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Propina existe em todas as diretorias da Petrobras, diz doleiro; escute

Do UOL, em São Paulo

10/10/2014 06h00

O doleiro Alberto Youssef, em depoimento prestado na quarta-feira (8) sob as condições de delação premiada à Justiça Federal, disse que o esquema de pagamento de propina sob os contratos da diretoria de abastecimento da Petrobras, enquanto comandada por Paulo Roberto Costa, existe em todas as diretorias da estatal.

Durante o depoimento, Youssef, acusado de ser operador do esquema, confirmou sua participação no esquema comandado por Costa, que não atuava nas outras diretorias da estatal, mas que sabia da existência da operação em outros setores da empresa.

Citou, como exemplo, os esquemas na diretoria de serviços, comandada por Renato Duque, e na diretoria internacional, chefiada por Nestor Cerveró. O doleiro disse que cada diretoria dividia o dinheiro da propina com o partido que a controlava. Entre as legendas citadas no esquema, estão PT, PMDB e PP.

Durante o depoimento, o juiz federal Sérgio Moro --que conduziu a oitiva--, orientou Youssef a não identificar os parlamentares que estariam envolvidos no esquema, e pediu que o doleiro se referisse a eles como “agentes políticos”. Segundo Youssef, o grupo político que comandou o esquema obrigou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nomear Costa, em 2004.

"Para que Paulo Roberto Costa assumisse a diretoria de abastecimento, esses agentes políticos trancaram a pauta do Congresso durante 90 dias. Na época o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou louco e teve que ceder, e realmente empossar Paulo Roberto Costa na diretoria de abastecimento", disse o doleiro.

Questionado por Moro se existiam outras diretorias da Petrobras que operavam de forma semelhante, Youssef foi direto:  "Eu acredito que todas", disse. "Vossa excelência, eu não operei em outra diretoria. Mas eu sei que existiam os mesmos moldes em outras diretorias. Eu sei por causa dos próprios empreiteiros, dos próprios operadores". 

Na quinta (9), também foi conhecido o teor do depoimento de delação de Costa, outro importante personagem da Operação Lava Jato.

Costa, ex-diretor da estatal, afirmou que um cartel formado pelas principais empreiteiras do país opera tanto em obras da Petrobras como em outros setores. De acordo com ele, os contratos eram superfaturados em 3%, em média, e o dinheiro excedente era distribuído para políticos da base aliada do governo federal, diretores da Petrobras e intermediadores, como Youssef e o ex-deputado José Janene (PP).

Veja abaixo alguns trechos do depoimento de Alberto Youssef:

Costa e Youssef fizeram acordo de delação premiada e prestaram depoimento à Justiça Federal nesta semana. Deflagrada em março deste ano pela Polícia Federal, a Operação Lava Jato descobriu uma ação que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões na empresa, de maneira ilegal. Segundo a PF, uma "organização criminosa" atuava dentro da empresa.

Empresas dividiam contratos da Petrobras entre si 

Youssef disse que era entregue uma lista das empresas que iriam participar da concorrência dos contratos da Petrobras, e que nesta lista já constava a empresa vencedora. Segundo o doleiro, Costa tinha total controle sobre essa lista.

Empresas não conseguiam contratos se não pagassem propina

Segundo Youssef, apenas as empresas que pagavam a propina conseguiam os contratos. "Ela não fazia obra se ela não pagasse [propina]", disse Youssef.

Contratos da Petrobras eram sempre feitos com preços máximos, diz doleiro

Youssef disse que, como as empresas se organizavam em cartel, os contratos celebrados com a Petrobras eram sempre realizados com preços máximos ou próximos ao máximo aceito pela estatal. No caso dos aditivos dos contratos, o percentual repassado para o esquema criminoso era maior, passava de 1% para até 5%.

Doleiro explica divisão da propina de Paulo Roberto Costa em contratos

Sob o valor de cada contrato celebrado com a diretoria de abastecimento da Petrobras, comandada por Paulo Roberto Costa, era pago 1% de propina. Esse valor era dividido em 5% para Youssef, 30% para Costa e 60% para os "agentes políticos" do PP.

Em outro momento do depoimento, o doleiro explica que o restante do 1% sob o valor do contrato se destinava a gastos operacionais, como o pagamento de doleiros e de notas frias.

Youssef lista empresas que pagariam propina para Paulo Roberto Costa

Segundo Youssef, participaram do esquema as empresas Camargo Corrêa, OAS, Queiroz Galvão, Odebrecht, UTC, Jaraguá Equipamentos, Engesa, UTC e Tomé Engenharia. Em outros trechos do testemunho citou as empresas Andrade Gutierrez e Mendes Júnior, entre outras.