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Dilma: 'Se fazem isso contra mim, o que não farão contra o povo?'

Do UOL, em Brasília

30/03/2016 13h12Atualizada em 30/03/2016 13h59

Sob muitos gritos de “não vai ter golpe”, foi lançada nesta quarta-feira (30) a terceira fase do programa Minha Casa, Minha Vida. O lançamento, no Palácio do Planalto, teve clima de comício e acontece um dia depois de o PMDB, maior partido do Congresso Nacional, oficializar sua saída da base aliada.

"A democracia é um direito que nós conquistamos. Não caiu do céu. Ela foi conquistada com muito empenho e grande participação de todos nós brasileiros e brasileiras que ao longo dos anos resistimos, metabolizamos e no fim engolimos a ditadura. A Constituição de 1988 tem de ser honrada porque reflete nossas lutas", afirmou a presidente. "Não existe essa conversa: 'Não gosto do governo, então ele cai'. Impeachment está previsto na Constituição. Mas é absolutamente má-fé dizer que todo impeachment está correto. Para isso, precisa haver crime de responsabilidade. Impeachment sem crime de responsabilidade é o quê? É golpe."
 
Lembrou, em sua defesa, que as contas de 2015 do governo, usadas como justificativa para a abertura do processo de impeachment na Câmara, ainda não foram julgadas. "As contas de 2015 só vão ser apresentadas em abril, sequer foram julgadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União) nem pelo Congresso. Que processo é esse? É um processo golpista", declarou. "Se fazem isso contra mim, o que não farão contra o povo?"
  
Ela também criticou a intolerância atual. "Lamento aqueles que vem destilando ódio entre brasileiros e brasileiras. Isso é grave porque a intolerância é a base da violência. Acreditar que o outro não merece respeito é a base da violência."
 
"Não agridem a mim simplesmente. Não é só a mim que pretendem atingir. Eu lamento que se crie na sociedade brasileira um clima de intolerância e ódio. Eu acho que isso é imperdoável. O Brasil é um país que gosta do diálogo, do convívio. Ora, ressentimento, preconceito é algo que tínhamos passado ao largo apesar do preconceito contra os negros do nosso país, que temos de enfrentar."
 
Dilma rebateu ataques ao programa assistencial e a campanhas lançadas contra o governo. "Os tributos são fundamentais para o povo não pagar o pato. Temos orgulho de subsidiar porque sabemos que a conta do bolso do trabalhador brasileiro, dos quilombolas, não fecha", afirmou Dilma, criticando, sem citar nomes, campanha lançada pela Fiesp sobre impostos. A entidade apoia o impeachment de Dilma.

Antes dela, discursaram líderes de movimentos sociais. A fala mais dura foi de Guilherme Boulos, coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). "O impeachment em si não é golpe. Mas sem crime de responsabilidade e conduzido por um bandido na presidência da Câmara é golpe, sim. Não tem legitimidade", disse em referência ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). 

Ele também afirmou que "estamos e estaremos nas ruas para resistir a esse golpe". “Isso [golpe] não funciona mais hoje. Não funcionará e é por isso que dizemos: vai ter luta, vai ter resistência. Não passarão com esse golpe de araque no Brasil.”

"Pode gemer, pode chorar. A Dilma fica e o Lula vai voltar", entoaram integrantes de movimentos sociais ligados ao direito a moradia. Eles também gritaram palavras de ordem contra a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). "Fiesp, golpista. Temer, golpista. OAB, golpista. Sérgio Moro, golpista", eram frases usadas pelos militantes.

Outro que foi alvo dos militantes foi o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em diversos momentos antes do lançamento, os militantes gritaram: "Fora, Cunha". Entre os movimentos sociais que participaram do evento estão MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), FNL (Frente Nacional de Luta Campo e Cidade) e MNLM (Movimento Nacional de Luta pela Moradia).

Entre os ministros presentes ao evento estavam Marcelo Castro (Saúde), Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Kátia Abreu (Agricultura), todos do PMDB. A ida ao evento acontece um dia depois de o diretório nacional do PMDB ter decidido, por aclamação, a saída do partido da base governista. Segundo o vice-presidente do partido, Romero Jucá (RR), filiados ao partido não podem mais ocupar cargos no governo. Mesmo assim, pelo menos esses três de seis ministros do PMDB dão demonstrações de que querem permanecer no governo

Em busca de apoios

Pouco antes do lançamento, Dilma se reuniu com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, e representantes de movimentos sociais ligados à reforma agrária. A reunião é uma tentativa de o Planalto estreitar suas relações movimentos tradicionalmente ligados ao PT.

Nesta quinta-feira (31), está prevista uma manifestação em diversas capitais em apoio ao governo da presidente Dilma e contra o impeachment.

A terceira fase do Minha Casa, Minha Vida já vinha sendo planejada pelo governo desde 2014, mas o agravamento da crise econômica fez com que o lançamento fosse atrasado e os números do programa revisados. Inicialmente, havia a previsão de que a nova etapa do programa construísse 3 milhões de moradias, mas agora a estimativa é que esta fase construa 2 milhões de residências até 2018.