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Delegado da PF vê Demóstenes no primeiro escalão da quadrilha de Cachoeira

Maurício Savarese

Do UOL, em Brasília

08/05/2012 19h07

Em depoimento secreto à CPI mista (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investiga as relações de Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários, o delegado Raul Alexandre Marques Sousa, da Polícia Federal, indicou que o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) estava no topo da organização. De acordo com o policial, responsável pela Operação Vegas e ouvido nesta terça-feira (8) por membros da comissão, também aparecem com destaque no grupo os deputados Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO).

Segundo parlamentares que ouviram o delegado, Demóstenes não era "um simples empregado". Em mais de mil horas de conversas do contraventor, entre 2007 e 2009, o senador aparece diversas vezes --inclusive pedindo que Cachoeira bancasse despesas suas com um avião. O depoimento de Sousa ainda teria deixado implícito que Cachoeira atuou como sócio oculto da construtora Delta, repleta de contratos em diversos Estados e também no governo federal e hoje investigada pela PF.

Entenda as suspeitas envolvendo Demóstenes Torres

"Não podemos revelar o que disse o delegado, mas saio mais convencido de que o senador Demóstenes e os deputados Leréia e Sandes Júnior faziam parte dessa organização criminosa", disse o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). "Não vejo possibilidade alguma de o Senado mantê-lo presente entre nós. Não resta nenhuma dúvida do envolvimento dele."

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) concordou. "Os fatos que o delegado trouxe sobre o senador Demóstenes confirmam o que já circulava, mas reforçam a convicção da responsabilidade dele", disse. "Os deputados tinham uma interação menor com o Cachoeira. O principal braço político, ficou claro, era o Demóstenes, que funcionava como uma espécie de organizador dos interesses da quadrilha."

A Operação Vegas não chegou a ser concluída: em 2009 o inquérito foi enviado a uma subprocuradora da República e só ressurgiu como parte das investigações da Operação Monte Carlo. Na quinta-feira (10), falará à CPI o delegado responsável pela ação, Matheus Rodrigues. Em outra sessão falarão à CPI, também em sigilo, os procuradores da República Daniel de Rezende Salgado e Lea Batista de Oliveira, que acompanham a operação pelo Ministério Público Federal. Cachoeira está preso em Brasília.

Holofotes

De acordo com membros da comissão, os depoimentos sigilosos inviabilizam os holofotes para parlamentares que possam estar mais interessados na audiência de televisão do que em extrair informações importantes. Além disso, informações da Operação Vegas ainda não divulgadas permaneceriam seguras. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) discordou: "Tudo que for aqui falado vai vazar".

Os próprios delegados já haviam sinalizado à CPI que prefeririam ser ouvidos em uma sessão sigilosa, mas não enviaram um pedido formal. "Se transformássemos essa sessão em algo público poderá não haver nenhum efeito", disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). A sugestão da reunião secreta foi feita pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO) e pelo deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF).

Os parlamentares que integram a comissão já têm acesso ao inquérito em uma sala monitorada por câmeras de segurança. De acordo com a secretaria da CPI, os mais de 170 requerimentos apresentados pelos integrantes da comissão só serão votados no dia 17 de maio, dois dias depois do depoimento de Carlinhos Cachoeira, que foi agendado para o dia 15.

Apesar de um bate-boca inicial para evitar que a sessão fosse secreta desde o início com a votação do pedido para escutar os delegados e os procuradores, o clima entre os parlamentares foi de bom humor. Depois de o deputado Silvio Costa (PTB-PE) concordar com a sugestão de uma reunião pública para ouvir os organizadores das operações, Miro elogiou: "Pela primeira vez numa CPI você acertou! Tem vodca nesse seu copo aí?"

Os parlamentares também se divertiram com a demora do presidente da comissão para contar os votos no requerimento. Os únicos irritados foram a senadora Abreu e o deputado Ônyx Lorenzoni (DEM-RS), que teriam sugerido a sessão secreta para ouvir os delegados e procuradores, mas na hora da votação acabaram acompanhando o pedido por uma sessão aberta.

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