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Marina Silva admite "alianças pontuais" e diz que foco do novo partido "não é só eleição"

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

16/02/2013 12h40Atualizada em 16/02/2013 23h06

A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva afirmou neste sábado (16), em evento em Brasília, que o movimento que encabeça para a criação de um partido, que se chamará Rede Sustentabilidade, nasce de uma insatisfação com o modelo político atual, no qual as legendas são pressionadas por sindicatos, ONGs, alianças com outros partidos e patrocinadores de campanha. No entanto, ela não descartou apoiar ideias e projetos de partidos da base governista ou da oposição desde que eles tenham conceito semelhante aos defendidos pelo seu futuro partido. "Podemos fazer alianças pontuais", declarou.

“Nem posição nem situação, nós precisamos de pessoas que tenham posição. Se Dilma fizer algo bom para o país, nossa posição será favorável. Se estiver contra o Código Florestal, nossa posição é contrária”, disse. “Parece ingênuo, mas não tem nada de ingenuidade.”

A ex-senadora destacou que as bases da nova legenda não surgiram “do nada”, elas têm origem das forças descontentes dos movimentos sociais e das experiências exitosas de seus futuros membros oriundos de legendas como: PT, PSB, PPS, PSDB e PSOL.

"Somos diferentes, não somos a mesma coisa e esta é a [nossa] maior riqueza. Não é mais uma liderança única, mas lideranças  multicêntricas. Não é um movimento de arco. É de arco e flecha. Só espero que eu não seja o alvo”, disse, provocando risos da plateia lotada.

A proposta, ressaltou ela, é questionar o modelo anterior e as estruturas verticalizadas. "Saímos de um ativismo dirigido pelos sindicatos, pelas ONGs, pelo DCE (grupos de movimentos estudantis), com a modernização dos meios, de modernização do ativismo autoral”, afirmou. 

Marina como candidata

“O que está [em discussão] é um partido para questionar a si próprio. E tem que ser assim. Não pode ser um partido para eleição, [isso] não é o principal. Estamos com uma nova visão de mundo, de sujeito político, que não é mais expectador da política. Esse sujeito é o protagonista”, afirmou Marina.

Em seguida, porém, a ex-senadora e atual vereadora Heloisa Helena (PSOL-AL) discursou e arrancou gritos da plateia típicos das campanhas eleitorais: “Brasil, urgente! Marina presidente”, lançando publicamente Marina Silva para presidente da República em 2014.

“Quero ter a honra e a possibilidade de estar neste partido e quero dar a oportunidade para o Brasil e ver [Marina Silva] disputando a eleição presidencial”, afirmou, destacando que está feliz por ser um “soldado conduzido” por Marina.

A mais de um ano das eleições presidenciais, os possíveis concorrentes da presidente Dilma Rousseff, até o momento, ainda não foram tão explícitos em oficializar suas intenções para a disputa, nem a própria presidente.

Entre os nomes mais cotados pelos partidos estão o do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e do presidente do PSB nacional e governador de Pernambuco, Eduardo Campos. A Justiça eleitoral estipula que os candidatos só podem iniciar suas campanhas três meses antes do pleito.

Apoio

O ex-ministro da Cultura e cantor Gilberto Gil e o ator Wagner Moura gravaram vídeos em apoio à iniciativa, que foram apresentados aos participantes do evento.

Na mensagem, Gil disse que a iniciativa da ex-colega de ministério durante o governo Lula é uma tentativa de "requalificar" a política que se pratica no Brasil. "Aquele abraço para você e para todos que estão em Brasília, neste momento que tenta qualificar e requalificar a direção politica do nosso trabalho, do trabalho que você lidera no Brasil. Desejo boa sorte e felicidade nesta nova empreitada", disse o compositor.

Gil não foi à Brasília para o encontro, que acontece em um centro de eventos, por estar acompanhando a mãe, que está internada em Salvador (BA).

Já Moura defendeu ser viável uma política partidária sem fisiologismos, sem “toma lá, dá cá”, e ofereceu ao novo partido “todo seu apoio”.

Gil e Wagner Moura apoiam novo partido de Marina Silva

Sobre o novo partido

Com uma proposta inusitada de estatuto, que impõe restrições a doações de empresas e limita a 16 anos o tempo de mandato parlamentar de um filiado, Marina Silva, terceira colocada na corrida presidencial de 2010, com 20 milhões de votos, mira a disputa ao Palácio do Planalto em 2014.

Para poder participar do pleito pelo novo partido, será preciso coletar ao menos 500 mil assinaturas de eleitores em nove Estados, conforme exigência do Tribunal Superior Eleitoral, e apresentar o pedido de registro da legenda até setembro deste ano.

Os coordenadores do futuro partido estão otimistas e esperam conseguir todas as assinaturas em três meses. Para isso, irão lançar mão de uma estratégia utilizada na campanha da Marina em 2010: angariar voluntários que divulguem a sigla e ajudem na coleta de assinaturas. Locais com grande circulação de pessoas, como universidades, praças centrais das cidades e saídas de estação de trem e metrô também deverão ganhar atenção especial para fazer o marketing da legenda.

O desafio, porém, deverá ser conseguir apoio político de outras siglas para viabilizar efetivamente a candidatura. Diversos correligionários foram sondados para aderir à nova legenda, mas apenas quatro nomes de peso confirmaram a filiação: a ex-senadora e atual vereadora de Maceió Heloisa Helena (PSOL-AL), os deputados federais Walter Feldman (PSDB-SP), Alfredo Sirkis (PV-RJ) e Domingos Dutra (PT-MA).

Outros parlamentares, como os deputados federais Reguffe (PDT-DF) e Alessandro Molon (PT-RJ), também prometeram apoio, inclusive na coleta de assinaturas, mas, segundo suas assessorias, permanecerão nos respectivos partidos --situação idêntica à do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que se manifestou favorável à proposta, mas, por enquanto, ficará no PT.

Também deverão ser procurados os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Pedro Taques (PDT-MT) e Cristovam Buarque (PDT-DF), além da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP).

Os fundadores da sigla estimam que o processo de formação do partido deva levar seis meses.