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Em evento em Brasília, Marina Silva oficializa neste sábado lançamento de seu novo partido

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

16/02/2013 06h00

Com uma proposta inusitada de estatuto, que impõe restrições a doações de empresas e limita a 16 anos o tempo de mandato parlamentar de um filiado, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva apresentará oficialmente neste sábado (16) as principais linhas do novo partido que pretende criar.

Terceira colocada na corrida presidencial de 2010, com 20 milhões de votos, Marina mira a disputa ao Palácio do Planalto em 2014. Para poder participar do pleito pelo novo partido, será preciso coletar ao menos 500 mil assinaturas de eleitores em nove Estados, conforme exigência do Tribunal Superior Eleitoral, e apresentar o pedido de registro da legenda até setembro deste ano.

A tarefa não deve ser difícil. Os coordenadores do futuro partido, que provisoriamente se chama “Rede”, estão otimistas e esperam conseguir todas as assinaturas em três meses. Para isso, irão lançar mão de uma estratégia utilizada na campanha da Marina em 2010: angariar voluntários que divulguem a sigla e ajudem na coleta de assinaturas. Locais com grande circulação de pessoas, como universidades, praças centrais das cidades e saídas de estação de trem e metrô também deverão ganhar atenção especial para fazer o marketing da legenda.

O desafio, porém, deverá ser conseguir apoio político de outras siglas para viabilizar efetivamente a candidatura. Diversos correligionários foram sondados para aderir à nova legenda, mas apenas quatro nomes de peso confirmaram a filiação: a ex-senadora e atual vereadora de Maceió Heloisa Helena (PSOL-AL), os deputados federais Walter Feldman (PSDB-SP), Alfredo Sirkis (PV-RJ) e Domingos Dutra (PT-MA).

Outros parlamentares, como os deputados federais Reguffe (PDT-DF) e Alessandro Molon (PT-RJ), também prometeram apoio, inclusive na coleta de assinaturas, mas, segundo suas assessorias, permanecerão nos respectivos partidos --situação idêntica à do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que se manifestou favorável à proposta, mas, por enquanto, ficará no PT.

Após a fundação do partido, também deverão ser procurados os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Pedro Taques (PDT-MT) e Cristovam Buarque (PDT-DF), além da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP).

Estatuto

O encontro de hoje, que acontece em um centro de eventos de Brasília, dá a largada na maratona para atrair correligionários para se filiarem à legenda. Cientes das dificuldades, os fundadores da sigla estimam que o processo de formação do partido deva levar seis meses.

Um dos entraves pode ser justamente o estatuto provisório, que deve ser aprovado hoje. Na proposta, fica proibido receber doações de empresas dos setores de bebida alcoólica, agrotóxicos, cigarros e armamentos. Além disso, veta que os parlamentares da sigla exerçam mais do que 16 anos de mandato e permite que pessoas sem vínculo partidário disputem cargo de deputado e vereador pela sigla.

O deputado Walter Feldman admite que, com tantas regras, possa ser mais difícil chegar a um consenso, mas, por outro lado, defende as resoluções. “A ideia de priorizar a contribuição pública para o partido e restringir a privada evita a criação de situações desviantes”, afirma.

"Identificação de sonhos"

As propostas da nova sigla também têm sido vistas com um caráter um tanto quanto utópico, o que pode fazer com que a legenda não consiga tanta força política. Na programação do evento deste sábado, por exemplo, antes da apresentação do programa e do estatuto provisório, que possivelmente passará por mudanças ao longo do ano, haverá um painel para “identificar os sonhos comuns”.

Para Feldman, porém, são justamente as principais bandeiras da legenda que o fizeram decidir deixar o PSDB para integrar o novo partido. “A ética nas ações do partido, a questão da sustentabilidade e a participação da sociedade como protagonista”, enumera.

O deputado Domingos Dutra faz coro a ele. “A diferença do novo partido em relação aos demais será sentida na prática, no dia a dia. Defendemos um Estado que não se paute só pelo poder econômico, a ampliação da Lei da Ficha Limpa, o desenvolvimento econômico com equilíbrio sustentável e a inclusão de um segmento de brasileiros hoje excluídos.”

Dutra também rejeita a tese de que o partido estaria sendo criado apenas para viabilizar a candidatura de Marina Silva em 2014. "É uma proposta mais ampla e queremos lançar também candidatos a outros cargos do Legislativo", diz.