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Ele acendeu o cigarro no ônibus incendiado e um fotógrafo flagrou: "não acreditei"

Até a manhã desta sexta-feira (16), a imagem tinha quase 5.000 curtidas no Facebook - Adriano Machado/Reuters
Até a manhã desta sexta-feira (16), a imagem tinha quase 5.000 curtidas no Facebook Imagem: Adriano Machado/Reuters

Fausto Carneiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

16/12/2016 07h54

Uma fotografia feita em Brasília na última terça-feira (13), durante os protestos contra a votação da PEC que limita os gastos públicos, viralizou na internet ao mostrar um rapaz acendendo um cigarro em um ônibus incendiado na manifestação. O protesto terminou com 75 pessoas detidas e vários policiais e manifestantes feridos.

O autor do flagrante, o fotógrafo da agência Reuters Adriano Machado, 40, disse que fazia imagens do ônibus incendiado por manifestantes próximo à sede do Banco do Brasil quando viu o rapaz “andando calmamente” próximo ao veículo em chamas.

“Subi em direção à rodoviária, a polícia estava prendendo gente e eu fui atrás. Ouvi o barulho de uma explosão e corri. Eu vi manifestantes fugindo e vi o ônibus pegando fogo. De repente aparece o cara, tranquilamente indo para o ônibus pegando fogo. Ele arrancou a carteira de cigarro e eu não acreditei que ele ia acender no ônibus. Não acreditei”, disse.

Machado afirmou que o rapaz não parecia participar dos protestos. “Não era daquela turma que estava quebrando tudo, de máscara. Ele não me viu. Eu estava a 50 metros dele e estava muito quente por causa das chamas. Mas ele acendeu (o cigarro), botou na boca e foi embora na maior calma”, disse.

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 Na verdade, o jovem que aparece nas imagens, estudante da Universidade de Brasília, participava do protesto. Procurado pelo UOL, ele disse que o foco das pessoas não deveria ser a foto, mas o protesto contra a PEC. Ele disse que responderia por escrito às perguntas da reportagem, o que não ocorreu até noite de quinta-feira (15).

O fotógrafo Adriano Machado afirmou não ter pensado na simbologia da imagem apontada por internautas quando fez o registro. "O que me chamou a atenção foi o jeito meio alheio a uma situação de extrema violência. Ele acendeu o cigarro e foi saindo tranquilamente." 

No site da agência "Reuters", a foto de Machado aparecia no dia 13 como uma das melhores imagens do dia.

Acostumado a cobrir manifestações, Machado disse que elas estão ficando cada vez mais violentas. “Essas últimas eu acompanhei também. Sempre no olho do furação. E o que eu vi é muita violência. As pessoas chegaram para agir com violência, não foi para fazer manifestação. Tinha gente atirando bolinha de gude com estilingue, para machucar”, relatou.

Repercussão na internet

Na web, houve quem dissesse que a fotografia resumia o atual momento do país. “Sobre 2016, amiga... Essa imagem define”, escreveu uma internauta a uma colega. “Admire a melhor foto do ano”, disse outra a um amigo. A um conhecido que vive na Nova Zelândia, uma garota escreveu: “Aren't Brazilians the best? (Brasileiros não são os melhores?)".

Também não faltou quem fizesse brincadeiras com a situação. "Na falta de isqueiro, já sabem o que fazer", escreveu um internauta.  "Se vc fez a fogueira, o mínimo é acender o cigarro nela", "em meio ao caos... um cigarrin pra aliviar a alma AHHA" e "En mi país dirían 'Joven incendia bus con su cigarro' (No meu país diriam: 'Jovem incendeia ônibus com seu cigarro')", comentaram outros.

Outra foto

No dia 29 de novembro, outra fotografia de protesto em Brasília rodou o mundo. A imagem feita pela jornalista Gisele Arthur mostrava um evento na Câmara dos Deputados no exato instante em que a polícia jogava bombas de gás contra manifestantes do lado de fora do Congresso durante a votação do projeto de medidas contra a corrupção.

foto da jornalista Gisele Arthur, de Brasília - Reprodução/Gisele Arthur - Reprodução/Gisele Arthur
Imagem: Reprodução/Gisele Arthur

Na foto, participantes de um coquetel próximos a uma das janelas de vidro da Câmara pareciam alheios à explosão das bombas e à correria de manifestantes junto ao espelho d'água do Congresso, a poucos metros de distância do evento. "Não imaginava que essa foto ia rodar o mundo. Foi uma loucura. Até jornalista dos Estados Unidos ligou para mim", disse ao UOL a autora.

Embora a foto mostre a maior parte das pessoas alheia ao que ocorria do lado de fora do Congresso, Gisele disse que a confusão assustou quem estava no evento e em outras dependências da Câmara. "Os deputados no café estavam todos olhando. Mas ao mesmo tempo, eu achei aquilo muito louco, o vidro, a manifestação lá fora".

PEC dos Gastos

O Congresso Nacional promulgou na quinta-feira (15) a Proposta de Emenda à Constituição que estabelece um teto para os gastos públicos pelos próximos 20 anos. Pelas novas regras, os gastos só podem aumentar na mesma proporção que a inflação do ano anterior. Os gastos com saúde e educação só entram na conta a partir de 2018.

A proposta do governo Michel Temer é uma aposta para tentar reequilibrar as contas públicas e retomar o crescimento econômico. Parlamentares da oposição, no entanto, dizem que a medida vai provocar a falta de investimentos em saúde e educação, o que o governo e a base aliada no Congresso sempre negaram.

Caso um Poder não cumpra o teto de gastos, ele fica sujeito a sanções no exercício fiscal seguinte, como a proibição de dar reajuste ao funcionalismo ou abrir concurso público.

Pesquisa Datafolha divulgada na segunda-feira (12) apontou que 60% dos entrevistados se disse contra o teto de gastos. A proposta era aprovada por 24% da população. A pesquisa ouviu 2.828 pessoas nos dia 7 e 8 de dezembro.

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