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CPI do Cachoeira ouve sócia de empresa fantasma e ex-presidente do Detran de Goiás

O bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira - Sérgio Lima/Folhapress
O bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira Imagem: Sérgio Lima/Folhapress

Fábio Luís de Paula

Do UOL, em São Paulo

15/08/2012 10h46Atualizada em 15/08/2012 12h40

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira se reuniu na manhã desta quarta-feira (15) para ouvir os depoimentos de três pessoas suspeitas de envolvimento no esquema do empresário com agentes públicos e privados: Hillner Braga Ananias, ex-segurança do ex-senador Demóstenes Torres, o ex-presidente do Departamento de Trânsito (Detran) de Goiás Edivaldo Cardoso de Paula, e a empresária Rosely Pantoja.

O primeiro a depor foi Cardoso, que logo de início já anunciou que seguiria orientações de seus advogados e ficaria calado. "Minha convocação foi como testemunha, mas seguindo orientações de meu defensor técnico, eu permanecerei em silêncio", disse. Então, o vice-presidente da CPI, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), o dispensou.

Diversos integrantes da comissão protestaram contra a dispensa da testemunha, pois queriam fazer as perguntas mesmo sabendo que ele poderia não responder. O senador Pedro Taques (PDT-MT) criticou a decisão do tribunal. "O STF, com essa decisão, diz que praticamos ameaça aos depoentes", afirmou. Segundo ele, O salvo-conduto só ocorre quando uma autoridade pode ofender a liberdade do cidadão ou ameaça de ofensa ao cidadão, o que não seria o caso na CPI, que respeita a Constituição.

Rosely foi a segunda depoente a entrar na sessão. "Não vim com advogado, estou aqui sozinha. Fiquei sabendo do uso de meu nome há cerca de dois meses, através de um jornalista. Estou aqui para ajudar no que der", disse no início de seu depoimento.

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), disse que a Polícia Federal enviará os documentos que ainda faltam até 24 de agosto. Uma delegação esteve na tarde de terça-feira (14) com o diretor-geral da PF, Leandro Daiello, e cobrou a entrega dos documentos.

Reportagem polêmica

Mais cedo, os parlamentares abriram a sessão discutindo uma matéria veiculada hoje no jornal Folha de S. Paulo, que aponta que a CPI arquivou a apuração de empresas de fachada da Delta. Alguns criticaram a notícia. Teixeira reiterou que a informação está errada, uma vez que não houve arquivamento. "Aprovamos ontem 105 requerimentos, o que mostra um avanço", disse.

De acordo com a reportagem, a CPI "praticamente sepultou uma de suas mais importantes linhas de apuração" e engavetou cerca de 250 requerimentos, entre eles os que determinavam a quebra de sigilo de empresas supostamente de fachada usadas no eixo Rio-SP pela empreiteira Delta.

O comando da CPI também afirmou que não estão descartadas a análise de requerimentos para a quebra de sigilo bancário e fiscal de dez empresas de fachada usadas pela empreiteira no eixo.

Os pedidos não votados ontem poderiam elucidar o que as firmas fizeram com o montante de ao menos R$ 200 milhões, recebidos da empreiteira por empresas desse eixo.

Ainda segundo o jornal, a decisão de não verificar essas contas vai gerar uma situação inusitada, pois os parlamentares vão inquirir o empresário Adir Assad, que controla parte dessas empresas, no dia 28, sem informações sobre suas movimentações financeiras.

Outra investigação abandonada se refere a empresas de fachada controladas por Cachoeira nos Estados Unidos. Com engavetamentos, a CPI foca só empresas usadas por Delta e Cachoeira no eixo Goiás-DF.

O prazo para o relatório final da comissão é 23 de outubro.

Depoimentos

Ananias, que teve o mandato cassado em julho sob acusação de favorecer Cachoeira, foi convocado por ter o nome citado em ligações telefônicas captadas pela Polícia Federal (PF) durante as investigações da operação Monte Carlo. Ananias virá munido de habeas corpus obtido no Supremo Tribunal Federal (STF) garantindo o direito de permanecer calado.

Segundo o autor do pedido de convocação, senador Pedro Taques (PDT-MT), as escutas telefônicas indicam que Ananias ia à casa de Cachoeira pegar dinheiro em espécie.

Edivaldo Cardoso foi convocado por aparecer em gravações da Polícia Federal (PF) garantindo o repasse de verbas do Estado para uma das empresas de Cachoeira e também pela suspeita de ter sido indicado ao cargo pelo empresário. Edivaldo  também impetrou habeas corpus junto ao STF, mas o processo segue em segredo de Justiça, motivo pelo qual o conteúdo não foi divulgado.

Já Pantoja é sócia da empresa Alberto & Pantoja Construções que, segundo a PF, é uma empresa de fachada usada para triangular pagamentos ilegais da construtora Delta.

Inicialmente, também seria ouvido hoje o ex-policial aposentado Aredes Correia Pires, mas ele não foi localizado pela Polícia Legislativa. Ele teria recebido um dos aparelhos de rádio Nextel distribuídos pelo grupo na tentativa de evitar grampos. O seu depoimento foi remarcado para a próxima quarta-feira (22).

O ex-diretor-geral Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antonio Pagot vai prestar depoimento à CPI no dia 28 de agosto. No mesmo dia, será ouvido o empresário Adir Assad, acusado de lavagem de dinheiro.

O depoimento do ex-dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, ficou marcado para o dia 29, mesmo dia em que será ouvido o engenheiro Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ex-diretor da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) e ligado ao PSDB de São Paulo.

*Com Agências Brasil Câmara e Senado