De nulo a Ciro e Bolsonaro: indecisas contam como decidiram seu voto

Mirthyani Bezerra e Aliny Gama

Do UOL, em São Paulo, e Colaboração para o UOL, em Maceió

  • Arte UOL

A dois dias da eleição, a dúvida em quem votar para presidente da República que pairava sobre os pensamentos de cinco eleitoras que o UOL acompanhou durante as quatro semanas que antecedem a votação chegou ao fim. Duas decidiram votar no candidato Ciro Gomes (PDT); uma escolheu o deputado Jair Bolsonaro (PSL); uma resolveu votar nulo e outra continua indecisa.

E elas não estão sós -- o número de indecisos permanece alto. No começo de setembro, o percentual chegava a 37%, e caiu agora para 22%, de acordo com dados do Datafolha.

A indecisão, no caso das eleitoras acompanhadas pela reportagem, era motivada por desalento e descrença com a política – uma eleitora cogitou nem ir votar no primeiro turno

A pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (4) aponta que o segundo turno deverá ser disputado entre o deputado Jair Bolsonaro (PSL) e candidato Fernando Haddad (PT). Bolsonaro marcou 35% e Haddad, 22%. Mas os dois líderes também são campeões no quesito rejeição: 45% não votariam em Bolsonaro e 40% rejeitam o petista.

A liderança de Bolsonaro em todas as pesquisas e o aumento das intenção de voto para ele fizeram duas eleitoras escolherem votar em Ciro Gomes (PDT) para que o militar reformado não vença as eleições logo no primeiro turno. As eleitoras acompanhadas pelo UOL já ventilavam a escolha do voto útil, anti-Bolsonaro, mas ainda aguardavam mais pesquisas para se definirem.

Veja como as eleitoras decidiram seu voto:

Andreia Cristina Rodrigues – Ibertioga (MG)

Arquivo pessoal
A relações públicas Andreia Cristina Rodrigues, 48, de Ibertioga (MG)
Nestes últimos dias, a relações públicas Andreia Cristina Rodrigues, 48, resolveu que vai de voto útil no candidato Ciro Gomes. A decisão dela ocorreu na semana passada, quando observou as pesquisas eleitorais e viu que Gomes seria o único que conseguiria vencer Bolsonaro no segundo turno. Ela afirma que o "voto de coração" era para João Amoêdo (Novo), mas, como ele está com poucos pontos nas pesquisas, decidiu que "entre o ruim e o péssimo", votará em um candidato que tenha força para derrubar Bolsonaro no segundo turno e, ao mesmo tempo, tenha bagagem para governar o Brasil.

"Decidi estrategicamente porque não gostaria de votar em Bolsonaro e nem Haddad. Acredito que o nome de Ciro Gomes pode ter uma reviravolta para ele ir para o segundo turno, apesar das pesquisas. Fora dessa polarização, que é prejudicial ao país, Ciro é o candidato que consegue vencer Bolsonaro no segundo turno", explica a relações públicas.
Andreia conta que ainda não se sente estimulada para ir votar, mas teve de escolher um nome porque o voto é obrigatório. "Nesta última semana estou triste, sem motivação, mas temos que escolher entre o ruim e o péssimo. Então vou de ruim porque #EleNão [fazendo alusão a campanha entre mulheres que se uniram para votar contra Bolsonaro]. Estou decepcionada porque acho que a maioria das pessoas está lutando por outras bandeiras, que não é a gestão do nosso Brasil", ressalta.

Ela disse que acompanhou os protestos do último fim de semana por notícias em meios de comunicação, mas não participou de nenhum. Andreia também criticou a polarização entre Bolsonaro e Haddad, afirmando que os eleitores estão "lutando por outras bandeiras, que não é a gestão do nosso Brasil". "Acho que os protestos influenciam no voto. Podem alterar as pesquisas e o resultado das eleições, uma vez que, com uma grande participação nas ruas, o candidato se fortalece. No caso, acredito que o Haddad foi beneficiado com os protestos contra Bolsonaro."

Diana Tavares Braga – Porto Velho (RO)

Arquivo Pessoal
A auxiliar de produção Diana Tavares Braga, 36, de Porto Velho
Nessa última semana, a auxiliar de produção Diana Tavares Braga, 36, chegou a pensar em votar em Geraldo Alckmin (PSDB) para presidente, na esperança que ele pudesse vencer o candidato do PT, Fernando Haddad, ou o do PSL, Jair Bolsonaro, que lideram as pesquisas de intenção de votos. Mas continua indecisa sobre em quem votar para presidente faltando dois dias para o primeiro turno.

Nessas três semanas em que vem sendo acompanhada pela reportagem, Diana mudou de comportamento: não acompanhava debates, entrevistas, horário eleitoral gratuito, mas agora está antenada até nas últimas pesquisas de intenção de votos. Diz que, por isso, ainda cogita votar no tucano, porque segundo ela ele teria chances de vencer no segundo turno contra Haddad ou Bolsonaro.

"A dúvida ainda paira no ar. Indecisa sim, até domingo quem sabe eu não decida. Se não, não vou votar em ninguém", disse.

Durante esse tempo já passou pela cabeça dela votar em Marina Silva (Rede) ou em outro candidato competitivo contra Bolsonaro. Desconhecia Haddad, mas já vinha dizendo não querer um petista de novo na Presidência da República. "O Haddad é o 'Lula Junior'. Não tem como querer ele", disse na última entrevista.

"Bolsonaro fala muito só em segurança, mas não fala em educação, lar para pessoas carentes, não fala em expectativa de emprego. O negócio dele é falar que bandido bom é bandido morto", criticou.

Eliana Canedo – Catalão (GO)

Arquivo Pessoal
A pedagoga Eliana Canedo, 47, de Catalão (GO)
Há duas semanas, a diretora pedagógica Eliana Canedo escolheu seu candidato: Ciro Gomes. De indecisa, ela passou a fazer campanha para ajudar Ciro a bater Haddad e conseguir ir para o segundo turno contra Bolsonaro.

"Fechei com o Ciro. Até estou fazendo meio que uma 'campanha' a favor dele, com receio do Bolsonaro [ganhar]", afirma Eliana.

Na primeira semana que foi entrevistada pela reportagem, ela disse que estava desmotivada e que "nenhum candidato estava, naquele momento, atendendo a necessidade do Brasil". Mas bastaram mais 15 dias, leitura das propostas dos candidatos e análises das pesquisas para ela decidir o destino de seu voto.

"É o momento de exercer o nosso direito. Tem gente fazendo campanha para as pessoas não irem às urnas, mas é o contrário, é agora que temos que ir", afirmou Eliana.

A decisão dela ocorreu depois de analisar o perfil de um candidato que trouxesse propostas com governabilidade e que também tivesse força de vencer Bolsonaro. Depois disso, ela viu que Ciro Gomes se encaixava.

"Na realidade o que me convenceu, em primeiro lugar, é que dentre as propostas, das que são possíveis de serem colocadas em prática, ele [Ciro Gomes] que tem as propostas mais sensatas. Eu acho que ele for eleito vai ter base para governar. Além disso, tem outro ponto fundamental: poucos candidatos que tem condição de ganhar o Bolsonaro. E Ciro é um deles. Então, além de concordar com as propostas o meu voto é útil", destaca Canedo.

Sobre o cenário Bolsonaro e Haddad concorrendo ao segundo turno, ela afirma que fica de "mãos atadas porque nenhum dos dois me atende. Estamos vivendo momento que não está fácil."

Maria Solene da Silva Nascimento  - Caruaru (PE)

Arquivo pessoal
A costureira Maria Solene da Silva Nascimento, 44, de Caruaru (PE)
Os 45 dias de campanha não foram suficientes para que os candidatos ao cargo de presidente convencessem a costureira Maria Solene do Nascimento Silva, 44, escolher um nome para votar. Ela decidiu que votará nulo porque está desacreditada dos políticos e nenhum candidato ao cargo apresentou propostas concretas.

Até a semana passada, ela estava indecisa, analisando as propostas dos candidatos em debates, guias eleitorais e conversando com amigos que tinham o voto definido. Falava em nomes como Ciro Gomes, Marina Silva e Geraldo Alckmin, mas o medo escolher "um governante errado" a fez decidir votar nulo. Segundo o Datafolha, 6% dos eleitores informaram que devem votar nulo ou em branco no próximo domingo.

"Falta credibilidade dos candidatos. Eles falam tudo muito bonito, mas eu acho que é só para ganhar o voto porque não vão fazer nada que prometeram quando estiverem no governo. São muitas promessas e resultado nenhum. Está chegando o dia da votação e vejo que eles só apresentam propostas sem sentido, que não vão praticar", afirma Solene.
Apesar de ter definido que vai anular seu voto, Solene diz que se preocupa em ver que a eleição deste segundo turno está polarizada entre Bolsonaro e Haddad.

Solene não acompanhou os protestos anti nem pró-Bolsonaro, ocorridos no último fim de semana. "Esses protestos não mudaram minha opinião sobre os candidatos porque não tenho como acreditar nas propostas. A cada dia, as coisas pioram. Estou indo embora por conta do desemprego aqui em Pernambuco e indo em busca de trabalho em outro estado porque aqui as coisas estão difíceis. Me sinto enganada pelos políticos porque queremos o melhor para o Brasil e não fazem nada. A política só dá vergonha", diz Solene.

Em busca de uma vida melhor, ela vai se mudar para Indaial (SC), onde tentará um se empregar como costureira em uma das indústrias de vestuário que existem na cidade.

Sandra Maria Aparecida de Oliveira – Itanhém (SP)

Arquivo Pessoal
A diarista Sandra Maria Aparecida de Oliveira, 65, de Itanhaém (SP)
Na reta final, a diarista Sandra Maria Aparecida de Oliveira, 65, decidiu dar seu voto para o candidato Jair Bolsonaro. No início do acompanhamento do UOL, ela pensava em votar no militar reformado, mas tinha ficado confusa depois de ter "ouvido umas coisas sobre ele."

"Agora, depois de tantas coisas que aconteceram, dos debates, de algumas coisas que eu escutei, eu acredito que vou votar no Bolsonaro mesmo", diz ela. Ela alega que os demais candidatos "não mudam nada".

"São sempre as mesmas coisas que eles falavam antes, aquelas coisas que não muda nada, uns falam até coisas absurdas de fazer. Mas eu acho que Bolsonaro, quem sabe, pode mudar alguma coisa. Então, meu voto vai ser dele."

Com a vida corrida, entre trabalho e atividades familiares, a diarista disse que não teve tempo de acompanhar muitas informações sobre a eleição presidencial. Ela conta que soube dos protestos contra Bolsonaro, mas não tomou conhecimento dos movimentos a favor dele.

"Pelo jeito eu acho que é melhor ficar nesse daí [Bolsonaro], porque, se ele não ganhar, pelo menos a gente vai ver em quem vai votar no segundo turno", explicou.

Logo que foi entrevistada, ela contou que há um ano tentava consulta médica com um especialista em nefrologia e só conseguiu em outro município, mas, mesmo assim, não fez o exame que o médico passou. Devido à situação que enfrenta, ela afirma que "o presidente tem que governar apara todo mundo, tem que concorrer no Brasil inteiro, socorrer todo mundo."

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