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'Arrependido', Costa diz que esquema da Petrobras repete-se no Brasil todo

Paulo Roberto Costa é ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, cargo que ocupou entre 2004 e 2012. Foi preso em março por tentar ocultar provas que o incriminavam. Solto em maio, foi preso novamente em junho, e fez acordo de delação premiada, que possibilitaria uma redução de sua pena em caso de condenação. Atualmente cumpre pena em casa, no Rio - Pedro Ladeira/Folhapress
Paulo Roberto Costa é ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, cargo que ocupou entre 2004 e 2012. Foi preso em março por tentar ocultar provas que o incriminavam. Solto em maio, foi preso novamente em junho, e fez acordo de delação premiada, que possibilitaria uma redução de sua pena em caso de condenação. Atualmente cumpre pena em casa, no Rio Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

02/12/2014 15h35

Em depoimento nesta terça-feira (2) à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) mista da Petrobras, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da estatal, declarou-se “arrependido”, afirmou que sua família o convenceu a fazer a delação premiada e disse que o esquema de desvios na Petrobras repete-se no Brasil inteiro.

Na sessão de hoje da CPI, Costa está sendo submetido a uma acareação com Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da empresa.

Apesar de afirmar que, mais uma vez, não responderá às perguntas dos parlamentares, Costa fez um desabafo, que começou quando ele disse que todas as indicações de diretores da Petrobras, desde o governo de José Sarney (1985-90) até a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), foram políticas.

“Isso aconteceu em todos os governos. Todos! Com todos os diretores da Petrobras. Se não tivesse apoio político, não chegava a diretor. Isso é fato”, disse. Na sequência, declarou-se arrependido por ter aceito participar do esquema de corrupção para chegar ao cargo de diretor.

“Era um sonho meu chegar a diretor ou até a presidente da companhia”, disse. “Me arrependo amargamente. Infelizmente, aceitei uma indicação política para assumir a diretoria de abastecimento. Estou extremamente arrependido de ter feito isso. Se tivesse a oportunidade de fazê-lo, não faria novamente. Aceitei esse cargo e ele me faz estar aqui onde estou hoje”, disse.

Costa disse também que esquemas semelhantes ao da Petrobras ocorrem no “Brasil inteiro”. “Não se iludam. Isso que acontece na Petrobras acontece no Brasil inteiro. Em ferrovias, portos, aeroportos. Tudo. Acontece no Brasil inteiro.”

O ex-diretor da Petrobras disse que não responderia às perguntas dos parlamentares porque já disse tudo o que sabe na delação premiada. "Não tem nada da delação que eu falei que eu não confirme. A delação é um instrumento sério. Não pode ser usado de artifício, mentira, coisa que não seja possível de, à frente, confirmar.”

Em seguida, Costa disse que provas estão aparecendo e que, na época oportuna, outros envolvidos no esquema serão conhecidos. Ele disse foram 80 depoimentos em mais de duas semanas de delação. "Vários fatos foram apresentados, e os que não foram apresentados eu indiquei quem poderia falar sobre os fatos." Ao final do desabafo, afirmou ter sido convencido pela família, e não pelos advogados, a fazer a delação.

“Quem me colocou com clareza para eu fazer a delação foi minha esposa, minha filha, meus genros e meus netos. Falaram pra mim: ‘Paulo, por que só você? E os outros? Cadê os outros? Você vai pagar sozinho?’. Fiz a delação para dar um sossego a minha alma e por respeito e amor à minha família.”

Em várias momentos de seu depoimento, Costa disse que o esquema na estatal estava o "enojando".

Delação premiada

Em delação premiada, Costa e o doleiro Alberto Youssef afirmaram que o esquema de desvios na Petrobras beneficiava partidos da base aliada, como PT, PMDB e PP. Os delatores também disseram que as maiores empreiteiras do país montaram um cartel para controlar as licitações. Os desvios chegavam a 3% dos contratos, segundo ambos.

As denúncias feitas por Costa e Youssef, além de outras provas, resultaram na prisão de 24 diretores e executivos de empreiteiras e um agente da Polícia Federal em novembro. Destes, 13 permanecem detidos. Parlamentares e governadores de vários partidos foram citados pelos delatores e estão sendo investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal), já que possuem prerrogativa de foro.

Acareação

A acareação está sendo feita porque Costa teria dito, em delação premiada, que Cerveró recebia propinas e fazia parte dos desvios na Petrobras. A suspeita é que a compra de 50% da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006, tenha relação com o esquema.

O TCU (Tribunal de Contas da União) considera a aquisição um péssimo negócio em função dos prejuízos causados à estatal. Cerveró foi o responsável pelo parecer que avalizou a compra da refinaria. O ex-diretor da Petrobras integrava o Conselho de Administração da Petrobras, órgão na época presidido pela então ministra Dilma Rousseff, que qualificou de “falho” o documento elaborado pelo ex-diretor.

Em todas as oportunidades, o ex-diretor negou que participou ou tinha conhecimento do esquema na estatal. Em depoimentos à CPI da Petrobras, Cerveró isentou Dilma e, mais de uma vez, afirmou que a compra de Pasadena foi um bom negócio, já que estaria dando lucro atualmente, de acordo com ele. O mesmo foi dito por Paulo Roberto Costa.

Em outra delação premiada, Julio Camargo, executivo da Toyo Setal, teria afirmado que Cerveró recebeu propina de Fernando Soares, o Fernando Baiano, suspeito de ser o operador do PMDB no esquema da Petrobras. O ex-diretor da estatal teria ficado com uma parte de US$ 40 milhões que Fernando Baiano teria recebido para intermediar dois contratos com Cerveró. Suspeita-se que o dinheiro foi enviado ao Uruguai em contas do ex-diretor da Petrobras.

Além disso, segundo reportagem da revista “Veja”, Cerveró morou em um apartamento no Rio de Janeiro avaliado em R$ 7,5 milhões que pertence a uma offshore com sede no Uruguai. O ex-diretor da Petrobras nega que tenha havido irregularidade e afirma que era inquilino do imóvel, pelo qual pagava cerca de R$ 8.000 por mês.