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Governo Lula silencia, mas tem expectativa por elo de Bolsonaro e golpistas

8.jan.2023 - Governo evita comentar suposto elo entre Bolsonaro e golpistas em Brasília - Wilton Junior/Estadão Conteúdo
8.jan.2023 - Governo evita comentar suposto elo entre Bolsonaro e golpistas em Brasília Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Do UOL, em Brasília

02/02/2023 16h14

Por ora, o governo Lula (PT) não vai tratar da denúncia do senador Marcos do Val (Podemos-ES) sobre suposta participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um plano golpista contra a posse do presidente.

Na cúpula do governo, há uma expectativa que uma possível ligação entre Bolsonaro e atos golpistas fique mais clara, mas a orientação é de que não se comente o assunto até que haja algo concreto.

O entendimento é de que Lula não deverá tratar do caso, enquanto interlocutores deverão indicar que é um assunto da Justiça e do Legislativo.

Na madrugada de hoje, Do Val fez uma transmissão nas redes sociais relatando uma suposta coação de Bolsonaro, por interlocução do ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), preso hoje. Já na manhã de hoje, o senador procurou minimizar o envolvimento de Bolsonaro, mas confirmou que o ex-presidente nada fez para impedir Silveira.

A confabulação teria acontecido no início de dezembro. Nesta manhã, Silveira foi preso por descumprimento de medida cautelar expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Oficialmente, nenhum representante do governo se pronunciou sobre o caso. Internamente, a expectativa é de que as especulações "tomem corpo" e apresentem uma ligação mais concreta entre Bolsonaro e os atos golpistas —podendo chegar aos atentados de 8 de janeiro.

A cautela também foi adotada pelo deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, nesta manhã, após participar de reunião com Lula no Palácio do Planalto. Ele disse disse ter levado "um susto" com as acusações, mas negou que o caso tenha sido abordado no encontro.

[Esse caso] não foi tratado [com Lula], nem é meu papel como líder de governo tratar desse assunto.
José Guimarães, líder do governo na Câmara

Os relatos de Do Val apresentam incongruências. Entre o vídeo publicado na madrugada, a entrevista dada à revista Veja e as declarações de hoje após repercussão da denúncia, ele chegou recuar sobre a suposta coação por parte de Bolsonaro, mas sem isentá-lo de responsabilidade.

Entre as versões, há, por exemplo, o relato de que a conversa com Bolsonaro e Silveira em 8 de dezembro teria ocorrido no Palácio da Alvorada, enquanto outra cita a Granja do Torto. Em entrevista à GloboNews, exibida na tarde de hoje, ele diz não se lembrar exatamente onde foi.

Esse tipo de desencontro faz com que o Planalto fique à espera. Interlocutores admitem que há uma ansiedade real para que os relatos sejam verdadeiros, porém não há a possibilidade de que isso seja abordado antes de haver evidências.

Até lá, o governo não deverá fazer uso político do caso. Segundo pessoas próximas, o foco é "ir fazendo o trabalho", enquanto relega a apuração do caso aos órgãos competentes, primeiro à Justiça e eventualmente ao Legislativo.

Na semana dos atentados, o ministro da Justiça, Flávio Dino, disse não haver evidências sobre possíveis articulações de Bolsonaro, mas tampouco descartou a possibilidade.

"Esse processo todo que aconteceu no dia 8 [de janeiro] a Justiça está avaliando. Nós queremos que tudo que ocorreu seja devidamente apurado", completou Guimarães na manhã de hoje, ao desconversar.