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Além de Jucá, 2 ministros de Temer são citados na Lava Jato; entenda acusações

Leandro Prazeres e Flávio Costa

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

07/06/2016 12h32

A Operação Lava Jato, uma das principais responsáveis pela queda na popularidade da presidente afastada, Dilma Rousseff (PT), também vem causando danos sérios ao governo do presidente interino, Michel Temer (PMDB).

Dos 23 ministros nomeados inicialmente por Temer, três dos mais próximos a ele estavam na condição de investigados ou citados em delações e investigações da Lava Jato: Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves e Geddel Vieira Lima. Nesta terça-feira, veio a público o pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para prender Jucá -- além de outras lideranças do PMDB.

Desse grupo, agora, restam dois: Henrique e Geddel. O número de ministros investigados ou citados pela Lava Jato, no entanto, pode ser ainda maior na medida em que parte das investigações corre em segredo de Justiça. 

A reportagem do UOL esmiuçou delações e relatórios da Polícia Federal para mostrar o que a operação diz sobre três dos homens mais próximos do presidente interino.

ROMERO JUCÁ

romero juca - Felipe Rau/Estadão Conteúdo - Felipe Rau/Estadão Conteúdo
Romero Jucá é o presidente nacional em exercício do PMDB
Imagem: Felipe Rau/Estadão Conteúdo

Quem é?

Senador pelo PMDB de Roraima e ex-ministro do Planejamento do governo Temer

Qual sua situação na Operação Lava Jato?

Romero Jucá é alvo de dois inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal). Em um deles, o senador é suspeito de integrar a organização criminosa que atuou na Petrobras e no outro, um desdobramento da operação, é relacionado à corrupção na Eletronuclear. Jucá é citado por pelo menos quatro dos principais delatores da Lava Jato: o ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, o lobista Fernando Soares, o doleiro Alberto Youssef e o ex-senador Delcídio do Amaral.

Do que ele é suspeito?

Delatores da Operação Lava Jato afirmam que Jucá faz parte de um grupo de líderes do PMDB que deu suporte à permanência de Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento da Petrobras. Em “retribuição” pelo apoio, o PMDB deveria receber dinheiro de propina de contratos feitos pela diretoria. 

Em um dos seus depoimentos, Paulo Roberto Costa afirmou que avisava e marcava reuniões com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá. Os temas das reuniões eram os ‘projetos’, ou seja, as obras que seriam destinadas às empresas de interesse dos senadores”.

Outro que fez acusações contra Jucá foi o ex-senador Delcídio do Amaral, que também fez um acordo de delação premiada. Ele afirma que o grupo de empresas que construiu a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, teria pago propinas no valor de R$ 30 milhões ao PT e ao PMDB e que a parte destinada ao PMDB teria beneficiado Jucá.

Conversas gravadas pelo delator e ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado revelaram conversas nas quais Jucá afirma que era necessário fazer um “pacto” e “mudar o governo” para “estancar a sangria” supostamente causada pela Operação Lava Jato. Após a divulgação das gravações, Jucá deixou o ministério do Planejamento e teve seu pedido de prisão efetuado pela PGR

Sergio Machado - Luciana Whitaker/Valor - Luciana Whitaker/Valor
Sergio Machado gravou conversas com Romero Jucá
Imagem: Luciana Whitaker/Valor

O que Jucá diz sobre o assunto?

A reportagem do UOL perguntou ao senador se ele se encontrou com Paulo Roberto Costa dentro ou fora do Senado (como informado por Costa) e se ele participou da articulação que deu apoio a Costa na Petrobras. A reportagem também questionou qual era a posição do senador sobre as alegações feitas pelo ex-senador Delcídio do Amaral de que Jucá fazia parte de um grupo de políticos que recebeu propina oriunda da obra da usina hidrelétrica de Belo Monte.

A assessoria de imprensa de Jucá respondeu às perguntas da seguinte maneira: “A assessoria de imprensa do senador Romero Jucá informa que já foram prestadas à PGR todas as informações pertinentes ao processo. O senador também não tem relação com Paulo Roberto da Costa nem com a Petrobras”.

HENRIQUE EDUARDO ALVES

Henrique Eduardo Alves - Alan Marques/Folhapress - Alan Marques/Folhapress
Henrique Eduardo Alves foi ministro do Turismo e presidente da Câmara
Imagem: Alan Marques/Folhapress

Quem é?

Ex-deputado federal pelo PMDB do Rio Grande do Norte, ex-presidente da Câmara dos Deputados e atual ministro do Turismo

Qual sua situação na Operação Lava Jato?

Henrique Eduardo Alves é alvo de dois pedidos de abertura de inquérito feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF, que ainda não se pronunciou. Em um deles, a PGR pede que ele seja investigado por suspeitas de envolvimento no chamado "quadrilhão" investigado pela operação. Em outro, o foco é a relação de Henrique Alves com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro. 

Do que ele é suspeito?

Alves é suspeito de fazer parte do grupo de políticos que deu suporte para que Paulo Roberto Costa continuasse na diretoria de Abastecimento da Petrobras em troca de propinas destinadas ao PMDB. O ministro também é suspeito de ter recebido propina do petrolão para a sua campanha ao governo do Rio Grande do Norte, em 2014. 

Investigadores da Lava Jato colheram centenas de mensagens de texto em aparelhos de telefone do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, que indicam que o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), intermediou doações da OAS para a campanha de Henrique Eduardo Alves ao governo do Rio Grande do Norte em 2014.

De acordo com reportagem publicada nesta segunda-feira (6) pelo jornal Folha de S.Paulo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou em um despacho encaminhado ao relator da Operação Lava Jato no STF, Teori Zavascki, que a campanha de Alves para o governo do Rio Grande do Norte recebeu recursos do chamado petrolão.

Paulo Roberto Costa - Marcelo Camargo/Agência Brasil - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Delator da Lava Jato, Paulo Roberto Costa implicou Henrique Alves no petrolão
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O que Henrique Alves diz sobre o assunto?

A assessoria de imprensa de Henrique Eduardo Alves enviou uma nota ao UOL afirmando que ele “nunca participou de qualquer reunião do PMDB” com a finalidade de dar suporte à permanência de Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento da Petrobras.

Sobre as doações supostamente intermediadas por Eduardo Cunha e seu relacionamento com Léo Pinheiro, Henrique Eduardo Alves disse “que todas as doações para a campanha ao governo do Rio Grande do Norte foram legais e estão disponíveis no Tribunal Superior Eleitoral, como determina a lei”. Sobre as ligações entre ele, políticos e empresários, o ministro disse que essas “relações são pautadas pela ética, cordialidade, respeito recíprocos e a liturgia institucional do cargo público ocupado”.

GEDDEL VIEIRA LIMA

Geddel trio ternura - Danilo Verpa - 20.abr.2016/Folhapress - Danilo Verpa - 20.abr.2016/Folhapress
Geddel Vieira Lima chega para reunião com Michel Temer em São Paulo, em abril
Imagem: Danilo Verpa - 20.abr.2016/Folhapress

Quem é?

Ex-deputado federal pelo PMDB da Bahia, ex-ministro da Integração Nacional, ex-vice-presidente da Caixa Econômica e atual ministro da Secretaria Geral

Qual sua situação na Operação Lava Jato?

Geddel Vieira Lima não é alvo de inquéritos da Operação Lava Jato. Sua ligação com a Lava Jato, até o momento, se resume à interceptação de mensagens de celular entre ele e Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS.

Do que ele é suspeito?

Apesar de ainda não ser alvo de nenhum inquérito, Geddel Vieira Lima entrou no radar da Operação Lava Jato desde pelo menos janeiro deste ano. Mensagens entre Geddel e Léo Pinheiro foram interceptadas pela Polícia Federal e levantaram suspeitas sobre se ele teria favorecido a empreiteira enquanto ocupou a vice-presidência da Caixa Econômica, entre os anos de 2011 e 2013. Em uma das conversas interceptadas pela PF, Geddel e Léo Pinheiro falam sobre a liberação de recursos da Caixa para as obras da via expressa Transolímpica, no Rio de Janeiro.

Entregue à Procuradoria-Geral da República, o relatório da PF afirma que Pinheiro “demonstra ver em Geddel um agente político que pode ajudar na relação da OAS com órgãos e bancos.”

Em outra troca de mensagens, o então presidente da OAS procura explicar a Geddel a razão que o fez ter repassado “5 paus a Michel”, em uma suposta referência a doações de campanha entregues ao então candidato a vice-presidente Michel Temer.

Léo Pinheiro tomou essa atitude depois de o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ter-lhe dito que essa doação causou “desconforto” em alguns deputados peemedebistas.
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Léo Pinheiro - Rafael Arbex/Estadão Conteúdo - Rafael Arbex/Estadão Conteúdo
Ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro foi condenado a 16 anos em um dos processos da Lava Jato
Imagem: Rafael Arbex/Estadão Conteúdo

O que Geddel diz a respeito?

Questionado pela reportagem do UOL, Geddel negou qualquer irregularidade nas mensagens. “Eu troco mensagens com todo mundo. Léo Pinheiro era um empresário à época, bem-sucedido e não tinha nenhuma acusação contra ele [...] Não tem nada ali na troca de mensagens que não tenha clareza no mérito e tanto é que, contrário ao que maledicentemente alguns órgãos de imprensa insistem em colocar, eu não respondo a nenhuma investigação, não tenho nenhum inquérito, nenhum problema com isso”, disse Geddel.

O ministro também negou ter favorecido a OAS durante sua passagem pela Caixa Econômica Federal. “Em nenhum instante (favoreci a OAS). As conversas são públicas”, disse.

 Sobre as mensagens em que ele e Léo Pinheiro supostamente conversam sobre doações de campanha a uma pessoa chamada “Michel”, Geddel disse não ser ele o autor.

“Não conheço essa mensagem. As mensagens que eu conheço são as que estão publicadas. Não conheço, não me recordo”, afirmou.