro da Educação que o Brasil já teve".

No fim do evento, os adversários se uniram para reclamar da postura de Indio, que se envolveu na maioria dos embates. Eduardo Paes (DEM), Romário Faria (Podemos), Tarcísio Motta (PSOL) e Wilson Witzel (PSC) tiveram momentos de confronto com o oponente do PSD. Paes brincou com a situação.

"Eu quero garantir uma coisa para você, eleitor. Acho que todos nós tínhamos que ter esse pacto. Eu, se eleito for, não vou ter o Indio de secretário. Nós temos que fazer um manifesto contra isso", disse, referindo-se ao fato de Indio já ter exercido a função de secretário em governos distintos. A última experiência nesse sentido foi como chefe da pasta de Obras do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB). A declaração de Paes arrancou risos e aplausos da plateia.

Lula voltou à baila quando Marcia, em resposta a Paes, citou a "farra dos guardanapos" --episódio que virou símbolo dos escândalos de corrupção do MDB fluminense e da gestão do ex-governador Sérgio Cabral.

A petista disse ainda que "lastimava a ausência de Anthony Garotinho" no debate --o representante do PRP foi barrado pelo TSE. Paes, que também já foi aliado de Lula, reagiu com ironia: "A sua saudade do Garotinho mostra que você gosta mesmo de um presidiário, Marcia" --em referência indireta ao ex-presidente, detido em Curitiba.

Na réplica, a petista acusou o oponente de ser "injusto e grosseiro" e lembrou a antiga parceria entre Lula e o hoje postulante ao governo pelo DEM, chamando-o de "traidor". "Você é injusto e grosseiro, Paes. Existem bandidos à solta e presidiários decentes. Algo similar ao que aconteceu com Lula pode acontecer contigo, em breve. É uma pena que você aja assim."

Outro momento acalorado do debate ocorreu quando o psolista Tarcísio Motta questionou Paes sobre o fato de ter sido mencionado em delação da Odebrecht. Paes, ex-aliado de Cabral, respondeu que "todo mundo na vida pública está sujeito a investigações" e negou ter recebido recursos de caixa dois da empreiteira em uma conta bancária no exterior --objeto de apuração na Lava Jato.

Na réplica, Tarcísio mencionou o apelido que foi atribuído a Paes na delação da Odebrecht: "Nervosinho". O candidato do DEM acusou o adversário do PSOL de "desespero" eleitoral e justificou a alcunha.

A própria adjetivação Nervosinho, se for ver a explicação, já que tá querendo dar tanto crédito a quem ataca, [seria] um sujeito que não dava intimidade, que não era afeito a conversas, intimidades com empresários ligados à prefeitura.

Eduardo Paes, candidato do DEM ao governo do Rio

Paes também buscou se dissociar da imagem de Cabral: "Não vou ficar aqui respondendo por aqueles que já têm seus crimes comprovados".

Reprodução/TV Globo
Witzel (à esq.) e Romário (à dir.) duelam no debate da TV Globo com os candidatos ao governo do RJ

Briga entre Romário e Witzel

Romário e Witzel protagonizaram o confronto mais tenso do debate ao trocarem acusações sobre suas alianças. O concorrente do Podemos chegou a dizer que o Rio não precisava de pessoas como o oponente.

Realmente [o senhor] não tem condição de assumir o nosso estado. Nós não precisamos de pessoas como você, a gente precisa de homem de atitude, não de frouxo.

Romário, candidato do Podemos sobre o adversário Wilson Witzel

O embate começou quando Romário questionou Witzel quanto à sua transferência para o Rio, à época em que ele era juiz federal --em outras ocasiões, Witzel afirmou que o pedido ocorreu devido a ameaças de morte que vinha recebendo. Em sua resposta, Witzel citou Waldemar da Costa Neto, presidente do PR, que já foi preso e chegou a usar tornozeleira eletrônica --o partido tem a vice na chapa de Romário.

Em sua tréplica, Romário lembrou o suposto relacionamento estreito entre o ex-presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) Jorge Picciani (MDB) e o empresário Mário Peixoto, que, segundo afirmou Romário, teria escrito o programa de governo do adversário. As trocas de acusações provocaram reações da plateia, que se manifestou com aplausos.

Ao ter pedido de resposta aceito depois de ter sido chamado de "frouxo", Witzel afirmou sobre a reação da plateia.

Eu acho que a claque que está rindo na plateia, deve ser do mesmo nível do candidato Romário. Que falta com respeito à democracia. A gente vê o nível das pessoas que estão ao seu lado. É com essas pessoas que você pretende governar o Rio.

Wilson Witzel, candidato do PSC ao governo do Rio

Disputa por eleitores de Bolsonaro

Pedro Fernandes (PDT) e Paes fizeram dobradinha (um perguntou para o outro) logo no começo do debate --isso se repetiu outras três vezes ao longo do evento-- e abordaram questões como a burocracia no estado e a segurança pública fluminense. O pedetista afirmou que, se eleito, vai acabar com os postos de vistoria do Detran (Departamento de Trânsito do Estado), o que levaria a uma economia, segundo ele, de R$ 200 milhões.

Paes disse concordar com a ideia. "Não tenho dúvida alguma que essa é mais uma questão que o estado dá um jeito de permanentemente atrapalhar a vida do cidadão", respondeu.

O primeiro embate foi protagonizado por Tarcísio e Romário. O ex-jogador de futebol foi questionado sobre o apoio declarado de seu vice, Marcelo Delaroli (PR), à candidatura de Jair Bolsonaro (PSL).

"No último sábado, centenas de milhares de mulheres foram às ruas para denunciar um projeto machista, racista e autoritário, encarnado em Jair Bolsonaro. Não existe assunto mais importante na política brasileira do que esse hoje. E o seu vice está pedindo voto abertamente para esse projeto autoritário. Quero saber: sua candidatura defende que mulheres ganhem menos do que homens? Sua candidatura defende a tortura, Romário?", questionou o psolista.

O concorrente do Podemos respondeu ser "a favor da democracia" e defendeu a liberdade de expressão e voto de Delaroli. "Se o candidato a presidente dele [em referência ao vice] é o Bolsonaro, não sou eu que tem que fazer isso. Não sou eu que posso chegar para ele e falar em quem ele tem que votar", disse Romário, sem mencionar apoio ao presidenciável Álvaro Dias, do mesmo partido que ele.

Outro momento tenso ocorreu em interlocução entre Wilson Witzel (PSC) e Indio da Costa (PSD). Ambos se atacaram mutuamente. Witzel perguntou ao adversário como ele atua na questão do combate à corrupção depois de ter sido mencionado em delações. Indio negou ter cometido qualquer ato ilícito e chamou o oponente de "mentiroso".

"Eu sou ficha limpa. O Witzel está preocupado porque eu estou subindo nas pesquisas e ele está com dificuldade", completou.

Na resposta a Indio, Witzel declarou que ele "está agora surfando na onda do Bolsonaro", em menção ao fato de Indio ter declarado apoio ao presidenciável do PSL. "Você não conhece absolutamente nada da pauta da direita", disparou o pleiteante a governador pelo PSC.

Indio retrucou com ironia, referindo-se ao fato de o ex-juiz federal ser estreante na política.

Quando deixei o mandato para combater o PT, nem fralda ele [Witzel] tinha ainda na política.

Indio da Costa, candidato ao governo pelo PSD

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos