Corrida eleitoral antecipada "contamina" processo político, afirmam especialistas
Ainda falta um ano e nove meses para a eleição presidencial de 2014, mas o PT já deixou claro que a presidente Dilma Rousseff concorre à reeleição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), principal nome da oposição, assume cada vez mais o papel de candidato, atacando o governo no plenário e em entrevistas, e Marina Silva, ex-PV, anuncia o lançamento de seu novo partido, Rede, e ventila a possibilidade de disputar o executivo nacional mais uma vez. O governador do Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ainda é o mais comedido dos possíveis candidatos.
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Para Carlos Melo, cientista politico do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), a antecipação se deve ao fato de que os partidos precisam reafirmar o nome dos seus candidatos. “Muita gente no PT queria que o ex-presidente Lula concorresse no lugar da Dilma, havia esse ‘fantasma’, então essa é a hora do governo reafirmar que a Dilma é a candidata do partido.”
Segundo ele, o PSDB ainda não afastou o "fantasma" de José Serra, candidato derrotado na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2012 e Marina Silva corre contra o tempo para oficializar a nova legenda.
“É péssimo adiantar a campanha presidencial, porque isso politiza a administração”, afirma o cientista político Luciano Dias, da CAC Consultoria Política. “Qualquer medida tomada pelo governo passa a ser vista pela oposição como eleitoreira, e por outro lado o chefe do executivo fica com medo de tomar medidas pouco populares”.
A presidente Dilma Rousseff foi, inclusive, criticada pela oposição ao anunciar a inclusão de 2,5 milhões de brasileiros no Bolsa Família na semana passada.
Na avaliação de Dias, “o eleitor não gosta de campanha antecipada, acha que o governo tem que governar e os parlamentares têm que trabalhar”. “O caso da Marina é diferente, ela não tem opção, precisa começar a se movimentar já para ter uma chance de concorrer pela Rede.”
Para Melo, a antecipação “polariza, radicaliza, e obstrui o diálogo por causa da pauta eleitoral”.
"A própria reforma do sistema que deveria estar sendo discutida pelos parlamentares, pautas relacionadas a desenvolvimento econômico e segurança pública, que são fundamentais, ficam em segundo plano”, diz.
Segundo ele, governo e oposição se beneficiam da campanha precoce. “Questões que poderiam abalar a popularidade da presidente saem de pauta, e a oposição, que não apresenta uma pauta propositiva, também sai ganhando.”
David Fleischer, cientista politico da UnB (Universidade de Brasília), discorda. “Acho que quanto mais informação o eleitor tiver melhor, e a campanha antecipada faz com que ele comece a formar uma opinião mais cedo”.
Corrida antecipada
Para Francisco Fonseca, cientista politico da FGV-SP (Faculdade Getúlio Vergas de São Paulo), a culpa da corrida eleitoral antecipada é da emenda constitucional da reeleição, aprovada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso durante seu primeiro mandato, em 1997.
“Não foram pensados freios e contrapartidas à medida. Por exemplo, o candidato que chefia o executivo federal, estadual ou municipal deveria ter que se afastar do cargo para disputar a reeleição, para não fazer uso da máquina publica ou tomar medidas eleitoreiras”, afirma.
Para Ricardo Caldas, cientista político da UnB, “a campanha começou já em 2010, no dia seguinte à posse dos eleitos, com os políticos fazendo articulações e tentando viabilizar sua candidatura”.
Segundo ele, “no atual modelo político, os candidatos pensam com a mentalidade do mandato de oito anos”.
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