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Conhecida por "dança da pizza", Angela Guadagnin reafirma que "mensalão é uma farsa"

Angela Guadagnin (PT), vereadora por São José dos Campos, que ficou conhecida pela dança da pizza - Divulgação
Angela Guadagnin (PT), vereadora por São José dos Campos, que ficou conhecida pela dança da pizza Imagem: Divulgação

Priscila Tieppo

Do UOL, em São Paulo

27/06/2012 06h00

Vereadora eleita em 2008 e pré-candidata à reeleição em São José dos Campos (97 km de São Paulo), Angela Guadagnin (PT) é lembrada por um gesto incomum no plenário da Câmara dos Deputados, ocorrido em 2006: ela, que então era deputada, dançou após a absolvição do colega de partido João Magno, suspeito de envolvimento no caso do mensalão.

O gesto, que ela classifica como “apenas uma demonstração de alegria para um amigo”, ficou conhecido como a “dança da pizza” ou da impunidade.

Para a petista, a repercussão negativa do ato é culpa da mídia, já que, segundo ela, foi julgada sem fazer parte do processo por um ato de alegria e "não de comemoração da impunidade". Angela reafirma ainda, o que já dizia desde aquela época: “o mensalão é uma farsa”.

Angela Guadagnin ficou conhecida pela "dança da pizza"

Ontem, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski avisou ao presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, que seu voto sobre o processo do mensalão está pronto, liberando o caso para ser julgado a partir do início de agosto.

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  • Arte/UOL

O esquema conhecido como mensalão foi deflagrado em denúncias do então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que afirmava que deputados da base governista estariam recebendo repasses de verbas para aprovar leis, uma espécie de “mesada”. 

Em entrevista ao UOL, Angela disse que sua atitude no plenário inviabilizou sua reeleição como deputada federal, mas que ter sido eleita em 2008 para ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de São José dos Campos, onde já foi prefeita, “mostra a confiança do povo” em seu trabalho.

Leia a entrevista:

UOL - No ano passado, a senhora emitiu um comunicado em que afirmava que o mensalão era uma farsa. A poucos meses do julgamento final, a senhora continua achando isso?
Angela Guadagnin - Inicialmente se faz necessário que conceituemos brevemente o que se trata por “mensalão”. Essa nomenclatura foi criada pelo ex-deputado Roberto Jefferson para representar a acusação que à época fazia de “repasses periódicos do governo à base aliada com a finalidade de obter votações favoráveis”. Isso não ocorreu, conforme, inclusive, afirma em sua defesa o próprio Jefferson. Portanto, reafirmo: o “mensalão” é uma farsa.

Por sua vez, o PT e outros partidos em razão do deficitário e criticável sistema de financiamento eleitoral vigente, estiveram diante de infrações eleitorais e administrativas envolvendo o repasse de recursos eleitorais não contabilizados, com a finalidade de financiar campanha e processos eleitorais. Não são fatos que adentram a esfera criminal, estando adstritos a violações eleitorais.

Quem são as principais vítimas, na sua opinião, deste julgamento do mensalão?
Até o presente momento, em minha opinião, as vítimas são o Estado democrático de direito e os direitos e garantias fundamentais, visto que, diante de um conturbado processo de julgamento político, alguns parlamentares foram julgados, condenados, perderam seus mandatos, e vêm sendo execrados publicamente, sem que se apresentem claramente provas concretas de que tenham realizado atos que possam ser tipificados como crime. Inclusive, é nesse sentido o relatório elaborado pelo ministro [do STF] Joaquim Barbosa acerca das acusações.

O fato de ter externado sua alegria com uma dança, quando houve a absolvição de João Magno, atrapalhou sua carreira política?
A repercussão do ocorrido naquele momento inviabilizou minha reeleição para deputada federal, que representou uma perda na representatividade da região. Não ter sido reeleita em nada me afetou, sou médica por formação, opção e missão, e resolvi que iria continuar com minha vida, inclusive reforçando a minha vontade de melhorar a realidade das pessoas.

Não posso negar a minha decepção pessoal de perceber que minha história política, naquele momento, fora pulverizada pela falsa expressão de que eu comemorava a impunidade, o que é uma mentira que povoa a cabeça dos desprovidos de caráter e dos que se dispõem a ser massa de manobra deles.

A senhora ainda é lembrada como a deputada da “dança da pizza”?
Ter sido eleita vereadora é a prova de que a população de São José reconhece e confia no meu trabalho, mas, mesmo assim, algumas pessoas ainda se deixam influenciar pelo discurso daqueles que apoiam a campanha de difamação promovida pela mídia e não reconhecem o projeto de transformação que o Brasil sofreu após o governo Lula.
Estas mesmas pessoas tentam dizer que eu represento a impunidade, o que não é verdade, já que em minha vida pública nunca sofri nenhuma condenação.

Fique de olho: vereador é tão importante quanto prefeito

Se os réus forem absolvidos, qual será a atitude da senhora?
A minha atuação política sempre foi pautada na busca pela justiça. Acredito nas instituições brasileiras, creio na seriedade do Supremo Tribunal Federal e na competência de seus ministros. A absolvição dos acusados é algo que espero, pois, conforme apontei quando era membro da Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, não existiram “repasses periódicos do governo à base aliada com a finalidade de obter votações favoráveis”, portanto, não existiu o que se convencionou chamar de “mensalão”.

Espero que cada um dos acusados seja julgado de forma técnica, na medida da sua participação individualizada, ou da não participação, em cada um dos atos descritos pela acusação e que o julgamento sirva para ampliar o arcabouço técnico que sustenta o Estado de direito e a democracia.

Assim, não há que se falar em qualquer atitude de minha parte diante da absolvição dos acusados, e até mesmo da condenação, vez que a questão não está em minhas mãos. Fiz o que entendi justo quando me coube, em minha atuação na Comissão de Ética da Câmara.

A senhora foi eleita em 2008 para vereadora em São José dos Campos. Quais os projetos foram feitos em favor da cidade?
Quando prefeita de São José dos Campos, sempre priorizei a saúde e a assistência social. Nesse sentido, meu primeiro projeto, e o que considero um dos mais importantes, foi a implantação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (SAMU), que foi aprovado e está em vias de ser implantado na cidade e na região.

Apresentei ainda outros projetos voltados à área da saúde como: a implantação do Centro de Especialidades Odontológicas e Laboratório de Próteses Dentárias no município, também apresentei a criação de serviço especializado para o atendimento dos pés das pessoas com diabetes, lei de prevenção e combate ao bullying, lei para a criação de hospital geriátrico especializado.