Neopetista, Dilma vira estrela pós-mensalão e deixa governo para 1ª campanha
Filiada ao PT apenas em 2001, Dilma Vana Rousseff não imaginou ao subir a rampa do Palácio do Planalto em 1º de janeiro de 2003 que sete anos mais tarde seria candidata a suceder o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ministra de Minas e Energia era uma coadjuvante diante de quadros históricos do partido, como José Dirceu, Antonio Palocci e Luiz Gushiken. Os escândalos trataram de afastar os rivais internos e ela acabou gerente de um governo popular ao qual representará nas urnas.
A ex-guerrilheira que se tornou figura chave para o setor de energia do Rio Grande do Sul, onde fez carreira, chamou a atenção de Lula, então presidente eleito, na equipe que trabalhou na transição com o presidente Fernando Henrique Cardoso. O perfil centralizador, técnico e exigente a alçou à pasta que lida com a mais importante estatal do país, a Petrobras, e coordena o Luz para Todos, um programa de alta sensibilidade social.
A escolha da gestora da pasta de Minas e Energia um ano após o apagão e o racionamento de energia foi estratégica: o governo queria proximidade com o mercado. Dilma advogou por um modelo que não concentrasse tudo nas mãos do Estado. A ponte estabelecida com setores empresariais também se fortaleceu no lado político, já que o PT tratou com mais deferência a ex-pedetista por conta do programa que visa levar energia elétrica a áreas mais pobres e isoladas do país.
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A interlocução com o capital e a gestão do programa social foram decisivas para que Dilma, em 2005, se tornasse ministra-chefe da Casa Civil no lugar de Dirceu, abatido pelo escândalo do mensalão. A coordenação política do governo, no entanto, deixou a sua pasta e ficou acomodada no Ministério das Relações Institucionais. Estava criado o caminho para a ex-secretária da Fazenda de Porto Alegre e ex-ocupante da pasta de Energia do governo Olívio Dutra (PT) se transformar em gerente do governo.
Suas cobranças aos ministros e assessores, às vezes de forma ríspida, se tornaram populares. Comandou o núcleo desenvolvimentista do governo – ao lado do ministro da Fazenda, Guido Mantega – contra o conservadorismo do Banco Central em sua política de juros. Também teve problemas com a pasta do Meio Ambiente, em especial com a ex-ministra Marina Silva, sua provável adversária nas eleições de outubro. Com Carlos Minc teve menos rusgas públicas. Mas as teve.
A guarida em suas posições, nem sempre bem aceitas no governo ou no PT, é dada pelo apoio popular de mais de 70%, segundo pesquisas de opinião, ao governo Lula. O presidente indicou Dilma por sua capacidade gerencial embora a ministra nunca tenha disputado uma eleição na vida. Desta vez, além de Marina, deve enfrentar o governador de São Paulo, José Serra, líder nas sondagens de intenção de voto e veterano nas urnas.
Gerente do governo
Em outubro de 2007, Dilma já aparece nas pesquisas de intenção de voto. Por falta de quadros disponíveis e afinados com Lula, o presidente antecipou sua escolha para o processo de outubro deste ano. Com essa decisão em mente, transformou a neopetista em principal gerente do seu governo, comandando o ambicioso plano de investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
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Dois anos depois de lançado, segundo estimativas, a iniciativa não entregou nem 50% das obras que prometeu – o que gerou acusações de oposicionistas de que esse se trata de um plano de marketing. Dilma refuta as críticas ao PAC e coordena também o programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida” e as iniciativas do petróleo pré-sal. Sempre ao lado de Lula, passou os últimos anos frequentando atos do governo para desfilar conhecimento técnico, acumulado nos seus 52 anos, e fazer pré-campanha.
Mais pela exposição ao lado de Lula do que por seu desempenho – uma vez que a maioria dos brasileiros, segundo as pesquisas, a conhecem pouco – Dilma avançou nas sondagens de intenção de voto e hoje está a nove pontos de Serra. Seus aliados apostam na alta popularidade do presidente e na estabilidade da economia para eleger a primeira mulher presidente da República. As ações da ministra como gerente do governo, esperam, só serão notadas quando a campanha chegar à televisão, em julho.
Suspeitas da oposição
A primeira rusga de Dilma com a oposição surgiu em 2008, após a divulgação de um suposto dossiê anti-tucano. A peça teria sido montada pela Casa Civil e nela eram discriminados gastos da ex-primeira-dama Ruth Cardoso e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A oposição acusou a ministra de montar uma planilha com essas informações para intimidar os rivais na CPI dos Cartões Corporativos.
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Por conta desse assunto, a ministra depôs em uma comissão do Senado e teve ali seu momento de maior enfrentamento com os adversários de Lula até agora. Ao lembrar da tortura à qual foi submetida nos anos 70, rebateu duramente o senador José Agripino Maia (DEM-RN). O parlamentar insinuou que a ministra mentia ao negar a autoria do dossiê por ela mesma ou por sua secretária-executiva, Erenice Guerra.
Erenice sucede Dilma na Casa Civil e deve depor a parlamentares sobre o assunto ainda neste ano eleitoral.
Outro episódio rumoroso é a acusação de Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal. Em 2009, ela afirmou que foi a um encontro secreto com Dilma e saiu de lá com a incumbência de acelerar investigações sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O caso não foi provado, mas estará na artilharia da oposição contra a ministra que, surpreendentemente, tentará subir a rampa em 2011 para receber do inventor de sua candidatura a faixa presidencial.
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