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Bumlai usou esquema semelhante ao do mensalão, diz procurador da Lava Jato

Do UOL, em Brasília

24/11/2015 10h56

O pecuarista José Carlos Bumlai, apontado como amigo pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), utilizou um esquema financeiro semelhante ao usado pelo esquema do mensalão para contrair empréstimos. A afirmação é do procurador Carlos Fernando de Lima. Bumlai foi preso nesta terça-feira (24) em Brasília durante a 21ª fase da Operação Lava Jato. Segundo o procurador, Bumlai contraiu empréstimos junto ao Banco Schahin e as dívidas teriam sido quitadas por meio de operações fraudulentas. As investigações apuram se os empréstimos contraídos por Bumlai tinham como destinatário final o PT.

Durante uma entrevista coletiva realizada pela Polícia Federal e pelo MPF (Ministério Público Federal) em Curitiba, o esquema supostamente utilizado por Bumlai para auxiliar o PT foi descrito. Segundo os procuradores, Bumlai teria contraído um empréstimo no valor de R$ 12 milhões junto ao Banco Schahin. Em 2005, a dívida chegou a R$ 18 milhões. De acordo com os procuradores, o Banco Schahin concedeu um novo empréstimo, desta vez para uma empresa ligada a Bumlai, que utilizou os recursos para pagar o primeiro débito. A nova dívida teria sido paga, segundo os procuradores, por meio de contratos fraudulentos a partir dos quais Bumlai, que é pecuarista, teria vendido embriões às fazendas do Grupo Schahin.

Segundo o procurador Carlos Fernando, as operações feitas por Bumlai são parecidas com as operações reveladas durante o escândalo do mensalão. “Há indicativos claros de que se considera uma simulação porque o empréstimo que nunca é cobrado, especialmente por uma instituição financeira, é um indicativo de que eram simulados, mas o método já é o método identificado desde o mensalão”, afirmou o procurador.

O mensalão foi um esquema de compra de apoio político revelado pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB). De acordo com as investigações, o dinheiro repassado a parlamentares e partidos políticos era oriundo de empréstimos firmados pelo empresário e publicitário Marcos Valério junto a bancos como o BMG e Rural. Ao todo, 24 pessoas foram condenadas, entre elas o ex-presidente do PT José Genoíno, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. 

As relações entre Bumlai e o grupo Schahin foram reveladas por delações premiadas do ex-gerente da área Internacional da Petrobras Eduardo Musa e pelo lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. 

Segundo a delação premiada de Musa, a Schahin, que também atua no ramo de construção, conseguiu um contrato de R$ 1,6 bilhão com a Petrobras e esse contrato, realizado sem licitação, teria sido intermediado por Bumlai e Baiano. As suspeitas são de que o Banco Schahin teria perdoado as dívidas contraídas por Bumlai em troca do contrato com a Petrobras.

De acordo com o procurador Carlos Fernando, as investigações da operação Lava Jato indicam que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares foi à sede do Banco Schahin no dia em que o primeiro contrato entre e o banco e Bumlai foi celebrado e que o então ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu telefonou à direção do banco se apresentando como “responsável” pelo empréstimo.

“O que nós temos claramente é um depoimento dizendo que Delúbio Soares compareceu ao Banco Schahin para a realização desse empréstimo e que houve um telefone de José Dirceu ao então presidente do banco, Salim Schahin, para mostrar-se como responsável por esse empréstimo”, disse o procurador.