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Em discurso antes de votação, Donadon diz que 'as vozes das ruas crucificaram Jesus'

Guilherme Balza e Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

28/08/2013 20h03Atualizada em 28/08/2013 21h18

O deputado Natan Donadon (ex-PMDB-RO) apresentou sua defesa no plenário da Câmara nesta quarta-feira (28) na sessão que decidirá se seu mandato será ou não cassado pelos colegas.

Donadon, que foi condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), está preso há dois meses no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, após ter se entregado à Polícia Federal. Ele foi condenado pelo Supremo a 13 anos e quatro meses prisão por peculato e formação de quadrilha.

Sobre o seu mandato de prisão ter sido expedido na época dos protestos que tomavam conta do Brasil, em junho, ele disse que "as vozes das ruas crucificaram Jesus" e que o Supremo se submeteu à pressão da mídia. Ele criticou ainda a ministra Cármen Lúcia, do STF, que demorou dois anos para julgar os recursos (embargos) do seu caso.

Donadon se defende na Câmara

“O meu advogado, conversando com a relatora [Cármen], ouviu ela dizer: ‘mas e as vozes das ruas? Meu advogado, pasmo, disse: ‘eu to assustado ministra com o que a senhora está dizendo.”

O parlamentar relatou como tem sido seu cotidiano na prisão. "Em 60 dias que fiquei preso, tenho sofrido muito. É desumano o que um prisioneiro passa, o que eu passei nesses dias. Minha família tem sofrido muito", declarou.

Segundo ele, hoje faltou água no presídio e ele teve que interromper seu banho quando já estava ensaboado, mas, por sorte, outro preso tinha garrafas d'água estocadas e o ajudou. Segundo ele, o presídio não tem luxos e água da torneira é fria.

No trajeto entre a Papuda e a Câmara, Donadon contou que pediu aos policiais que não o algemassem com as mãos para trás, porque tem fobia. Antes de subir ao plenário, ele chegou a mostrar aos outros deputados as marcas das algemas em seus braços. “Eu tenho certa fobia de andar algemado, ainda mais no camburão. Pedi para os agentes que me trouxessem pela frente, mas eles disseram que não poderiam.”

Em relação às acusações que pesam contra ele, Donadon nega. "Eu sou inocente dessas acusações que estão impondo contra mim", declarou, criticando a imprensa, que, segundo ele, manipula as notícias. “Eu, à noite, ia examinar os processos: folha por folha, capa a capa”, disse ao contar de sua experiência em Rondônia.

Donadon fez críticas ao Ministério Público que, segundo ele, invadiu a Assembleia Legislativa de Rondônia e sumiu com documentos que comprovariam sua inocência. “Eu só tenho uma casa, no meu terceiro mandato. Cadê o dinheiro presidente [Henrique Eduardo Alves]? O MP diz que fui cooptado, quem me cooptou foi o MP.”

  • Deputado Natan Donadon, se defende na tribuna na Câmara

Para tentar convencer os pares de sua inocência, Donadon fez várias referências a sua família e disse "gostar de fazer política". “Eu amo todos vocês. Eu amo a minha profissão, gosto de fazer política, de trabalhar. Acreditem em mim. Quantas pessoas são presas por aí e são inocentes”

Donadon também apelou a Deus. “Quero olhar nos olhos de vocês, pelo que é mais sagrado, pela minha família e por Deus, eu não desviei, eu sou inocente, acreditem na verdade. Eu peço a oportunidade a vocês. Eu sou inocente, não tirem meu mandato, Deus sabe que eu tô dizendo a verdade."

Mais tarde, Donadon voltou a falar e pediu para que o Congresso interceda pela melhoria da comida do presídio da Papuda.

Relator pede cassação

O deputado federal Sergio Zveiter (PSD-RJ), relator do processo que analisa a cassação de Donadon, recomendou a cassação do mandato do colega.

"Os fatos são totalmente estarrecedores", disse. "Em apertada síntese, o deputado Natan Donadon e outros parlamentares de Rondônia se associaram com o propósito de desviar recursos da Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia", disse Zveiter. "A sociedade tem o direito de receber uma resposta da Câmara dos Deputados".

Entenda o caso

O deputado foi acusado de participação em desvio de cerca de R$ 8 milhões da Assembleia Legislativa de Rondônia em simulação de contratos de publicidade.  O julgamento dele só ocorreu no STF por ele ser deputado e ter foro privilegiado.

Após a prisão, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara recomendou a cassação por entender que as ações de Donadon, enquanto diretor da Assembleia Legislativa, configuram quebra de decoro parlamentar.

No último dia 14 de agosto, o advogado Gilson Stefanes tentou convencer os deputados da CCJ da inocência de seu cliente. Durante sua exposição, Stefanes argumentou que o deputado não cometeu nenhum equívoco durante seu mandato na Casa Legislativa e, por isso, não deveria ser condenado à perda de mandato.

Na avaliação do defensor, houve falhas em várias etapas das investigações que culminaram na condenação do parlamentar no Supremo e na prisão de Donadon. "Ele foi condenado com uma prova frágil. É uma pessoa ética, uma pessoa íntegra, uma pessoa que realmente tem compromisso com o mandato", afirmou o advogado na ocasião.