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Pressionada por eleições e Supremo, Dilma visita Senado para estancar crise na base

A visita de Dilma Rousseff hoje ao Senado tem como pano de fundo a crise na base aliada - Sergio Lima/Folhapress
A visita de Dilma Rousseff hoje ao Senado tem como pano de fundo a crise na base aliada Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Maurício Savarese

Do UOL, em Brasília

13/03/2012 06h01

A justificativa oficial é a homenagem ao Dia Internacional da Mulher, o marco dos 80 anos do voto feminino no Brasil e o recebimento do prêmio Bertha Lutz. Mas a visita da presidente Dilma Rousseff ao Senado nesta terça-feira (13) também tem como pano de fundo a crise na base aliada que tem causado derrotas do governo tanto em Brasília como na construção de alianças para as eleições municipais deste ano.

Nos bastidores, petistas e peemedebistas admitem que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de criar restrições para a aprovação de medidas provisórias e a proximidade das eleições municipais criaram dificuldades para Dilma, principalmente porque ela não tem a mesma habilidade do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, para demandas políticas. “Agora que o governo está pressionado por uma questão que é de calendário e outra que veio do Judiciário, quem estava incomodado, falou”, disse um peemedebista.

Um petista conciliador afirmou que a presidente “vai ter de conversar mais e ceder um pouco para não perder aliados em um ano de eleições municipais importantes para o projeto Dilma 2014”, referindo-se a uma possível candidatura para a reeleição. Se os peemedebistas querem mais do que cinco pastas e a Vice-Presidência, com Michel Temer, os petistas querem manter os 16 cargos de primeiro escalão e cobiçam o Ministério do Trabalho, ocupado há pouco pelo presidente do PDT.

A necessidade de Dilma agir aumentou na semana passada, depois que senadores do PMDB ajudaram a rejeitar a recondução do diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, ao cargo. Poucos dias antes, mais de 50 dos 76 deputados do partido assinaram uma carta sugerindo alforria. Na segunda-feira (12), a presidente tomou a primeira medida da reestruturação e trocou seu líder no Senado.

O fracasso na votação levou Dilma a substituir o senador Romero Jucá (PMDB-RR), no cargo desde 2006 no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, por Eduardo Braga (PMDB-AM). “Jucá deveria ter saído logo depois da derrota, que foi causada pelo partido dele”, disse Lindberg Farias (PT-RJ). “Se ele não sabia do clima ruim dos peemedebistas com o governo e com os senadores petistas, deveria ter avisado antes da votação.”

A deferência que Dilma fará aos senadores nesta terça-feira não aconteceu no governo Lula nem na crise do mensalão, detonada em 2005 após denúncias que partiram exatamente de sua base aliada no Congresso. “Ela está fazendo certo. Todos nós já fomos até ela”, disse um peemedebista ouvido pelo UOL. Lula compareceu à Câmara dos Deputados basicamente para tomar posse e fazer seus primeiros discursos como presidente eleito e, quatro anos depois, reeleito.

O passo seguinte de Dilma pode ser a substituição do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, por um nome ligado ao PMDB. Ainda haveria chance, segundo um interlocutor da presidente, de que o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, se mude para essa pasta com mais recursos e abra espaço para o PR –que se afastou de Dilma durante a crise que culminou na demissão do ministro Alfredo Nascimento.

A sessão está marcada para 10h, no plenário do Senado, e também serão agraciadas a viúva do militante Luiz Carlos Prestes, Maria do Carmo Ribeiro; a primeira senadora do Brasil, Eunice Mafalda Michiles; a socióloga Rosali Scalabrin, da Comissão Pastoral da Terra; e a professora Ana Alice Alcântara da Costa, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Todas contribuíram para a ampliação dos direitos femininos.