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Salvo no Rio, Crivella votou por afastamento de Dilma por "grave crise econômica"

O atual prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, abraça a então presidente Dilma Rousseff ao tomar posse como ministro da Pesca e Aquicultura - Alan Marques/Folhapress - 2.mar.2012
O atual prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, abraça a então presidente Dilma Rousseff ao tomar posse como ministro da Pesca e Aquicultura Imagem: Alan Marques/Folhapress - 2.mar.2012

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

13/07/2018 11h42

Salvo nesta quinta-feira (12) pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro de enfrentar um processo de impeachment, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) votou pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) quando era senador, há pouco mais de dois anos, com base em “indícios de crimes de responsabilidade” e de “uma grave crise econômica, política e social”.

"Se, de um lado, não resta sombra de dúvida de que a presidenta é honesta e tem relevantes serviços prestados à nação, também não resta dúvida de que há indícios de crimes de responsabilidade cometidos em sua gestão e de uma grave crise econômica, política e social, em tese, advinda dela", declarou Crivella, na sessão do dia 11 de maio de 2016.

Na ocasião, ele fez questão de frisar o “pesar” em votar a favor da abertura do processo para investigar supostas irregularidades praticadas na gestão da petista, apoiada pelo senador nas eleições de 2014, quando ele concorreu ao governo do Estado. Ele, inclusive, foi ministro da Pesca e Aquicultura entre 2012 e 2014. Seu partido, o PRB, integrou a base durante o primeiro e parte do segundo mandato de Dilma.

Vencedor das eleições municipais de 2016, o ex-senador disse ter enfrentado no seu primeiro ano de gestão “a pior crise econômica e fiscal do Estado e da cidade do Rio de Janeiro”, em artigo publicado no jornal “Folha de S.Paulo” em fevereiro passado.

Com pouco mais de um ano e meio de mandato, Crivella foi alvo de pedidos de impeachment por conta de uma reunião realizada por ele com um grupo de evangélicos no Palácio da Cidade, na semana passada, quando o prefeito ofereceu facilidades a pastores e líderes de igrejas. A Câmara rejeitou a admissibilidade por 26 votos contra a 19 favoráveis.

Diante do resultado, o prefeito afirmou em seu perfil no Facebook que os requerimentos não tinham base jurídica. "Eu quero agradecer a Deus, quero agradecer também aos vereadores da base que com muita firmeza rejeitaram o pedido que não tinha nenhuma base jurídica, não tinha nenhuma razão", disse, em um vídeo.

Diferentemente do que acontece com um presidente da República no âmbito do Senado, o prefeito não seria imediatamente afastado caso a Câmara decidisse abrir um processo de impeachment contra ele.

Pedidos de impeachment

A reunião foi revelada pelo jornal "O Globo" no último dia 5. No dia anterior, Crivella disse ao grupo de evangélicos presentes no encontro, intitulado "Café da Comunhão", que procurassem uma funcionária do gabinete do prefeito a fim de agilizar o agendamento de cirurgias de catarata e varizes na rede pública. Na ocasião, ele também ofereceu ajuda para resolver problemas relacionados à cobrança do IPTU nos templos.

Crivella, que é bispo licenciado da Igreja Universal, nega ter cometido qualquer irregularidade e diz ser vítima de perseguição religiosa.

Dois pedidos de impeachment chegaram à Mesa Diretora, sendo um por iniciativa da bancada do PSOL, que encabeça a oposição, e outro pelas mãos do vereador Átila Alexandre Nunes (MDB) --um terceiro foi enviado por servidores ao TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro).

Os requerentes alegavam que houve descumprimento decreto-lei federal de 1967, que "dispõe sobre as responsabilidades de prefeitos e vereadores". Crivella teria procedido “de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo" ao oferecer privilégios a determinado grupo de pessoas.

Os pedidos de impeachment também argumentaram que Crivella teria cometido crimes de improbidade administrativa e propaganda eleitoral antecipada. Na ocasião do encontro com os evangélicos, o prefeito discursou por mais de uma hora ao lado do colega de partido Rubens Teixeira, pré-candidato a deputado federal pelo PRB. A Procuradoria Regional Eleitoral do RJ apura se houve, de fato, alguma irregularidade.

Como Crivella votou no afastamento de Dilma

Durante o discurso em que proferiu seu voto, disse que não queria ou desejava, mas cumpria “um duro dever, diante dos fatos, a que me impõe o povo brasileiro, sobretudo a minha gente sofrida e valente, o povo fluminense”.

O então senador apontou ainda os “riscos do voluntarismo compulsivo dos governos, sobretudo em ano eleitoral, que consiste no exorbitante aumento do gasto público”. “... ainda que em projetos sociais de inegável relevância, sobretudo num país de persistente e oprobriosa [desonrosa] desigualdade como o nosso, mas que, à frente, cobram altíssimo preço à estabilidade econômica da Nação”, declarou.

Crivella destacou que seu voto não era de condenação ou de afastamento definitivo, o que só ocorreu no fim de agosto daquele ano. Na ocasião, ele havia se licenciado para disputar a Prefeitura do Rio e fora substituído pelo suplente, o senador Eduardo Lopes (PRB-RJ).

Depois de citar “palavras imortais” do padre jesuíta Antônio Vieira (1608-1697), Crivella concluiu sua manifestação dizendo que, se o processo contra Dilma deve buscar a Justiça, “peço a Deus que sejamos justos e não justiceiros”.