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Crise de Dilma é mais grave que a de Collor no pré-impeachment, diz Ronaldo Caiado

Fernando Rodrigues

Do UOL, em Brasília

08/12/2014 06h00

O líder da oposição no Congresso, deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), considera a situação política atual da presidente Dilma Rousseff pior do que a enfrentada em 1992 pelo então presidente Fernando Collor de Mello, que acabou depois sofrendo um processo de impeachment.

“Esse é um momento muito mais grave do que a época do governo Collor (...) Você acha que é fácil remontar um país? Quando todos os ministérios estão contaminados, fundos de pensão, bancos oficiais, BNDES. Essa é uma tarefa extremamente árdua, difícil”, declarou Caiado, que está concluindo 5 mandatos de deputado federal e se prepara para assumir uma vaga no Senado, a partir do ano que vem, pelo Democratas de Goiás.

Em entrevista ao programa “Poder e Política”, do UOL, Caiado, que é médico e tem 65 anos, recomenda à oposição usar o tom usado por Carlos Lacerda (1914-1977), jornalista e político do Rio de Janeiro que ficou famoso por sua retórica dura contra vários governos. Filiado à UDN (União Democrática Nacional), foi um dos responsáveis pela consolidação do termo “udenismo”, sinônimo de defesa da moralidade, muitas vezes também associado no passado a tentativas de golpe de Estado.

“O tom que [a oposição] deve ter é aquele que Carlos Lacerda nos ensinou. Você não deve apelidar as palavras. Você não tem que falar que corrupção é ‘desvio de dinheiro’. É corrupção, é roubo, uma estrutura que se beneficia exatamente de todo um caixa dois da Petrobras, escândalo de Pasadena, distribuição de dinheiro de todas as obras da Petrobras, do PAC. Isso é organização criminosa. Não é partido político”, declara Caiado.

Indagado sobre se a “organização criminosa” seria o Partido dos Trabalhadores, o futuro senador por Goiás diz que “não generalizaria”, pois todos os partidos têm muitas seções. Mas afirma que Aécio Neves (PSDB), candidato derrotado na eleição presidencial deste ano, “não está pesando em nada na palavra” ao ter dito recentemente que Dilma Rousseff foi eleita por uma “organização criminosa” em outubro. “Ele se expressou corretamente. Isso é uma organização criminosa”.

Os cerca de 70 políticos que deverão ser formalmente citados por algum envolvimento nos escândalos da Petrobras terão como consequência paralisar os trabalhos no Poder Legislativo em 2015. “Isso realmente inviabiliza completamente o funcionamento do Congresso Nacional, tendo que ficar tempo integral dedicado a essa matéria”.

Inflexível e às vezes minoritário dentro da oposição, Caiado defende que partidos anti-Planalto tenham candidatos para disputar as presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro. “Mesmo sem chance [de vencer]. Você não pode perder o discurso. Você não pode perder a coerência. A popularidade ela é relativa, mas a coerência é vital”, raciocina.

Pela mesma razão, faz uma recomendação à senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), que é também presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária) e está prestes a ser nomeada ministra da Agricultura por Dilma Rousseff:

“Kátia, permaneça senadora e presidente da CNA. Não assuma isso, porque você sabe que hoje o Ministério da Agricultura é muito mais uma partilha de uma estrutura que não tem nada a ver com o setor rural, e, ao mesmo tempo, a base política e sustentação não lhe dará apoio para as mudanças que são necessárias”.

A seguir, trechos da entrevista com Ronaldo Caiado, realizada no estúdio do UOL, em Brasília, na última sexta-feira (5.dez.2014):

O Congresso deve concluir na 3ª feira [9.dez.2014] a votação de projeto de lei que desobriga o governo a ter superávit primário neste ano de 2014. Por que a presidente Dilma Rousseff, com uma coalizão tão ampla, passa tanto sufoco para encaminhar essa alteração?
Porque essa matéria agride não só a Constituição Brasileira, ela revoga a Lei de Responsabilidade Fiscal, desautoriza o Congresso Nacional ao baixar um decreto que antecipa uma lei –um decreto que, resumidamente, é um decreto delação premiada.

Por quê?
Esse decreto específica até o valor da emenda para cada deputado e senador. É uma verdadeira afronta, além de ser inconstitucional. Já recorremos ao Supremo Tribunal Federal. É um precedente gravíssimo que você cria neste momento, porque a partir de agora...

Oficializa a troca de favores?
A troca de favores...
A troca de favores até então existia. Mas agora você tem uma troca de favores por decreto, ou seja, uma delação premiada. E cria um precedente. Governadores e prefeitos vão ter que seguir a Lei de Responsabilidade Fiscal? Anteontem [3.dez.2014] o governador de Goiás [Marconi Perillo, do PSDB] mandou um projeto de lei para a Assembleia Legislativa dizendo: “Olha, não vou cumprir o superávit. Pelo contrário, vou apresentar um déficit de R$ 650 milhões”.

O senador Aécio Neves, do PSDB de Minas, disse que a presidente com esse decreto colocava o Congresso “de cócoras”. O sr. concorda com essa avaliação?
Não é só colocar o Congresso de cócoras. Acho que é o Congresso, que nada tem a ver com o crime praticado pela presidente da República, entrar no processo para apagar as digitais da utilização indevida da máquina do governo, do Orçamento, às vésperas das eleições.
Todos os gráficos mostram que em agosto e setembro a presidente extrapolou o déficit primário em R$ 30 bilhões, injetando no processo que daria retorno na campanha eleitoral. E o Congresso Nacional vem e diz: “Tudo bem, passamos a borracha. Ela não tem que responder mais por crime de responsabilidade”. O Congresso está legalizando um processo praticado pela presidente que é, dentro da norma constitucional, ilegal.

Há um argumento que o Planalto tem apresentado. Em 2001, o governo de Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República, conseguiu aprovar uma lei para reduzir a meta de superávit primário, naquela oportunidade, e mesmo assim não cumpriu a meta. Qual á a diferença entre a conjuntura de hoje, 2014, e aquela de 2001?
Em primeiro lugar, ele [FHC] não estava em campanha eleitoral. Segundo lugar: [o projeto de alteração] foi apresentado no mês de março. O que mostra que já tinha uma previsão. Então ele realmente não traiu a expectativa do brasileiro. Já sinalizou o que aconteceria até o final do ano.
O que acontece agora é totalmente diferente. Durante todo o período da campanha eleitoral ela [Dilma Rousseff] várias vezes foi aos debates dizendo que tudo estava em ordem, que iam cumprir a meta do superávit e que a economia estava estabilizada. Terminada a campanha eleitoral, demite-se o [ministro da Fazenda] Guido Mantega, busca-se um banqueiro para dizer que agora vamos reordenar e a partir de hoje nós vamos aumentar a taxa de juros, a partir de agora nós não vamos cumprir o superávit, e, além do mais, avança agora nas contas do Tesouro Nacional para poder arcar com custos e pagamento de funcionários.

Mas no caso de Fernando Henrique em 2001 a meta acabou não sendo cumprida. Não houve ninguém apresentando a denúncia para que ele fosse processado por crime de responsabilidade pelo fato de a meta não ter sido cumprida. Agora, em 2014, é comum ouvir que a presidente –se não conseguir aprovar essa lei no Congresso– terá descumprido a meta e poderá ter incorrido em crime de responsabilidade. Tem diferença nesse caso também?
Enorme, por uma coisa só.
Ficou extremamente caraterizado que a utilização do Orçamento foi uma utilização para a campanha eleitoral. Essa é a diferença, o descumprimento foi porque ela foi deficitária em R$ 30 bilhões nos meses de agosto e setembro deste ano. Ela dizia uma coisa à população brasileira e fazia exatamente a outra. Usou essa aparelhagem da máquina do governo para a sua reeleição. No momento em que terminou a campanha eleitoral, o brasileiro passou a ter a verdadeira radiografia do Brasil. Ou seja, aquilo que foi dito anteriormente não reproduzia a realidade. Ela iludiu, ela enganou, ela descreveu um cenário totalmente diferente daquele que está sendo vivido hoje a 30 dias do fim do ano.

Mas por que a oposição teve tanta dificuldade, durante o processo eleitoral, de explicar tudo isso que o sr. está dizendo para os eleitores?
Você há de convir que esta campanha foi feita de uma maneira a criar quase que uma barreira com todos os parlamentares ou candidatos da oposição, que seria a tese maniqueísta de dizer: “Se a oposição for eleita, todos esses benefícios sociais serão retirados”.
O autor da frase do “bolsa miséria” é o próprio Lula. Está gravado, divulgado. Mas é interessante que você divulga e o cidadão acha que não, que ele vai manter, que ele vai preservar e que ele vai ampliar essa bolsa.

Em Goiás, o governador Marconi Perillo, que é do PSDB e aliado do Democratas no plano nacional, encaminhou um projeto de lei para a Assembleia Legislativa para abandonar a meta do superávit primário. No Congresso, o PSDB ataca a tentativa da presidente Dilma de fazer o mesmo. Existe incoerência entre o que se faz em Goiás e aqui no plano federal em Brasília?
Vamos corrigir essa tese do aliado. Fui candidato e a posição nossa não foi na chapa do Marconi Perillo.
Mas quando você dá o mau exemplo, se pode o mais, pode o menos. Acredito que todos os governadores estarão encaminhado uma lei semelhante a essa para as Assembleias Legislativas. Os prefeitos do Brasil todo vão estar encaminhando a mesma coisa.
Agora você não controla mais contas públicas. É um grande desserviço que essa presidente está prestando.

Li uma declaração sua sobre a decisão de Marconi Perillo dizendo que ele copiou a “fraude fiscal” da presidente Dilma. É isso?
Exatamente. Perfeito. É a fraude fiscal que foi utilizada por ela, está sendo utilizado pelo governador.

A administração federal do Partido dos Trabalhadores já tem 12 anos. Que reparos o sr. faria à atuação da oposição nesses 12 anos?
[Não] ter coragem de fazer oposição durante todo o tempo e todo o período legislativo. É inaceitável essa tese de querer ser oposição em período pré-eleitoral. Não precisaria adjetivar a oposição. Tem que ser um fiscal e um crítico daquilo que o governo está cumprindo. Do contrário, se ficar na tese do mais ou menos, nem carne nem peixe, o eleitor vai falar: “Entre o genérico e o principal, fico com o principal”.

E por que foi assim em 12 anos?
A oposição não tinha muito hábito de fazer oposição. Não tínhamos esse estilo. Não foi criado dentro dessa base parlamentar que durante muito tempo foi o governo. Eu que, na maioria do meu período de vida eleitoral sempre fui oposição, estou habituado a essa rotina. Estou habituado a conviver no sol e na chuva. Mas nem todos estão ali com aquela ideia.

O tom da oposição tem mudado. O senador Aécio Neves, que foi candidato a presidente, disse que a presidente Dilma Rousseff foi eleita por uma “organização criminosa”. Essa expressão é apropriada?
O tom que deve ter é aquele que Carlos Lacerda [1914-1977] nos ensinou. Você não deve apelidar as palavras. Você não tem que falar que corrupção é “desvio de dinheiro”. É corrupção, é roubo, uma estrutura que se beneficia exatamente de todo um caixa dois da Petrobras, escândalo de Pasadena, distribuição de dinheiro de todas as obras da Petrobras, do PAC. Isso é organização criminosa. Não é partido político. É desvio do dinheiro público. Isso é um desrespeito completo à população brasileira. Ele [Aécio] não está pesando em nada na palavra. A oposição tem que ter a capacidade de realmente poder mostrar para a sociedade brasileira com palavras que são palatáveis, que o cidadão entenda. Ele se expressou corretamente. Isso é uma organização criminosa. É um processo que hoje se estende a destruir fundos de pensão, a todas as estatais, a comprometer ministérios, onde ministérios são pastas entregues a partidos políticos e lá eles terão que garantir a candidatura daquela bancada.

O PT é uma organização criminosa?
Estou dizendo que a prática ali hoje estabelecida dentro, está certo?

Dentro do PT?
Para que as pessoas se beneficiem dentro daquele quadro partidário. É exatamente a utilização desse desvio do dinheiro público.

Mas o “quadro partidário” é o PT?
Não tem que generalizar. As pessoas estão muito bem identificadas e estão sendo julgadas. Toda a população brasileira conhece aqueles que estão utilizando essa prática indevida. Não generalizaria. Você tem as seções em todo e qualquer partido.

A direção partidária, no caso, a direção do Partido dos Trabalhadores foi leniente em relação a isso? Ou compactuou?
Posso responder pelas palavras do Paulo Roberto [Costa] e do [Alberto] Youssef, que todos tinham conhecimento do fato.

Todos da direção do PT e dos outros partidos?
Direção do PT e dos partidos que estão envolvidos na delação premiada. Então, isso não é uma afirmação da oposição. Isso é uma afirmação do Youssef e do Paulo Roberto.

Os candidatos a presidente pela oposição foram José Serra, em 2002, Geraldo Alckmin, 2006, José Serra, 2010, Aécio Neves, 2014. Quatro derrotas. Qual desses candidatos se aproximou mais do tom que deve ter um candidato a presidente de oposição?
O que mais se aproximou do tom, sem dúvida alguma, foi o Aécio [Neves]. Teve coragem de assumir que as privatizações foram feitas, teve a coragem de declarar o que é que realmente deve ser o modelo do Estado, teve a coragem de ir para o debate mais direto com a presidente da República, mostrando, nitidamente, o despreparo do atual governo e também da presidente da República em enfrentar os problemas existentes, o populismo criado e o modelito bolivariano que as pessoas hoje estão compreendendo a extensão.
Ele [Aécio] foi o que se aproximou do debate que a oposição deve fazer numa campanha eleitoral.

Aécio Neves deve ser novamente candidato da oposição a presidente em 2018?
Não cabe a mim interferir na decisão do PSDB. É lógico que cada partido de oposição vai buscar o seu candidato. Sou muito cauteloso. O Democratas também tem a mesma expectativa de poder lançar o seu candidato.

O sr. tem aspiração de ser candidato novamente, como já foi em 1989?
O senador José Agripino [DEM-RN] também foi citado. Jamais omiti essa vontade de poder um dia chegar ao Executivo. Tanto é que disputei a eleição em 1989. Nós éramos 22 candidatos naquela época. Se realmente o momento for esse, seja o José Agripino, ACM Neto, um dos grandes nomes do partido, aquele que se viabilizar deve ser o candidato. Sempre defendi essa tese.

O sr. é contra à fusão dos Democratas com outras siglas nesse momento?
Sabe por quê? Porque não podemos ser surpreendidos novamente. Anteriormente, um parlamentar era eleito por um partido, mudava para outro de acordo com quem ganhasse a eleição.

Essa regra mudou...
Bom, piorou. Achávamos que estávamos fazendo uma grande limpeza na política nacional ao fazer a fidelidade partidária. Aí vem uma decisão do Supremo dizendo: “Ao mudar de partido e criar o seu próprio partido, você leva o tempo de rádio e televisão e o fundo partidário”.
Você deu a cada parlamentar a condição de ser um partido político. Passou a ser um grande balcão de negócio. Ele estava indo não só com o voto dele. Estava indo com tempo de rádio e televisão mais o Fundo Partidário. E o que eles fizeram? Desidrataram as oposições.

Mas isso agora também mudou...
Mas essa lei está em aberta na fusão [de partidos]. A fusão não tem uma interpretação definida. A fusão ainda tem uma porta aberta para aquele que sai num processo de fusão levar o tempo de rádio e televisão e o Fundo Partidário. Nós já consultamos o Tribunal Superior Eleitoral e não recebemos a reposta ainda.

O sr. enxerga o ex-presidente Lula voltando a ser candidato em 2018?
Não tem a menor chance.

Por quê?
Porque com todas essas denúncias que foram feitas... Tudo isso iniciou no governo Lula. Ali você teve a gestação de toda essa metodologia de assaltar o Estado brasileiro. A população vai tomar conhecimento. As delações premiadas levam aos que foram os verdadeiros mandantes.
Eles deram conta de interromper o mensalão na figura do José Dirceu. Mas agora, não. O Youssef e o Paulo Roberto afirmam que tanto o ex-presidente, quanto a presidente tinham conhecimento do fato. E como é que eles vão dizer que desconhecem o fato? A presidente foi presidente do conselho da Petrobras durante 8 anos e é presidente da República. Não tem como.

Que tipo de evidência ou indício seria necessário para que a oposição afirme que houve crime de responsabilidade por parte da atual presidente da República no âmbito desse escândalo envolvendo a Petrobras?
No momento em que nós tivermos acesso a tudo aquilo que já vazou para a imprensa.

Existe a declaração do doleiro sobre o ex-presidente Lula e a atual presidente da República Dilma Rousseff terem conhecimento. Isso basta como elemento de prova para configurar um crime de responsabilidade?
Não é só a palavra deles. São documentos também que os empresários estão dizendo que têm e que fizeram o depósito da propina na conta da campanha. Isso tudo tem como se levantar. Então, se tudo isso aí estiver identificado, está configurado.

Isso levaria a um processo de impeachment?
Tem que ter responsabilidade. Eu não vou por aí.

Como assim?
Não vou suprimir etapas. Não vou entrar nessa tese antes que possamos confirmar os passos todos. Vamos, gradualmente, fazendo passo a passo para que aí sim nós possamos chegar a um segundo momento dessa discussão.

E o segundo momento?
E o segundo momento é depois de atravessamos o primeiro momento.

Que vem a ser a comprovação dessas declarações que têm sido publicadas?
Documentadas, com todo o direito da ampla defesa. Ninguém vai aqui fazer o julgamento inquisitivo, ninguém aqui vai prejulgar quem quer que seja, mas o que nós vamos exigir é exatamente a transparência do processo da campanha eleitoral e do período da gestão à frente da presidência da República.

Mas uma vez comprovado, o resultado disso é um processo de impeachment?
Uma vez comprovado, nós vamos ver qual é a ação que podemos tomar.

É ruim para o Brasil um processo de impeachment?
O que é ruim para o país é o processo de perda da credibilidade do cenário internacional. Do Brasil ter hoje o primeiro lugar no maior escândalo já relatado na história do mundo contemporâneo. É realmente ruim vermos hoje o quanto foi descredenciada a política perante a população.

Há uma perspectiva que a Operação Lava Jato leve à implicação de cerca de 70 congressistas. Qual vai ser o impacto no Congresso a partir de 2015?
Esse número oscila de 30 a 70 deputados, senadores, governadores de Estado. É algo jamais visto. Já convivi naquela casa na época da CPI dos Anões do Orçamento. Depois, Valdomiro, Vampiro, Sanguessuga, Mensalão. Agora, chegamos ao “Petrolão”. Isso realmente inviabiliza completamente o funcionamento do Congresso Nacional. Chegando a uma proporção como essa.

Para o Congresso?
Seria o Congresso Nacional tendo que ficar tempo integral dedicado a essa matéria.

O que fazer?
Tenho algumas ideias.

Quais?
Espero, numa situação como essa, que cada parlamentar, diante das provas contundentes existentes, que tenha o gesto maior de abrir mão desse período para que o seu suplente possa assumir, até que esse processo seja julgado.

Mas isso não vai acontecer...
Vai então se abrir um outro precedente. Qual vai ser? As turmas no Supremo vão começar a julgar esses fatos. Vão tomar as decisões se o Congresso Nacional não tiver a competência de achar uma alternativa o mais rapidamente possível.

Mas o que acontece com o Congresso? Fica paralisado?
O processo não vai avançar no Congresso. Diante de um número como esse que está sendo previsto, qual é a condição de funcionamento do Conselho de Ética? Teremos uma prorrogação de decisões.
Apenas um deputado do PT, que é o caso do deputado André Vargas, até hoje se arrasta no Congresso Nacional para ser colocado em apreciação no plenário para a sua cassação. Um caso apenas.
Veja você se nós tivermos que enfrentar aí 40, 50 casos...

Qual é a posição do Democratas sobre a eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado?
Nós temos que priorizar os nossos candidatos de oposição. Independente de ter chance ou não da eleição.
Tem que firmar posição neste momento.
Acho isso fundamental. Nós não temos que correr para quem vai ganhar. Nós não temos porque fazer esse tipo de composição. Vou defender, posso ser voto vencido, mas acho que é desde agora que nós temos que caminhar para nos diferenciarmos nesse processo.

Um candidato de oposição na Câmara e outro no Senado?
Na Câmara e um candidato de oposição do Senado.

Mesmo sem chance de vencer pelo fato de ter bancada pequena?
Mesmo sem chance. Por um motivo só: você não pode perder o discurso. Você não pode perder a coerência. A popularidade é relativa, mas a coerência é vital. Se você manter uma postura de coerência, você passa a ter o respeito da população. Se começar a configurar que houve o ajeitamento porque ficou melhor aqui para um, ficou melhor com outro, isso aí vai tirando cada vez mais o brilho da oposição. Nós temos que ter agora uma postura que seja a postura da coerência.

Colocará seu nome para concorrer à Presidência do Senado?
Não. Até porque estou chegando agora.

Quem seria o nome de oposição para disputar no Senado?
Temos vários. José Agripino, no meu partido. No PSDB, [Antonio] Anastasia, [José] Serra, Aloysio Nunes. São nomes que hoje têm toda a condição de disputar e de assumir a Presidência daquela Casa.

A presidente Dilma Rousseff deve, tudo indica, nomear a senadora Kátia Abreu, do PMDB-TO, ministra da Agricultura. Qual é a sua opinião sobre essa nomeação?
Se a senadora Kátia Abreu me consultar, eu vou desaconselhar.

Por quê?
Por vários motivos. Primeiro, porque o governo vai tomar atitudes na área econômica e o setor mais penalizado será o agropecuário. E, segundo, a vida nos ensina que não são os nossos opositores os nossos maiores adversários. Nosso maior adversário é o fogo amigo.
Ela [Kátia Abreu] sabe muito bem que, com  a estrutura dentro do Ministério da Agricultura hoje e dentro da base do seu próprio partido, ela não terá sustentação para fazer nenhuma alavancagem ou mudança substantiva em relação ao setor rural –com aquilo que se espera de uma política de infraestrutura para o país, de uma política de capacidade de renda para o setor primário, diminuição da carga tributaria imposta à cesta básica.
Todas essas políticas seriam fundamentais para que o setor se tornasse competitivo internacionalmente.

Mas o sr. considera Kátia Abreu qualificada para ser ministra da Agricultura?
Não tiro o mérito dela. Não existe, por parte da classe, esse apoio a nenhuma representante da Confederação Nacional da Agricultura, para assumir essa função como sendo porta-voz desse setor junto à presidente da República, porque esse governo tem voltado as costas em todos itens.

Mas Kátia Abreu é uma pessoa qualificada para ser ministra?
Você não tenha dúvidas disso. Eu não estou tirando o mérito dela. Estou dizendo que o momento em que ela está sendo colocada é algo que realmente desmonta o discurso da classe e até o próprio discurso da senadora Kátia.

Seria um passo errado na carreira dela?
É o que eu estou dizendo. É lógico que você toma sua decisão de acordo com a sua consciência. Se eu for consultado, vou dizer a ela: “Kátia, permaneça senadora e presidente da CNA. Não assuma isso, porque você sabe que hoje o Ministério da Agricultura é muito mais uma partilha de uma estrutura que não tem nada a ver com o setor rural e, ao mesmo tempo, a base política e sustentação não lhe dará apoio para as mudanças que são necessárias”.

O sr. inicia em 2015 um mandato de senador, de 8 anos. Pretende ser candidato a um cargo executivo em 2018, na metade de seu mandato de senador?
Aprendi muito em 5 mandatos como deputado federal. Em 1989, inverti completamente a lógica: comecei como candidato a presidente da República, com 39 anos de idade. Aprendi que o tempo é que faz com que você possa consolidar ou não a sua expectativa.
Essa tese de dizer “vou ser candidato a presidente da República, vou ser candidato a governador do Estado”... Isso depende de como exercerei o mandato de senador da República.
É isso que me credenciou hoje a ser senador. Durante 5 mandatos como deputado federal, sempre lutei pelo meu Estado, sempre tive uma posição muito clara no Congresso Nacional. Colhi tudo o que plantei nesta eleição [2014]. Contra a máquina de governo. Quebrei um tabu no meu Estado, o de que ninguém ganha uma eleição para o Senado sem apoio de governador. Fui mais votado que o atual governador eleito. Isso é sinal daquilo que você constrói com o seu mandato.
Durante esse tempo todo [os próximos 8 anos], vou me dedicar 100% ao Senado Federal. Dedicação exclusiva. Tempo integral. Vou atuar ali talvez num dos momentos mais lindos da política brasileira –para manter e preservar a democracia diante da maior crise que o país já assistiu.

O momento atual é mais dramático do que durante o governo do então presidente Fernando Collor, em 1992, que sofreu Impeachment?
Muito mais. Não compare uma Elba com a Petrobras.

O sr. se refere à compra de um automóvel Fiat Elba, que foi uma das provas usadas à época...
Não compare uma Elba com a Eletrobrás, portos, rodovias. A extensão é muito maior. Você recompor o governo, reestruturar a maior empresa do país, a quarta maior do mundo, que era orgulho nacional e que hoje foi rebaixada internacionalmente. Hoje não tem mais nem acesso a crédito, só em bancos de quinta categoria com taxas de juros elevadíssimas.
Você acha que é fácil remontar um país? Quando todos os ministérios estão contaminados, fundos de pensão, bancos oficiais, BNDES. Essa é uma tarefa extremamente árdua, difícil. E para isso você terá que ter um homem com espírito público e com uma vida pregressa que o credencie para fazer isso nacionalmente. Esse é um momento muito mais grave do que a época do governo Collor.

Acesse a transcrição completa da entrevista.

A seguir, os vídeos da entrevista (rodam em smartphones e tablets, com opção de assistir em HD):

1) Principais trechos da entrevista com Ronaldo Caiado (7:37)

2) Crise de Dilma é pior que a de Collor no pré-impeachment, diz Caiado (2:25)

3) Oposição deve usar o tom de Carlos Lacerda, diz Caiado (1:31)

4) Em Goiás, Perillo comete fraude fiscal, diz Caiado (1:38)

5) Não há menor chance de Lula voltar em 2018, diz Caiado (2:04)

6) Lava Jato inviabiliza Congresso em 2015, diz Caiado (1:32)

7) Oposição deve ter candidato para presidir Câmara e Senado, diz Caiado (1:19)

8) Kátia Abreu não tem apoio e deveria recusar ministério, diz Caiado (2:28)

9) Quem é Ronaldo Caiado? (1:24)

10) Íntegra da entrevista com Ronaldo Caiado (57 min.)

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