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MP: 'Propinolândia' na Alerj garantiu aprovação de contas de Cabral e Pezão

Cabral (à frente) e Pezão juntos em 2014, quando eram governador e vice do Rio de Janeiro - Jorge William/Agência O Globo
Cabral (à frente) e Pezão juntos em 2014, quando eram governador e vice do Rio de Janeiro Imagem: Jorge William/Agência O Globo

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

14/12/2018 15h55

A propina supostamente recebida pelos dez deputados fluminenses denunciados à Justiça pelo MPF (Ministério Público Federal) na Operação Furna da Onça, nesta sexta-feira (14), garantiu ao ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e a seu sucessor, Luiz Fernando Pezão (MDB), a aprovação anual de contas do Executivo e votações favoráveis na Alerj, bem como blindagem à instalação de uma CPI para investigar irregularidades no sistema de transporte público estadual.

Na versão dos procuradores que assinam a denúncia, protocolada hoje no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), os deputados participavam de um esquema baseado em pagamento de propina e loteamento de cargos públicos em troca de apoio aos governos Cabral (2007-2014) e Pezão (2014-2018).

Os dois emedebistas estão presos, sendo que Cabral --detido desde o fim de 2016-- responde a dezenas de ações penais e já acumula mais de 190 anos em condenações. Pezão está preso desde 29 de novembro e ainda deve ser denunciado.

Os investigadores concluíram que verbas federais e estaduais, acumuladas de vantagens indevidas pagas por empreiteiras e empresas de ônibus, formaram um caixa único que Cabral e seus operadores usaram para viabilizar diversos interesses da organização criminosa dentro do Parlamento fluminense. A denúncia da Operação Furna da Onça cita transações que atestariam as propinas pagas a cada parlamentar, incluindo "prêmios" dados por Cabral como doação não contabilizada para campanhas eleitorais em 2014.

14.dez.2018 - Distribuição da propina entre deputados da Alerj segundo denúncia do Ministério Público Federal - Divulgação/MPF - Divulgação/MPF
Distribuição da propina entre deputados da Alerj segundo denúncia do Ministério Público
Imagem: Divulgação/MPF

No total, foram 29 denunciados na Operação Furna da Onça, entre os quais Cabral, dez deputados e outras 18 pessoas. O TRF-2 ainda vai avaliar os argumentos da Procuradoria e decidir se acolhe ou não as acusações. Os crimes são corrupção e organização criminosa.

Em 8 de novembro, deputados foram presos por ligação com um esquema de pagamento de propinas --todos permanecem detidos, com exceção de Marcelo Simão (PP). Os valores envolvidos chegam a R$ 54 milhões. Os deputados denunciados são:

  • André Correa (DEM)
  • Edson Albertassi (MDB)
  • Chiquinho da Mangueira (PSC)
  • Coronel Jairo (SD)
  • Jorge Picciani (MDB)
  • Luiz Martins (PDT)
  • Marcelo Simão (PP)
  • Marcos Abrahão (Avante)
  • Marcus Vinicius "Neskau" (PTB)
  • Paulo Melo (MDB)

De acordo com as investigações, a propina resultava do sobrepreço de contratos estaduais e federais. Na ocasião da operação, os deputados alvos de prisão rechaçaram as acusações.

Além dos deputados e do ex-governador, também foram denunciados ex-secretários de estado, assessores na Alerj e membros do Detran-RJ (Departamento de Trânsito do Rio de Janeiro). Picciani e Melo, que foram presidentes da Assembleia, seriam líderes do esquema juntamente com Cabral, segundo as investigações.

Outro lado

A defesa de Sérgio Cabral tem refutado as acusações de que ele liderou um esquema de corrupção em seu governo. Nesta sexta, o UOL não conseguiu contato com o advogado dele, Rodrigo Roca.

Chiquinho da Mangueira afirmou que as suspeitas contra ele são "infundadas e totalmente inverídicas".

Procurada hoje, a assessoria de Corrêa disse que não teria comentários a fazer. Em novembro, Corrêa disse que "quem não deve não teme" e que estava confiante de sua inocência.

Ao UOL, a defesa de Albertassi disse que irá se manifestar assim que tiver acesso à denúncia do MPF. Na ocasião da operação, os advogados comentaram que "o deputado nunca participou de qualquer ato criminoso durante seus mandatos".

A assessoria de Marcus Vinicius Neskau disse desconhecer a denúncia por ainda não ter tido acesso às acusações. "De todo modo, a defesa já identificou diversos equívocos no enredo acusatório, em relação ao deputado Marcus Vinicius, que enfrentará com tranquilidade qualquer acusação, seguro de que não cometeu delito nenhum", informou a defesa do parlamentar por meio de nota.

As defesas de Jairo, Picciani, Martins, Abrahão e Melo não foram localizadas. A assessoria de Simão ainda não se manifestou.