Lava Jato indica propina de R$ 2,5 milhões a Cabral por obra do metrô
Documentos obtidos na Operação Lava Jato indicam que o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), teria recebido propinas da Odebrecht relacionadas à obra da Linha 4 do metrô da capital fluminense. De acordo com planilhas apreendidas pela PF (Polícia Federal), Cabral seria o beneficiário de cinco pagamentos de R$ 500 mil computados na “contabilidade paralela” da Odebrecht revelada na 26ª fase da Lava Jato, deflagrada na terça-feira (22).
Nos documentos, estão citadas remessas de dinheiro feitas em 2014 para um escritório na Barra da Tijuca, todas vinculadas à “Metro Linha 4-Oeste”. As remessas têm como destinatário alguém identificado com o codinome “Proximus”. Segundo planilhas apreendidas na 23ª fase da Lava Jato e divulgadas nesta quarta-feira (23) pelo blog do Fernando Rodrigues, Proximus é Sérgio Cabral.
Por conta das suspeitas de propina vinculada ao metrô dspano Rio, o escritório da Barra da Tijuca foi alvo de uma ação para busca e apreensão realizada pela PF por determinação do juiz federal Sergio Moro. O próprio juiz ratificou no despacho que deflagrou a 26ª fase da Lava Jato que o local é onde foram realizados os pagamentos relacionados à Linha 4 do metrô carioca.
As remessas estão detalhadas na representação policial sobre investigações a respeito de propinas pagas pela Odebrecht. No documento, estão reproduzidas as planilhas que indicam que Proximus --codinome de Cabral-- é destinatário de cinco pagamentos de R$ 500 mil. Ou seja, um total de R$ 2,5 milhões.
A construção da Linha 4 do Metrô carioca é uma obra do governo do Estado do Rio de Janeiro iniciada em 2010, durante a gestão de Cabral, e incluída como uma das promessas de legado da Olimpíada de 2016. A obra, inicialmente, custaria R$ 5,6 bilhões. Hoje, porém, já está orçada em R$ 10,3 bilhões.
O projeto é tocado com um grupo de empresas, da qual fazem parte a Carioca Engenharia, a Queiroz Galvão e a própria Odebrecht. Todas essas empresas estão envolvidas em casos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato.
Cabral já é alvo de investigação
O ex-governador Sérgio Cabral é alvo de um inquérito da PF por supostamente ser beneficiário da corrupção na Petrobras investigada pela Lava Jato. O doleiro Alberto Youssef, um dos primeiros delatores do esquema, já afirmou que Cabral recebeu R$ 30 milhões em doações ilegais durante sua campanha de reeleição, em 2010.
Cabral sempre negou envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Nesta quarta, reafirmou sua inocência: "Todas as contribuições das campanhas eleitorais do ex-governador Sérgio Cabral foram de acordo com o que estabelece a lei", declarou, via assessoria de imprensa.
Vale lembrar que, em 2014, quando foram feitos os pagamentos da Odebrecht foram realizados, Cabral não disputou eleição.
A Odebrecht, por sua vez, é hoje o principal foco da Lava Jato. Na terça, a empresa foi alvo de uma grande operação da PF, que suspeita da existência de um setor de contabilidade na empresa voltado exclusivamente ao pagamento de propinas. Esse setor teria operado inclusive depois da prisão do presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, em junho do ano passado.
Marcelo já foi condenado a 19 anos e 4 meses de prisão.
Na terça, após a operação da PF, a Odebrecht divulgou uma carta aberta informando estar disposta a fazer uma “colaboração definitiva” com a Justiça. Na carta, informa que a Lava Jato revelou a “existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país”. Declarou, contudo, que não tem “responsabilidade dominante” sobre os crimes apurados na Lava Jato.
Mais de 200 políticos vinculados à Odebrecht
O blog do Fernando Rodrigues revelou nesta quarta planilhas que apontam relações de 200 políticos, de 18 partidos, com a Odebrecht. As tabelas indicam repasses da construtora a prefeitos, governadores e parlamentares –alguns deles identificados com apelidos. Alguns valores são incompatíveis com doações declaradas em campanhas eleitorais.
Entre os citados nas planilhas, estão: Humberto Costa (codinome Drácula), Eduardo Cunha (codinome Carangueijo) e Aécio Neves.
Humberto Costa (PT-PE, líder do governo no Senado) afirmou em nota: “Como consta da prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral, não houve qualquer doação da Odebrecht à campanha de Humberto daquele ano“.
O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB-MG), declarou que o dinheiro recebido está todo declarado.
Eduardo Cunha (presidente da Câmara, PMDB-RJ) afirmou ao blog do Fernando Rodrigues: “Não me recordo com quem conversava. Efetivamente, houve [doação]. Tinha reunião de várias pessoas do PMDB com representantes deles [Odebrecht] para pedir a doação”.
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