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Apelidado de 'Botafogo', Maia é 1º na linha sucessória e decide sobre impeachment

Temer transmite a Presidência interinamente ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), antes de viajar para reunião do G-20, na China - Reprodução/Twitter
Temer transmite a Presidência interinamente ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), antes de viajar para reunião do G-20, na China Imagem: Reprodução/Twitter

Carolina Farias

Colaboração para o UOL, no Rio

19/05/2017 04h00

Com perfil discreto e sem nunca ter sido eleito para um cargo majoritário em seu Estado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) conseguiu um protagonismo político inesperado.

Ele vai decidir sobre o prosseguimento ou não do pedido de impeachment protocolado por deputados na Câmara contra o presidente Michel Temer. 

Também é o primeiro na linha sucessória no caso de afastamento do peemedebista. Se Temer deixar o Planalto, Maia assume o cargo e tem 30 dias para convocar eleições indiretas.

A crise no governo se instaurou a partir do vazamento da acusação do empresário Joesley Bastista, dono da JBS, de que Temer deu o aval para pagamento de propina para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, preso em Curitiba.

Filho do ex-deputado, ex-prefeito do Rio e hoje vereador Cesar Maia, o deputado federal, de 46 anos, nasceu em Santiago, no Chile, enquanto seu pai era exilado político.

Aos 26 anos, foi nomeado secretário de Governo da Prefeitura do Rio de Janeiro, em 1997, na gestão de Luiz Paulo Conde. 

Elegeu-se como deputado no ano seguinte, aos 28 anos. Quando tentou ser prefeito do Rio, em 2012, ficou em quarto lugar na disputa, com somente 2% dos votos. 

"Ele tem uma trajetória discreta na política do Rio. Sempre teve votação garantindo a vaga na Câmara, mas nada que lhe desse condição de disputar um cargo majoritário. Ele não tem brilho para uma candidatura para prefeito, governador. Depois de 2012 se acomodou na Câmara", disse o professor Ricardo Ismael, da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio).

Em julho de 2016, após a renúncia de Cunha, foi alçado à presidência da Câmara e chegou a se emocionar, dizendo que havia tomado calmantes.

Maia teve que recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) para poder participar da disputa. Isso porque ele chegou à presidência por meio de um "mandato-tampão" depois que Cunha renunciou.

Ele foi reeleito em fevereiro para o biênio 2017-2018 por 293 votos, com o apoio de um bloco formado por 13 partidos (PMDB, PSDB, PP, PR, PSD, PSB, DEM, PRB, PTN, PPS, PHS, PV e PTdoB). 

Sua candidatura chegou a ser contestada na Justiça, mas ele conseguiu uma liminar no STF para participar da eleição. A decisão provisória saiu uma hora e meia antes do fim do prazo para registrar a candidatura. 

Os opositores de Maia alegavam que, pelo regimento da Câmara, a reeleição na mesma legislatura, que termina em fevereiro de 2019, era proibida. Já ele afirmou que foi eleito para um mandato-tampão de seis meses.

"O momento mais importante dele é quando consegue a reeleição na Câmara. Ele mostrou que tem capacidade com o apoio do Planalto. Rodrigo não tem brilho tão grande na Câmara como formulador de agenda, mas pautava o que vinha da equipe de Temer", acrescentou Ismael.

Sogro influente

É casado com Patrícia Vasconcelos Maia, enteada do ministro Moreira Franco (PMDB) --ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência--, com quem tem três filhas e um menino. Para Ismael, a influência do sogro pode ter sido decisiva para ter chegado à posição que ocupa hoje.

"Com a queda do Cunha, o Planalto pensou nele. Moreira Franco foi importante. Maia não é tão ligado a Temer e ao PMDB no Estado dele", afirmou o professor.

Apesar de claramente ter entrado na política tendo o pai como inspiração –-entre a década de 1990 e os anos 2000 Cesar Maia foi prefeito por 12 anos-–, Maia tem uma postura bem diferente da do ex-prefeito.

"O pai adora uma polêmica. Quando está em mandato, sempre cria um factoide, tem um perfil histriônico. Rodrigo é mais discreto, tímido, como se [a política] não fosse sua praia, por isso nunca decolou para um cargo majoritário", comentou o especialista.

Cesar Maia elogia o filho e diz que ele tem características em sua personalidade boas para um político. "Ele sabe ouvir. Tem talento para ouvir e articular. Eleito cinco vezes deputado federal, sua ascensão é produto do talento”, diz. Ele não descarta que o filho chegue à Presidência. "Esse é um projeto para muitos anos mais", declarou, finalizando: "Quem se aconselha com ele sou eu".

Para a Odebrecht, ele era o "Botafogo"

Maia também não escapou de ser citado nas planilhas de pagamento de propina de caixa dois da Odebrecht. Ele aparece como "Botafogo", assim como outros citados apelidados com nomes de times. 

Na lista Maia é "volante", como outros deputados federais. Já os estaduais são os "zagueiros". 

O atual presidente da Câmara está na planilha JP, organizada por João Antônio Pacífico Ferreira, ex-diretor superintendente da área de estrutura da empreiteira nas regiões Norte, Norte e Centro-Oeste. Nela, ele aparece com o valor de "passe" de R$ 100 mil.

Ao lado do pai, Maia ainda aparece na delação de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, ex-diretor de Infraestrutura da Odebrecht. 

A Procuradoria-Geral da República abriu inquérito com base na delação em que o ex-executivo diz que foram repassados R$ 350 mil em 2008 "com pretexto de contribuição eleitoral". No entanto, nenhum dos dois foi candidato naquele ano. Ambos negam as acusações.

Quem é Rodrigo Maia?

UOL Notícias