Negociadores de Lula no Congresso irritam PT e centrão e enfrentam fritura
Em meio a dois revezes seguidos em três dias, a base governista deixa claro que não está satisfeita com a articulação no Congresso e já começou um processo de fritura de lideranças. Por enquanto, o presidente Lula (PT) tem segurado seus indicados nos cargos.
O que aconteceu?
Analisando apenas esta semana, o governo não conseguiu votar o PL das Fake News por falta de apoio e ainda levou uma virada em relação aos decretos do presidente que alteraram o Marco do Saneamento.
O recado é que o governo não está fazendo o dever de casa no Congresso. A base aliada aponta dois principais responsáveis por isso: o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE).
As críticas têm chegado com frequência a Lula, inclusive por meio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), segundo interlocutores ouvidos pelo UOL. O próprio presidente tem deixado a insatisfação evidente, embora descarte qualquer mudança.
Desagrado na esquerda e no centrão
O governo começou a semana na expectativa de votar o PL das Fake News e de sepultar o debate sobre o marco do saneamento. Não foi o que ocorreu.
Na terça de manhã, Lula ouviu um alerta de Lira de que não havia votos necessários para aprovar o projeto que regulamenta as redes sociais. Com isso, a proposta não foi a plenário. Na semana anterior, havia sido acelerada a tramitação com uma margem pequena de apoio.
No dia seguinte, a Câmara aprovou um projeto que suspende parte dos decretos de Lula que alteraram as regras de saneamento, editados no início de abril. Foram 295 votos a 136.
Na conversa, Lira deixou claro ao presidente que o governo precisa melhorar a interlocução na Casa. O principal problema, segundo os deputados, seria ouvir.
As lideranças de Padilha e Guimarães estariam desagradando tanto a base original de Lula, ou seja a esquerda, quanto os membros do centrão aliado, conforme o UOL apurou.
Quais são as reclamações
Na esquerda, a reclamação é que os articuladores tratam o centrão "a pão de ló" e deixam os deputados mais fiéis em segundo plano.
Para o centrão, Padilha "não dialoga com o baixo clero" e recebe apenas deputados que considera importantes.
Ambos os lados, no entanto, reclamam de "chá de cadeira" na antessala do ministro, no quarto andar do Palácio do Planalto —algo que, dizem aliados de Lula, é uma recomendação recorrente do presidente para que não ocorra. Nesta semana, por exemplo, um petista lamentou ao UOL que ia "perder a noite", porque sabia que um encontro sobre PL das Fake News, marcado para as 20h30, não começaria antes das 21h15.
Sobre Guimarães, a reclamação expressa —essa mais contida quando vinda de correligionários— é que o deputado não conversa e, com frequência, "só fala o que Lula quer ouvir".
Empecilho político regional
Na Câmara, existe ainda a avaliação de que uma disputa política na Bahia atrapalha a relação entre Lira e Padilha. O deputado federal Elmar Nascimento (União-BA), uma espécie de "ponta de lança" do presidente da Câmara, teria as portas fechadas na Casa Civil.
Isso por ser adversário do ministro Rui Costa na Bahia. Sem acesso a um dos principais gabinetes do Palácio do Planalto, sobraria apenas Padilha para Elmar buscar interlocução a suas demandas.
Com isso, Padilha fica pressionado se não consegue atender as necessidades de um aliado de Lira.
Com a confiança de Lula
O descontentamento já chegou aos ouvidos do presidente em mais de um momento e por mais de um interlocutor, segundo o UOL apurou. Lula tem mostrado que entendeu o recado, fazendo até cobranças públicas.
Quero reconhecer o trabalho extraordinário do ministro Alexandre Padilha [na formação do Conselhão]. Eu espero que ele tenha a capacidade de organizar e de articular que ele teve no conselho, dentro do Congresso Nacional. Aí vai facilitar a minha vida."
Lula, em recado público a Padilha, na quinta (4)
Aliados dizem que, em especial após o período da prisão, lealdade é a característica mais estimada por Lula. Isso pesou na formação do grupo ministerial e na decisão de segurar ambos.
Lula reforça que tem plena confiança em Padilha e que o ministro tem um cheque em branco em seu nome para negociar com os deputados.
Defensores do ministro também apontam que, como o governo não conseguiu fazer maioria e se tornou "dependente do centrão", Padilha está em uma posição delicada e com poder de barganha reduzido.
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