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"Jamais participei de qualquer esquema", diz Wassef após ser denunciado

O ex-advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Frederick Wassef, em evento no Palácio do Planalto - Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
O ex-advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Frederick Wassef, em evento no Palácio do Planalto Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

25/09/2020 18h19

O advogado Frederick Wassef, que já atuou para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), disse na tarde de hoje que jamais participou de qualquer esquema de corrupção e que "nunca respondeu a processo ou foi investigado" em 28 anos de advocacia.

Wassef foi denunciado hoje pela força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro sob acusação de lavagem de dinheiro e peculato, ou seja, desvio de dinheiro. A acusação assegura que R$ 4,6 milhões em recursos públicos foram desviados por meio de falsos contratos de prestação de serviços advocatícios. A denúncia é um desdobramento da operação "Esquema S", que apura suspeitas de fraudes em entidades do Sistema S do Rio.

"Eu não tenho e nunca tive qualquer relação comercial com a FECOMERCIO, não fui contratado por eles, não recebi um único centavo desta entidade e jamais negociei com eles", disse ele. "Os serviços advocatícios foram devidamente prestados, os honorários foram declarados à receita federal e os impostos pagos", completou. (Leia o comunicado, na íntegra, abaixo)

Segundo Wassef, todos os serviços advocatícios "foram devidamente prestados, os honorários foram declarados à receita federal e os impostos pagos".

"A denúncia do Ministério Público Federal é inepta e não descreve qualquer conduta praticada por mim ou mesmo qualquer crime", pontuou. "Desde o início da referida operação "esquema" não fui investigado e ao final não fui denunciado, pois sempre souberam que jamais participei de qualquer esquema."

Além de Wassef, outras quatro pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Fedeal: Orlando Diniz, o ex-presidente da Fecomércio-RJ; o empresário Marcelo Cazzo; e as advogadas Luiza Nagib Eluf e Marcia Carina Castelo Branco Zampiron.

O grupo é acusado de crimes cometidos a partir do desvio de R$ 4,6 milhões das seções fluminenses do Sesc, Senac e da Fecomércio. Os procuradores afirmam que os desvios ocorreram de dezembro de 2016 a maio de 2017 sob pretexto de prestação de serviços advocatícios à Fecomércio-RJ.

Desse valor, R$ 2,68 milhões teriam ficado com Wassef, segundo a denúncia. O contrato foi assinado com o escritório de Luiza Eluf, advogada e ex-procuradora do Ministério Público de São Paulo.

No entanto, as investigações apontaram que o escopo contratual era falso, porque ou os serviços não foram prestados ou foram prestados no interesse exclusivo de Orlando Diniz para, por exemplo, perseguição de adversários pessoais, segundo o MPF.

Os novos fatos se somam aos que já haviam sido reportados em denúncia anterior da Operação "Esquema S". "Os membros já denunciados da organização criminosa se valiam do uso de contratos falsos com escritórios dos réus ou de terceiros por eles indicados, em que serviços advocatícios declarados nos contratos não eram prestados, mas remunerados por elevados honorários", informou o MPF.

Segundo os procuradores, os valores desviados eram públicos. "Os recursos dos Sescs e Senacs têm origem pública, pois a Receita Federal repassa de contribuições sobre folhas de pagamento de empresas comerciais para eles investirem na capacitação e bem-estar de comerciários", descreve o comunicado do Ministério Público.

Escritório encobriu contratação de Wassef, diz Diniz

O contrato da Fecomércio com o escritório de Luiza Eluf previa o serviço de "sindicâncias administrativas internas" na Fecomércio. Ele foi assinado em dezembro de 2016. O trabalho custaria R$ 4,6 milhões, mas a procuradoria afirmou que o escritório serviu apenas como "interposta pessoa (sic) para a remuneração de Frederick Wassef".

Orlando Diniz, ex-presidente da Fecomércio, disse que Wassef não podia ser contratado diretamente porque sua então companheira, Maria Cristina Boner Leo, "tinha pendências judiciais, o que poderia atrair holofotes indesejados para a contratação", avaliaram os procuradores. "Não podia ser contratado diretamente porque a esposa dela era
dona de uma empresa de tecnologia de informação com problemas na justiça", afirmou o empresário, em depoimento à força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro.

Como revelou o UOL, uma empresa ligada a Cristina Boner, a Globalweb Outsourcing, já ganhou mais de R$ 55 milhões no governo de Jair Bolsonaro (sem partido). A empresa, a empresária e o advogado negam interferência política. O caso é investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Os procuradores afirmam que, assim que a Fecomércio pagou o escritório de Luiza Eluf, "a maior parte" dos recursos foi repassada à empresa de Wassef e Márcia Zampiron.

Segundo o MPF, Márcia e seu esposo eram donos de uma empresa chamada Corseque, utilizada para fazer o "monitoramento pessoal" de uma funcionária da Fecomércio, chamada Daniele, suspeita de vazar informações. "A real intenção de ORLANDO DINIZ ao firmar contratos com a empresa CORSEQUE e com o escritório de LUIZA ELUF era
criminalizar condutas pessoais de Daniele Paraíso, algumas das quais sequer relacionadas a sua condição de funcionária do Sistema S", afirma a denúncia.

Uma auditoria feita em 2018 buscou levantar quais trabalhos foram feitos pelo escritório de Luiz Eluf para justificar os pagamentos. Mas nada foi encontrado. "LUIZA ELUF não juntou documentos relativos a trabalhos desenvolvidos nem eu seu próprio nome, nem em nome de FREDERICK WASSEF, MARCIA ZAMPIRON e seus escritórios", afirma a denúncia.

Para os procuradores, os recursos públicos enviados à Fecomércio - que realiza treinamentos profissionais, entre outras atividades - foram objeto de "desvio".

Leia o comunicado na íntegra

Estão criminalizando a advocacia no Brasil. Eu não tenho e nunca tive qualquer relação comercial com a FECOMERCIO, não fui contratado por eles, não recebi um único centavo desta entidade e jamais negociei com eles.

Fui contratado e prestei serviços advocatícios a um renomado escritório de advocacia criminal de São Paulo, em que a dona é uma famosa procuradora do Ministério Público de São Paulo, conhecida por ter dedicado toda sua vida e carreira a instituição Ministério Público e o combate ao crime, tratando-se de pessoa pública, íntegra, proba e de idoneidade inquestionável.

Os serviços advocatícios foram devidamente prestados, os honorários foram declarados à receita federal e os impostos pagos.

Após dois anos de investigação da FECOMERCIO, jamais fui intimado ou convocado por qualquer autoridade a prestar qualquer esclarecimento. Desde o início da referida operação "esquema" não fui investigado e ao final não fui denunciado, pois sempre souberam que jamais participei de qualquer esquema.

Estranhamente após a denúncia de todos os advogados citados na referida operação sofri uma busca e apreensão em que nada foi apreendido por não terem encontrado qualquer irregularidade e mais estranhamente ainda resolveram oferecer uma denúncia relâmpago, isolada, baseada em absolutamente nada contra minha pessoa.

A denúncia do Ministério Público Federal é inepta e não descreve qualquer conduta praticada por mim ou mesmo qualquer crime, tendo se limitado a narrar simplesmente pagamentos de honorários advocatícios por serviços devidamente prestados, inovando no Brasil, transformando o regular exercício da advocacia em crime, de forma irresponsável e sem medir as consequências de dano de imagem e reputação a minha pessoa.

Nunca em minha vida respondi a qualquer processo ou fui investigado, sempre tive um nome limpo e sequer em 28 anos de advocacia tive uma única representação em meu desfavor perante a Ordem dos Advogados do Brasil.