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Mandetta: Bolsonaro optou por caminho político no combate à pandemia

Andreia Martins e Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

06/05/2021 10h19Atualizada em 06/05/2021 12h40

Dois dias depois de falar à CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) afirmou ao UOL Entrevista que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) optou por um "caminho muito perigoso" ao politizar a pandemia do novo coronavírus, apesar das propostas científicas apresentadas pelo Ministério da Saúde.

À jornalista Fabíola Cidral e aos colunistas Tales Faria e Diogo Schelp, o ex-ministro acusou Bolsonaro de atacar a China para desviar a atenção da CPI da Covid, disse que não teme ser responsabilizado pelas mortes por covid-19 e afirmou que ser presidente da República "não é uma meta de vida".

Mandetta —que deixou o ministério em abril do ano passado— falou que Bolsonaro não tem "toda" a responsabilidade pelas mortes por covid-19 no Brasil, mas criticou o antigo chefe pela condução política da crise, "um caminho muito perigoso".

"Veja bem, [Bolsonaro] não é o único responsável. O vírus atacou a humanidade, é um problema mundial. O mundo estava totalmente despreparado: os mecanismos internacionais, OMS [Organização Mundial da Saúde], ONU Organização das Nações Unidas], todos foram deficientes no enfrentamento de uma ameaça global", afirmou.

Agora, dentro de nosso país, tínhamos alguns caminhos a tomar. Eu optei pelo caminho técnico e o presidente optou pelo caminho político, um caminho muito perigoso, que tem influência direta no resultado lastimável que o país teve.
Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, ao falar das 410 mil mortes pela covid

China x CPI

Ontem, Bolsonaro voltou a provocar a China ao dizer que "os militares [brasileiros] sabem que é guerra química, bacteriológica e radiológica". Para o ex-ministro, Bolsonaro põe em risco as relações comerciais com seu principal parceiro internacional porque deseja tirar o foco da CPI da Covid.

"Acho que é mais para dar munição a essas pessoas [apoiadores de Bolsonaro nas redes] e tirar o foco das análises que estão sendo feita pela imprensa, pela televisão, pela liderança tóxica que ele teve em relação à condução [da pandemia]", afirmou.

Você tira o foco da CPI quando cria uma agressão à China. As pessoas começam a discutir China e param de discutir aglomeração.
Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, sobre falas de Bolsonaro

Ser presidente não é "meta de vida", diz Mandetta

Cotado como presidenciável em 2022, o ex-ministro negou que a cadeira de Bolsonaro seja uma "meta de vida", mas se colocou à disposição.

"Meta de vida não, mas meta de vida de ser indignado com a situação do Brasil. Enquanto me indignar, com certeza vou lutar", afirmou. "Agora, a gente pode lutar de várias maneiras. Não precisa necessariamente ser o presidente para colaborar."

Questionado se não estava sendo político com a resposta, Mandetta respondeu que estava "sendo tão franco a ponto de dizer: 'Olha, estou aqui, tenho uma visão de Brasil que representa uma parcela enorme que não querem votar nem em Lula, nem Bolsonaro'".

"Não acharam nada", diz Mandetta sobre sua gestão

O fracasso em convencer Bolsonaro a mudar de postura na pandemia foi o único erro de sua gestão, afirmou Mandetta, ao dizer que não tem medo de também acabar responsabilizado pela má condução da crise sanitária.

"Acho que já devem ter feito investigação para frente, para trás, para baixo... Pelo nível de perguntas que me fizeram, parece que procuraram muito e não acharam nada", afirmou.

Vou dizer de coração, fiz tudo o que eu achava correto, junto com uma equipe muito correta, muito focada. Agora, falam: Você não conseguiu convencer o presidente. Realmente.
Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, sobre sua atuação na pandemia

Carta de alerta a Bolsonaro

Mandetta foi ouvido no primeiro dia da CPI da Covid, na terça-feira (4). Ele participou da comissão na condição de testemunha. Na ocasião, mencionou uma carta que disse ter enviado ao presidente com algumas recomendações que poderiam ajudar a conter o avanço da pandemia no Brasil.

"Era muito difícil fazer o presidente parar, ele não gosta de parar para prestar atenção aos cenários", disse Mandetta.