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Ex-subsecretário de Cabral fecha delação e diz ter repassado R$ 4,5 milhão ao deputado Julio Lopes

Então subsecretário de Turismo, Luiz Carlos Velloso foi preso em sua casa em março - Gabriel de Paiva/Agência O Globo
Então subsecretário de Turismo, Luiz Carlos Velloso foi preso em sua casa em março Imagem: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio*

11/12/2017 15h42

Após Carlos Miranda, apontado como o principal operador do esquema de propina do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), ter firmado acordo de delação premiada, o ex-subsecretário estadual de Transportes Luiz Carlos Velloso informou nesta segunda-feira (11) em depoimento ao juiz Marcelo Bretas que teve o acordo de colaboração com o Ministério Público Federal homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Velloso disse ter recolhido R$ 4,5 milhões em propinas com empreiteiras que faziam parte do consórcio de metrô da Linha 4. Os valores, segundo ele, foram repassados ao deputado federal Julio Lopes (PP-RJ), então secretário de Transportes, 

Cerca de R$ 3,5 milhões foram depositados em uma conta “não-oficial” na corretora Advalor Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda. A maior parte desses valores, disse o ex-subsecretário, eram depositados pelo ex-diretor de contratos da Odebrecht Marcos Vidigal do Amaral, que seria o responsável por recolher a propina entre as outras empreiteiras do consórcio. 

A conta teria como principal objetivo financiar a campanha à reeleição de Lopes, mas ao menos R$ 1 milhão, segundo Velloso, foi destinado ao pagamento de despesas pessoais de Lopes.

Velloso disse ainda ter repassado mais R$ 1 milhão em espécie, pagos por Vidigal para o deputado, única vez em que os valores não foram para a corretora. Lopes, por sua vez, teria repassado o valor para o empresário Georges Sadala, preso preventivamente no fim de novembro.

"Ouvi Sadala dizer [ao deputado Júlio Lopes] que iria mobilizar esse dinheiro em um empreendimento imobiliário em Botafogo e que, conforme a necessidade de campanha, era só o deputado solicitar que ele repassaria de volta", afirmou.

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Velloso afirmou também que, por decisão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), todas as questões gerenciais relacionadas à Linha 4 do metrô ficaram a cargo da Secretaria de Casa Civil. À época, a pasta era comandada por Régis Fichtner, homem de confiança de Cabral, apontado em outras delações como o responsável por cuidar da estrutura da propina dentro do governo.

Durante todas as audiências desta segunda -- foram ouvidos ainda Carlos Miranda e Luiz Bezerra, indicados como operadores financeiros de Cabral, e o ex-diretor de engenharia da Riotrilhos (Companhia de Transportes sobre Trilhos do Estado do Rio) Heitor Lopes de Sousa Junior --, Bretas fez questão de perguntar aos réus que fecharam acordos de delação premiada se haviam sofrido algum pressão ou represália tanto para se tornarem informantes quanto para se manterem calados.

“Estar em uma cela faz você fazer uma série de reflexões”, afirmou ele, ao ser questionado por Bretas sobre o que o motivou a firmar o acordo de colaboração.

De acordo com a defesa de Julio Lopes, as afirmações de Velloso são “inverídicas e caluniosas”. “Acaso confirmada a existência da delação, não será, lamentavelmente, o primeiro caso, na história recente de nosso país, em que uma pessoa mente para sair da prisão”, afirmou o advogado Pedro Ivo Velloso.

A Odebrecht informou, em nota, que está "colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua". "Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Equador e Panamá, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas.”

UOL procurou a assessoria do empresário Georges Sadala sobre a acusação de Luiz Carlos Velloso, mas ainda não obteve retorno.

O advogado de Sérgio Cabral, Rodrigo Roca, refutou as acusações e criticou o instrumento da delação premiada.

"Os inúmeros defeitos da norma que rege a delação premiada no Brasil acabaram dando azo a uma verdadeira indústria de delatores, não apenas no caso do Ex-Governador, mas em todo o país. No caso de SÉRGIO CABRAL, não há uma só pessoa que tenha prestado declarações favoráveis à acusação que não tenha obtido ou espere obter algum benefício processual (redução da pena, liberdade, etc.). Cada qual tem como preocupação exclusiva o tamanho da pena que vai lhe caber. A última coisa que passa nas cabeças dessas pessoas é a verdade ou a justiça. O Sr. Carlos Miranda é apenas mais um exemplo dessa prática nefasta", disse o defensor, por meio de nota.

A reportagem procurou a corretora Advalor por telefone, mas ouviu de um funcionário que não havia ninguém na empresa, naquele momento, que pudesse comentar a acusação feita por Velloso. A Odebrecht também foi procurada.

Na denúncia, o Ministério Público Federal narrou, a partir do acordo de leniência da Carioca Engenharia, que o esquema de corrupção existente na Secretaria de Obras, durante a administração de Cabral também chegou à Secretaria de Transportes --especificamente na construção da linha 4 do metrô. O custo da obra foi orçado, inicialmente, em R$ 880 milhões e reajustado, em 2015, para R$ 9,6 bilhões.

As audiências desta segunda têm como foco os pagamentos de propina relacionados à empresa Carioca Engenharia. Antes de Miranda, a Justiça ouviu o empresário Ricardo Pernambuco, que reiterou ter pagado propinas mensais de R$ 500 mil ao governo.

*Colaborou Bernardo Barbosa, do UOL, em São Paulo

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