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Às vésperas de pico de casos, Bolsonaro vê covid-19 "começando a ir embora"

Carolina Antunes/Presidência da República
Imagem: Carolina Antunes/Presidência da República

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

12/04/2020 19h26Atualizada em 12/04/2020 19h48

Em uma live com religiosos para celebrar a Páscoa, Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje que "parece que está começando a ir embora a questão do vírus", em referência aos efeitos da pandemia da covid-19.

Segundo ele, à medida que um problema estaria se diluindo, em sua visão, outro mais grave tende a aparecer: o desemprego. Essa tese tem sido sustentada pelo presidente, segundo o próprio, nos últimos "40 dias".

Mas Bolsonaro não observou um detalhe crucial: o Brasil ainda nem sequer bateu o pico de casos de coronavírus. E quem diz isso é o próprio Ministério da Saúde.

A pasta projeta que a etapa de aceleração descontrolada de casos só chegará em maio, com desaceleração prevista para meados de junho. O nível do pico, segundo especialistas, depende do tipo de isolamento social adotado em estados e municípios para conter a pandemia.

Lá atrás eu dizia: o vírus e o desemprego. Quarenta dias depois, parece que está começando a ir embora a questão do vírus. Mas está chegando e batendo forte o desemprego. Devemos lutar contra essas duas coisas.
Jair Bolsonaro

Um relatório técnico assinado pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), divulgado na semana passada, afirma que, para além da fase de aceleração, o Brasil continuará a enfrentar o vírus até meados de setembro, já em curva descendente.

Apesar dos riscos para a saúde da população, Bolsonaro tem defendido a volta à normalidade e o fim da reclusão social, com a reabertura do comércio, escolas e outras atividades que se encontram paralisadas em função da crise.

Na transmissão ao vivo com um grupo de religiosos, entre os quais evangélicos, católicos e judeus, o presidente também relembrou o episódio da facada sofrida por ele em 6 de março de 2018, mês anterior à eleição da qual sairia vitorioso. Bolsonaro chegou a se emocionar em alguns momentos e ficou com a voz embargada.

Bolsonaro culpa isolamento pelo aumento do desemprego

Sempre crítico ao isolamento social como medida de contenção do novo coronavírus, Bolsonaro atribuiu hoje, em mensagem publicada no Twitter, o aumento do desemprego ao isolamento social, culpando indiretamente os governadores pela crise.

Sem citar nomes e/ou apresentar provas que corroborassem a sua tese, o mandatário voltou a mandar recados para os governadores que adotam medidas de restrição social, em especial João Doria (PSDB-SP), e Wilson Witzel (PSC-RJ).

A dupla, que tem protagonizado duelos na mídia com o presidente desde o início da crise, cogitou ordenar que as polícias estaduais dessem voz de prisão a quem desrespeitasse a quarentena. A iniciativa, até o momento, não foi adotada nem em São Paulo nem no Rio.

Em mensagem publicada no Twitter, Bolsonaro afirmou: "Além do vírus, agora também temos o desemprego, fruto do 'fecha tudo' e 'fica em casa', ou ainda o 'TE PRENDO' [sic]. Para toda ação desproporcional a reação também é forte. O governo federal busca o diálogo e solução para todos os problemas, e não apenas um".

O texto é acompanhado de um vídeo que mostra populares insatisfeitos com um suposto bloqueio de uma rodovia no Pará. Nas imagens, com narração em off, um homem declara apoio ao presidente e culpa o governador Helder Barbalho (MDB) pela situação.

O mandatário também exalta a "reação forte" por parte da população que se diz insatisfeita com o isolamento. Ontem (12), dezenas de apoiadores do presidente da República foram às ruas em carreatas nas zonas oeste e sul de São Paulo para protestar contra as medidas do estado e criticar a China e as TVs Globo e Bandeirantes.

Este é apenas mais um capítulo na longa lista de embates entre Bolsonaro e os chefes dos Executivos estaduais. O presidente tem defendido a retomada da normalidade no país, na contramão das orientações da OMS (Organização Mundial de Saúde) e dos alertas quanto à gravidade da pandemia.

Por outro lado, a maioria dos governadores tem adotado medidas que vão ao encontro da posição de autoridades sanitárias em todo o planeta e referendadas pelo Ministério da Saúde do próprio governo.