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Agente da Abin relatou medo de prisão pela PF durante ação contra Paraguai

O agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que revelou à Polícia Federal detalhes sobre uma ação hacker contra o governo do Paraguai foi chamado um mês depois para prestar um segundo depoimento e esclarecer dúvidas dos investigadores sobre a operação de espionagem.

Ele relatou um receio dos servidores da agência de serem presos pela própria Polícia Federal brasileira em uma das missões ao exterior e contou o nome secreto usado internamente para a ação: Operação Vórtex.

O UOL revelou na segunda-feira que a Abin, sob o governo Lula, executou uma ação hacker contra autoridades do Paraguai para capturar dados sobre uma negociação comercial da usina hidrelétrica de Itaipu. O planejamento da ação foi iniciado no fim do governo de Jair Bolsonaro.

Após a publicação, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota confirmando a existência da operação de espionagem, mas atribuiu a ação ao governo Bolsonaro e disse que a gestão da Abin de Lula suspendeu a operação ao tomar conhecimento dela em março de 2023 (leia a íntegra da nota abaixo). Pela versão divulgada pelo Itamaraty, Luiz Fernando Corrêa ainda não havia tomado posse como diretor-geral da agência quando a operação estava em andamento.

O governo do Paraguai convocou o embaixador de volta ao país, pediu explicações detalhadas ao Brasil sobre a ação e suspendeu as negociações sobre a comercialização de energia da usina hidrelétrica de Itaipu, que seria o objeto da ação hacker.

Procurada ontem, a Abin não se manifestou sobre o assunto.

Aprovação das instâncias superiores

O primeiro depoimento do oficial de inteligência à PF foi prestado em novembro do ano passado. Para tirar dúvidas sobre as informações, ele compareceu novamente à PF em 27 de dezembro.

Nesse segundo interrogatório, o agente reiterou que a ação teve a aprovação das instâncias superiores da Abin, como o departamento de operações de inteligência e a direção-geral. Disse novamente que dirigentes da Abin sob o governo Lula, como o atual diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa, tinham conhecimento e autorizaram o prosseguimento da Operação Vórtex.

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Uma das dúvidas que a PF queria esclarecer era se a agência havia utilizado contra o governo do Paraguai a ferramenta First Mile, que serve para monitorar a localização de telefones celulares por meio das operadoras de telefonia. Essa ferramenta se tornou alvo da investigação por seu uso político durante o governo Bolsonaro.

O agente respondeu que a ação hacker contra o Paraguai precisava somente da invasão de computadores, feito por meio de um outro programa, o Cobalt Strike, também adquirido pela Abin.

"A ação não demandava nenhuma ação intrusiva de telecomunicações, somente de informática", disse o servidor.

Ele contou que, às vésperas de uma das viagens ao exterior para colocar em prática a ação hacker, havia um receio dentro da Abin de que a informação vazasse para a Polícia Federal brasileira e os agentes envolvidos fossem presos no aeroporto.

"O receio é que a Polícia Federal prendesse o pessoal na imigração", disse. Ele já havia explicado anteriormente que a operação envolveu viagens ao Chile e Panamá para montar servidores virtuais de onde partiriam os ataques aos dispositivos de informática do Paraguai.

Outro lado

Em nota divulgada na segunda-feira, o Itamaraty disse que o governo Lula interrompeu a ação hacker contra o governo do Paraguai e atribuiu a operação ao governo Bolsonaro.

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Leia a íntegra da nota:

"O governo do Presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência, noticiada hoje, contra o Paraguai, país membro do Mercosul com o qual o Brasil mantém relações históricas e uma estreita parceria. A citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da ABIN em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato.

O atual diretor-geral da ABIN encontrava-se, naquele momento, em processo de aprovação de seu nome no Senado Federal, e somente assumiu o cargo em 29 de maio de 2023.

O governo do Presidente Lula reitera seu compromisso com o respeito e o diálogo transparente como elementos fundamentais nas relações diplomáticas com o Paraguai e com todos seus parceiros na região e no mundo."

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

45 comentários

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Mario Aparecido Gusmao

Lula INFORMA - a única coisa que sabe fazer - FOI o BOLSONARO

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Wagner Lazaro da Silva

Deve ser horrível trabalhar num lugar em que você pode ser preso por cumprir seu dever/papel como agente de inteligência em defesa de interesses nacionais.  Agente secreto tendo que dar explicação sobre uma ação secreta estratégica dada por seu superior legalmente constituído. Fim dos tempos.

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Cleomar Silva Nascimento

O governo bolsonarista iniciou. Essa ação rak. Porém está certíssimo.  Abin é um órgão de segurança do estado.  Esse sujeito que vazou essas informações. Deveria ser preso.  

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