Eleitoras indecisas oscilam entre desânimo e voto útil para presidente

Mirthyani Bezerra e Aliny Gama

Do UOL, em São Paulo, e em colaboração para o UOL, em Maceió

Em duas semanas, mais de 140 milhões de brasileiros deverão comparecer às seções eleitorais de todo o país. Segundo a pesquisa do Datafolha divulgada na quinta-feira (20), 30% do eleitorado ainda não sabe em que vai votar para presidente, apesar da proximidade com o dia do primeiro turno, marcado para 7 de outubro.

O número é alto, mas vem caindo nas últimas semanas. Dez dias antes da divulgação dessa pesquisa, por exemplo, a parcela de indecisos correspondia a 37% dos eleitores. Especialistas dizem que esta é a tendência: quanto mais perto do primeiro turno, mais eleitores definirão seus votos. E foi exatamente isso o que aconteceu uma das mulheres indecisas que passaram a ser entrevistadas pelo UOL.

Desde a divulgação da pesquisa do Datafolha em 10 de setembro, o UOL entrevista mulheres de diversas opiniões políticas, da direita à esquerda, que ainda não sabem em quem votar para presidente. Sem pretender ser uma amostra científica, o objetivo é entender o que as fará se decidir sobre algum dos candidatos, até o segundo turno das eleições. Passada uma semana desde a publicação do primeiro texto, elas estão mais inteiradas do cenário político e já vão desenhando caminhos para suas escolhas.

Foi preciso uma semana para que a pedagoga Eliana Canedo, 47, de Catalão (GO) -- 260 quilômetros de Goiânia --, se decidisse por Ciro Gomes (PDT). O principal motivo alegado por ela foi voto útil. Segundo o Ibope, 32% dos eleitores admitem a chance de recorrer a ele para decidir em quem votar para presidente.

[Um] ponto fundamental para a minha decisão foi que poucos candidatos que têm condição de ganhar contra o [Jair] Bolsonaro [PSL]. E Ciro é um deles. Então além de concordar com as propostas [de Ciro], o meu voto é útil"

Apesar de ainda estarem indecisas, esse foi o mesmo discurso adotado por quatro das cinco mulheres que toparam continuar conversando com o UOL sobre seu processo de escolha: votar em quem for mais competitivo contra o candidato que rejeitam, seja no primeiro ou no segundo turno -- o chamado voto útil. Segundo o Ibope, Bolsonaro sofre forte rejeição do eleitorado feminino. Metade das mulheres diz não votar no candidato do PSL "de jeito nenhum".

De acordo com a última pesquisa do Datafolha, divulgada no dia 20 de setembro, 16% das mulheres disseram que vão votar em Jair Bolsonaro para presidente, no cenário espontâneo -- quando o entrevistador não apresenta os nomes que estão postulando ao Planalto.

Eliana Canedo – Catalão (GO)

Arquivo Pessoal
A pedagoga Eliana Canedo, 47, de Catalão (GO)
Foi depois da conversa com o UOL na semana passada que a pedagoga passou a se ater mais às propostas dos candidatos. "Avaliei melhor e decidi que vou votar no Ciro [Gomes]. O que me convenceu é que dentre as propostas, das que são possíveis de serem colocadas em prática, ele que tem as mais sensatas. Eu acho que ele for eleito vai ter base para governar", disse.

Ela conta, no entanto, que outro ponto essencial nessa escolha é a possibilidade de Ciro Gomes ganhar de Jair Bolsonaro no segundo turno. Segundo o Datafolha, Ciro Gomes lidera as intenções de voto na última etapa do pleito.

"As pessoas precisam praticar esse voto útil, tem que ter consciência em relação aos rumos do país", opina. E acrescenta:

"Tem gente que diz 'não vou votar, estou indignado'. Mas a gente não pode se furtar a isso. É o momento de exercer o nosso direito."

A situação se complicará para ela se, em vez de Ciro Gomes, o agora candidato do PT, Fernando Haddad, for para o segundo turno. "Se for Bolsonaro e Haddad, aí eu fico de mãos atadas, porque nenhum dos dois me atende", contou.

Sobre Haddad, ela diz não ter nada contra ele como pessoa e político. "Ele como ministro fez um trabalho muito bom, disso não tem do que falar. Se fosse somente ele, eu não teria o menor problema em votar nele. Mas a gente sabe que foi lançado porque Lula não pode ser candidato. Ele sendo eleito, será que ele governaria?", questiona.

Diana Tavares Braga – Porto Velho (RO)

Arquivo Pessoal
A auxiliar de produção Diana Tavares Braga, 36, de Porto Velho
A auxiliar de produção de 36 anos disse estar pendendo ir à sessão eleitoral ou para votar nulo ou para votar contra Jair Bolsonaro. "Falta poucas semanas e ainda não sei em quem votar. Posso até ir lá votar nulo ou votar num [candidato] para poder derrubar o Bolsonaro. Não sei. Até lá não sei realmente o que fazer", disse.

Mas Diana confessa ainda não estar a par de todos os acontecimentos envolvendo as eleições alegando falta de tempo. Não sabia que Fernando Haddad agora é o candidato do PT à Presidência. "Você que está me dizendo agora. [...] Ele é do partido do Lula, não é? Mas eu não sei muito sobre ele. Agora só o fato de ele ser próximo do Lula me deixa com o pé atrás", disse.

O número de eleitores que já sabem que Haddad é apoiado por Lula cresceu na última semana, segundo o Datafolha, passando de 39% para 64%.

Maria Solene da Silva Nascimento – Caruaru (PE)

Arquivo pessoal
A costureira Maria Solene da Silva Nascimento, 44, de Caruaru (PE)
Ver o horário eleitoral com mais frequência fez com que a costureira de 44 anos, que vive a 130 quilômetros do Recife, ficasse mais confusa sobre em quem votar para presidente. Disse que já pensou em votar em Ciro, mas que ele é "esquentado demais", falou que a origem pobre e o fato de Marina Silva ser mulher poderiam fazer com que ela fosse a escolhida, mas que ela, assim como João Amôedo (Novo), não têm chances de ganhar.

"Você vê [Geraldo] Alckmin, educado, com palavras bonitas, mas não escapa de denúncias. O outro [Jair Bolsonaro] quase morre de uma facada, o que mostra que a ideia de liberar armas não está certa", disse.

Penso que tenho que votar em alguém para Bolsonaro não ganhar, mas pior de tudo é que não vejo alternativa. Qual é o menos ruim dos piores?"

Assim como Diana, não chegou a Solene a informação de que Haddad foi oficializado como candidato do PT, mas diz estar "desconfiada de qualquer candidato" do PT. "Perdi meu emprego, estou numa situação difícil que até o Bolsa Família foi cortado", diz.

Andreia Cristina Rodrigues – Ibertioga (MG)

Arquivo pessoal
A relações públicas Andreia Cristina Rodrigues, 48, de Ibertioga (MG)
A relações públicas de 48 anos, que vive a 216 quilômetros de Belo Horizonte, disse que ainda está confusa, mas que já sabe que precisa "pensar estrategicamente para que tenha um segundo turno em que Bolsonaro possa perder", tanto que já desistiu de votar em João Amoedo.

"No primeiro turno meu voto seria de coração, no Amoêdo, mas nas pesquisas ele não tem chance", diz afirmando que só vai sair para votar pelo seu "dever cívico". Ela diz que somente mais próximo ao dia da eleição é que vai saber em que vai votar e usou o voto útil como argumento já para falar sobre segundo turno.

Será em quem tiver força em derrubar Bolsonaro. Eu estava com discurso que não votaria no PT, mas se der Bolsonaro e Haddad, voto no PT"

Sandra Maria Aparecida de Oliveira – Itanhaém (SP)

Arquivo Pessoal
A diarista Sandra Maria Aparecida de Oliveira, 65, de Itanhaém (SP)
A diarista de 65 anos, que vive a 114 quilômetros da capital paulista, também ficou sabendo pela reportagem que Haddad tinha sido oficializado como candidato do PT, mas disse que já esperava que isso acontecesse e afirmou já ter "ouvido falar nele" por ter sido prefeito de São Paulo.

"O que ele quer agora? Um cargo maior para mandar mais, como Lula?", questionou.

Sandra não ficou feliz com um vídeo que recebeu pelo WhatsApp, que segundo ela mostra a candidata a vice de Haddad, Manuela D'Ávila (PCdoB), participando da Marcha das Vadias.

Era uma passeata que fizeram, como era mesmo o nome? [pergunta para o marido] Era Marcha das Vadias, era sobre o PT, sobre a vice do PT [Manuela D'Ávila]. Não gostei disso e eu já não gosto do PT"

Ela continua em dúvida sobre em quem votar, diz que não tem acompanhado o horário eleitoral gratuito nem os debates, por falta de tempo, e porque o marido não gosta de política. Mas ainda cogita votar em Bolsonaro.

"Se ele vir a ganhar, não vai governar sozinho. Vai ter que ter uma equipe avaliando as decisões dele. Presidente não tem poder absoluto. Acredito que se ele quiser tomar uma decisão errada não vai ter ninguém que apoie", disse.

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