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Em artigo, Serra faz ataque indireto a Haddad e chama Enem de "festival de trapalhadas"

O ex-governador de São Paulo José Serra lê carta durante oficialização de sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo  - Adriano Vizoni/Folhapress
O ex-governador de São Paulo José Serra lê carta durante oficialização de sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo Imagem: Adriano Vizoni/Folhapress

Mário Rossit

Do UOL, em São Paulo

08/03/2012 16h53

O ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, publicou artigo nesta quinta-feira (8) no jornal “O Estado de S.Paulo”, em que classifica o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como um “festival de trapalhadas, injustiças, arbitrariedade, subjetivismo e falta de critério na correção das provas”. A prova aplicada aos estudantes de todo o país enfrentou problemas quando Fernando Haddad, pré-candidato do PT na capital, era ministro da Educação.

O texto do tucano faz críticas à política educacional do governo federal e põe em curso a estratégia antecipada por Serra quando lançou sua pré-candidatura, em 29 de fevereiro passado, de nacionalizar o debate na disputa à prefeitura paulistana. Em carta que oficializava sua entrada na corrida eleitoral deste ano, Serra dizia que "São Paulo é a maior cidade do país. E é aqui, neste ano, que se travará uma disputa importante para o futuro do município, do Estado e do país".

No artigo publicado no “O Estado de S.Paulo”, o ex-governador não cita Haddad, mas afirma que “as críticas corretas e sensatas [feitas ao Enem] foram consideradas tentativas de sabotagem. A incompetência flerta frequentemente com o autoritarismo”. Em janeiro deste ano, quando ainda era ministro, Haddad afirmou, no programa de rádio “Bom dia, ministro”, que a prova era alvo de “atentados”. "Estamos enfrentando tentativas de atentado contra o exame", afirmou na ocasião.

Em 2009, a prova teve de ser suspensa por conta do vazamento de todo o exame. Em 2011, alunos de um colégio em Fortaleza (CE) tiveram acesso a questões antes de realizar o teste.

Haddad foi procurado, por meio de sua assessoria de imprensa, mas até o momento não se manifestou.

Para o cientista político da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Valeriano Costa, o artigo do tucano "dá a largada na disputa eleitoral". "Considero que esse artigo prepara o clima para a campanha", afirma. Costa diz ainda que é certo que a atuação de Haddad no MEC (Ministério da Educação) será o alvo de mais críticas ao ex-ministro. "O interessante é que Haddad aparece em pesquisas com 3% da preferência. O que ocorre é que todo mundo sabe que ele vai crescer, assim como ocorreu com a [presidente] Dilma [Rousseff]", afirma o cientista político. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve papel fundamental na vitória de Dilma. Ele também atua na campanha de Haddad.

Carlos Melo, professor de sociologia do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), de São Paulo, afirma que Serra tem focado o debate em temas nacionais. "Ele [Serra] faz uma crítica [no artigo] ao seu adversário e ao PT. É do jogo", diz. Segundo Melo, o fato de os apontamentos de Serra virem bem antes do início do processo eleitoral não é surpresa. "Todos os partidos se organizam muito tempo antes das eleições", afirma.

Mercadante

Em seu artigo, o ex-governador de São Paulo também criticou o atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante. “O mais recente exemplo dessa inconsistência [da política nacional para o setor] é o Plano Nacional de Educação 2011-2020, resumido pelo novo titular da Educação no Senado, Aloizio Mercadante. A superficialidade e a confusão das falas do ministro afligem aqueles que consideram a educação o principal desafio brasileiro neste século”, escreveu Serra.

O tucano criticou, em seu texto, a compra de tablets pelo MEC. “A distribuição de material eletrônico, sem bons guias curriculares e programas de formação e qualificação dos professores, é dessas firulas atrás de manchetes. O governo Lula fez isso em 2005, com laptops --‘Um Computador por Aluno’, lembram? O fracasso foi retumbante.” Em fevereiro, Mercadante anunciou a distribuição de 600 mil tablets para 58 mil escolas.

O MEC foi procurado pela reportagem do UOL para comentar o artigo do tucano, mas até o momento não se manifestou.