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Diretor da Petrobras cancela depoimento à CPI; oposição acusa atestado falso

Diretor de abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, que substituiu Paulo Roberto Costa - Reprodução/PetroNotícias
Diretor de abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, que substituiu Paulo Roberto Costa Imagem: Reprodução/PetroNotícias

Bruna Borges

Do UOL, em Brasília

22/10/2014 12h08Atualizada em 22/10/2014 16h24

O atual diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, não irá à reunião da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) mista da Petrobras marcada para esta quarta-feira (22). Ele foi convocado para depor, mas apresentou atestado médico para justificar sua ausência. O documento foi questionado por parlamentares da oposição, que o acusam de ser falso.

A ausência do diretor da estatal ocorre a quatro dias do segundo turno das eleições. Os escândalos de irregularidades na Petrobras pautaram toda a campanha eleitoral para a Presidência.  O candidato Aécio Neves (PSDB) tentou atribuir ao partido da adversária, a presidente Dilma Rousseff (PT), casos de corrupção envolvendo seu partido. Um dos principais temas debatidos foi a delação premiada feita pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, que foi substituído por Cosenza, que apontou desvios de dinheiro da estatal para financiar o PT, PP e PMDB.

Cosenza não explicou os motivos médicos que o impediriam de participar da reunião da CPI. Segundo atestado encaminhado pelo própria Petrobras, o diretor apresenta “intercorrência clínica”, que o impossibilitou  de comparecer à comissão. Ainda de acordo com o documento, Cosenza “se coloca à disposição  para remarcação do depoimento”. Consenza substituiu Costa no cargo em abril de 2012.

Não há prazo para a nova data do depoimento do diretor da Petrobras. Os trabalhos de investigação da CPI devem ser encerrados até o final do ano.

O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), manteve a reunirão. Se a comissão apresentar quórum mínimo – 18 membros – a sessão será deliberativa. Há cerca de 460 requerimentos aguardando análise dos parlamentares do grupo. Durante o período eleitoral, com a baixa frequência de deputados e senadores no Congresso Nacional, a aprovação de pedidos de depoimentos e quebra de sigilos para investigação esteve bastante lenta.

Costa foi preso pela Polícia Federal em março durante a deflagração da operação Lava Jato por suspeitas de superfaturamento e lavagem de dinheiro na estatal. Após acordo de delação premiada, o ex-diretor passou a cumprir pena domiciliar no Rio.

Atestado questionado

A ausência do executivo irritou parlamentares da oposição, que o acusaram de emitir atestado médico falso. “Vamos avaliar se a doença é verdadeira ou se foi invenção para que ele não aparecesse”, afirmou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE).

O atestado médico apresentado pelo diretor foi alterado para incluir a CID (Classificação Internacional de Doenças) que corresponde aos sintomas dele. Inicialmente essa informação não estava disponível. Após o texto ser divulgado pela imprensa, o documento foi modificado para informar que Cosenza está sofrendo de hipertensão.

O presidente da CPI informou que a secretaria da comissão solicitou ao médico informações sobre a doença do diretor. Foi após o pedido que atestado foi alterado. Vital afirmou que foi pedido uma complementação, o que na sua avaliação é permitido, e que é necessário uma perícia para confirmar se houve adulteração indevida no documento.

O relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS) afirmou que será feita uma perícia para verificar a veracidade do atestado. "Eu nao faria nenhuma acusação sem a comprovação", declarou Maia.

Parlamentares do PSDB, PPS e DEM afirmaram que aguardavam o depoimento do diretor da estatal e que houve "desmoralização do Congresso Nacional".

Para o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), o não comparecimento do ex-diretor à CPI é uma "ação do Palácio do Planalto".  Ele também afirmou que Cosenza era "de confiança" de Costa.

"A presidente Dilma não tem condição de combater essa quadrilha que se instalou na Petrobras", disse Imbassahy.

O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), questionou a veracidade do atestado apresentado pelo diretor da Petrobras e sugeriu que a CPI encaminhe um pedido ao CRM-RJ (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) que investigue o documento.

Segundo Bueno, o documento entregue para os membros da comissão não tinha o CID (Código Internacional de Doenças. “Em nenhum momento, consta o CID no documento que veio da CPMI. Esse texto foi adulterado, tem de apurar isso.”