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Em festa pelos 10 anos no poder, PT escancara reeleição de Dilma e roga praga para oposição

Camila Neuman

Do UOL, em São Paulo

20/02/2013 23h22

As críticas à oposição e a reeleição da presidente Dilma Rousseff deram o tom dos discursos da festa de dez anos do PT no governo, realizada nesta quarta-feira (20), em um hotel na zona norte de São Paulo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que discursou antes da presidente, que também esteve presente, afirmou que os adversários "podem juntar quem quiser" que não irão derrotá-la nas eleições presidenciais de 2014. O adversário em questão é o senador Aécio Neves (PSDB-MG), -- possível candidato tucano à presidência em 2014 --, que hoje fez duras críticas à gestão petista.

A possível candidatura à reeleição de Dilma ainda não havia sido declarada por ela, nem por lideranças do partido. A afirmação de Lula arrancou aplausos e gritos da plateia de mais de 800 pessoas, entre lideranças petistas, de partidos da base aliada e militantes que lotavam o auditório do Anhembi.

"Eles podem se preparar, juntar quem eles quiserem, que, se eles têm dúvida, vamos dar como resposta a reeleição de Dilma em 2014. É essa a consagração da política do Partido dos Trabalhadores", disse o ex-presidente no encerramento de seu discurso. Em seguida, Lula foi ovacionado pela plateia com o tradicional grito "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula."

Dilma foi a última a discursar e, assim como Lula, não poupou críticas à oposição, rogando-lhes até uma ‘praga’. Segundo ela, s que apostam contra seu governo vão amargar “prejuízos financeiros ou políticos”.

"A estabilidade é um dos nossos compromissos e os que apostarem no contrário amargarão sérios prejuízos financeiros ou políticos. Erram os que dizem que estamos abandonando os pilares de nossa economia". Dilma disse ainda que os que criticaram suas políticas sociais e econômicas "desconhecem o povo brasileiro ou esse país".

Antes, Dilma exaltou a figura de Lula ao colocá-lo como líder da década. "Nossa década tem um líder e esse líder é Luiz Inácio Lula da Silva. Nós todos aqui presentes somos construtores, mas temos um líder e um povo que, ao construir uma liderança como a do presidente Lula, cria suas condições para transformar a realidade", disse a presidente.

"Foi ele que com pioneirismo começou a fechar a porta do atraso e abrir a da oportunidade. E deixou entrar por ela a primeira mulher presidenta. E essa é a missão que eu tenho a honra, a alegria, imensa responsabilidade e humildade de exercer."

Haddad elogia Dilma e Lula

Antes de Lula, discursou o prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que, ao elogiar a presidente Dilma Rousseff, disse não imaginar que uma mulher iria "enquadrar" o sistema financeiro nacional.

"Nunca imaginei que seria uma mulher que iria enquadrar o sistema financeiro internacional", disse o prefeito, que qualificou a presidente como um "exemplo de fibra e determinação", no discurso de abertura da festa.

Em seguida, Haddad manifestou desejo de ver Dilma governar o país até 2018. "Foi a senhora que mostrou já nesse governo que era sim possível fazer as reformas que o Brasil precisava e fazer as que o Brasil ainda precisa e que queremos ver realizar nos dois anos, e se depender de mim, nos próximos seis anos."

Sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad disse também ter se surpreendido com a sua eleição em 2002. O prefeito afirmou que morava fora do país e resolveu retornar ao país com a família para votar em Lula no segundo turno. "Outra coisa que eu não podia imaginar. Eis que em 2002 Lula surpreende, é eleito e o povo brasileiro passa a ter voz.", disse.

O clima de festa foi interrompido pouco antes da fala de Haddad, quando uma militante gritou dizendo que o auditório estaria vazio em comparação a enorme fila de militantes que estariam esperando para entrar no evento do lado de fora do hotel. De acordo com a assessoria do evento, mais de mil pessoas aguardavam do lado de fora da festa.

Vaias para Kassab

Presente ao evento, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab foi vaiado pela militância petista. O líder do PSD foi colocado em lugar de destaque no evento, ao lado de outros aliados do partido, no palco. Ao ser chamado para compor a mesa, Kassab recebeu vaias efusivas dos presentes.

Antes de fundar o PSD, Kassab integrou o DEM, inimigo histórico do PT, e era apoiado pelo PSDB de José Serra. Após fundar a sigla, em 2011, o ex-prefeito buscou aproximar-se do PT. Atualmente, o PSD integra a base de sustentação do governo federal e do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

"O governo [do PT] trouxe para o Brasil avanços extraordinários. O povo brasileiro reconhecidamente vive muito melhor, tem acesso a programas sociais. O PSD se sente muito confortável em estar aqui presente, em trazer aqui esse apoio. Parabéns à militância petista, aos dirigentes petistas, parabéns ao presidente Lula, à presidente Dilma", disse Kassab.

Depois de afagar o PT, o ex-prefeito chegou a receber algumas palmas, mas também ouviu gritos de "Fora Kassab".

Na mesma mesa de Kassab estavam também os ex-ministros, demitidos por Dilma Rousseff, Carlos Lupi (PDT) e Alfredo Nascimento (PR), os senadores Eduardo Lopes (PRB), Robson Amaral (PTN) e Valdir Raupp (PMDB), além de Renato Rabelo, presidente do PCdoB.

Lula, com terno cinza claro e uma gravata com as cores do Brasil, integrava a mesa petista, assim como presidente Dilma Rousseff, que estava de vermelho.

Na mesma mesa estavam os governadores Agnelo Queiroz (Distrito Federal), Jaques Wagner (Bahia), Marcelo Déda (Sergipe), Tião Viana (Acre) e o prefeito Haddad, que, a exemplo de Lula e Dilma, foi muito aplaudido.

Estavam ainda presentes as ministras Marta Suplicy (Cultura), Miriam Belchior (Planejamento), Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Helena Chagas (Comunicação Social), Maria do Rosário (Direitos Humanos), Eleonora Menecucci (Políticas para Mulheres) e Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário).

Dirceu, Genoino e Cunha

Os petistas José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha, condenados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no julgamento do mensalão, tiveram uma recepção calorosa por parte da militância do PT na festa.

Genoino e Cunha, ambos deputados federais, chegaram ao local por volta das 18h30, por uma porta a qual a imprensa não teve acesso. A militância petista recepcionou ambos com abraços. Os presentes formaram uma fila com aproximadamente 30 pessoas para cumprimentar Genoino. Dirceu chegou por volta de 19h, e sua presença também foi festejada pelos presentes. O ator global José de Abreu, amigo de Dirceu que irá se filiar ao PT, o acompanhou na chegada.

Assim como ocorreu com Genoino, militantes do partido formaram uma longa fila para abraçar Dirceu. Por volta de 19h20, chegaram os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Gilberto Carvalho (secretaria-geral da Presidência), Aloizio Mercadante (Educação) e Alexandre Padilha (Saúde), que passou por Dirceu sem cumprimentá-lo.

O evento

O espaço onde ocorreu a festa, com capacidade para 850 pessoas, não foi suficiente para abrigar todos que se dirigiram ao local. Um espaço anexo, equipado com telão, foi montado para cerca de 400 presentes. Segundo a organização, mais de mil pessoas acabaram ficando do lado de fora.

O cartaz do evento estampa os rostos de Lula e Dilma e a frase "o decênio que mudou o Brasil". No convite, o partido conclamou para as "comemorações dos dez anos do Governo Democrático e Popular".

O ato petista acontece um dia depois de Dilma anunciar a inclusão de 2,5 milhões de beneficiários do Bolsa Família, programa criado no governo Lula. Para isso, o governo anunciou a elevação da renda doada para mais de R$ 70 por pessoa das famílias agraciadas com a renda – o valor é considerado limite para a pobreza absoluta.

A erradicação da pobreza extrema é uma promessa eleitoral de Dilma. Os recursos para o aumento dos beneficiários somarão R$ 733 milhões aos cofres públicos. "O Brasil vira uma página decisiva na longa história, na nossa longa história de exclusão social. Nela está escrito que mais 2,5 milhões brasileiros estão deixando a extrema pobreza", afirma a presidente Dilma Rousseff durante a cerimônia de anúncio da nova medida. "Por não termos abandonado o nosso povo, a miséria está nos abandonando.", disse Dilma durante o pronunciamento em Brasília.

FHC diz que PT faz ‘picuinha’

As declarações de Dilma irritaram a oposição, em especial os tucanos. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso gravou um vídeo ontem no qual declarou que o PT faz "coisa de criança" e "picuinha" ao criticar governos passados. Em trecho do vídeo, FHC diz que "eles pensam que o Brasil começou agora. Não começou. No meu governo, eu mudei o rumo do Brasil, que estava muito desorganizado".