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Após reunião, Renan Filho cita constrangimento e Bolsonaro 'sem convicção'

O governador de Alagoas, Renan Filho (MDB) - Márcio Ferreira/Divulgação
O governador de Alagoas, Renan Filho (MDB) Imagem: Márcio Ferreira/Divulgação

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

24/03/2021 12h33

Único governador do Nordeste convidado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para a reunião com representantes dos poderes, o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), afirmou que não acredita que o encontro traga mudanças significativas na postura do chefe da nação.

"O presidente está instado pela situação a fazer uma inflexão. Mas qual o problema? Ele não tem convicção. Até tem vontade, acha que precisa atenuar o discurso, mas não tem convicção. Ele vai fazer isso na questão da vacina, mas nas outras áreas vamos ter problemas", disse o governador ao UOL, logo após a reunião, realizada na manhã de hoje (24) no Palácio da Alvorada, em Brasília, na qual foi discutida a criação de um comitê para contenção da pandemia.

Renan Filho contou que o encontro, repleto de aliados, foi marcado por um "clima de constrangimento geral". "Esse constrangimento é por conta dessa necessária inflexão, porque ele [Bolsonaro] não está sendo capaz de fazer o que o Brasil que precisa. As falas dos presidentes do Senado [Rodrigo Pacheco] e da Câmara [Arthur Lira] foram para defender a sociedade, mas eles são aliados constrangidos: defendem as medidas, mas vão só até um certo ponto. O Brasil precisa, mas não senti essa mudança [do presidente]", afirmou.

Segundo o alagoano, fora as vacinas, o presidente seguiu com discurso em pontos questionados por especialistas. "Ele tem muita dificuldade com a questão do isolamento, assim como a questão das UTIs, do tratamento, da necessidade dos hospitais. A gente vê toda hora os filhos deles questionando isso. Eu inclusive falei na reunião que, enquanto estávamos ali, havia 30 mil brasileiros em leitos UTI e 150 mil hospitalizados. Nós estamos vivendo uma situação excepcionalíssima, em que se interna mais do que todas as outras doenças reunidas. Então é preciso de um esforço nacional de forma transparente, conduzido pelo ministro."

O governador ainda citou que o presidente repetiu muitas vezes que se trata de doença nova, e que as medidas não seriam de consenso. "Eu disse: 'a doença é nova, mas há uma curva de aprendizado muito significativa, a ciência já sabe mais o que fazer, a medicina sabe'", afirmou, defendendo um isolamento social maior para conter o vírus. "Dos governadores ali, eu era o mais independente."

Além dos chefes do Congresso, participaram do encontro os governadores Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Ronaldo Caiado (DEM), de Goiás; Wilson Lima (PSC), do Amazonas; Ratinho Júnior (PSD), do Paraná; e Marcos Rocha (PSL), de Rondônia.

Amarra de Queiroga

Renan Filho disse que sentiu ainda uma certa amarra do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. "Senti que o ministro gostaria de ter um discurso técnico. Disse lá que a gente precisa de um ministro na Saúde como o Paulo Guedes é na economia, dando a toada. Se ele puder dizer o que precisa ser feito, será importante, assim como Paulo Guedes faz na economia, e o Bolsonaro diz que é com ele."

O governador alagoano disse que espera que o comitê para contenção da pandemia dê resultados, mas acredita que isso passa por uma participação mais forte do governo federal.

"Eu sugeri que ela fosse conduzida pelo ministro, que vai fazer, em longo prazo, a política. Mas o presidente sugeriu que fosse o Rodrigo Pacheco que fizesse a interlocução com os governadores. Acho que essa interlocução não deve ser terceirizada. Até porque o Senado já faz, o Davi Alcolumbre já fazia; mas não cabe a ele o encaminhamento das coisas", finalizou.