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Calor e agenda livre das férias convidam à sesta

Tirar uma soneca de 15 minutos no meio do dia já pode ser suficiente para recarregar as energias - Thinkstock
Tirar uma soneca de 15 minutos no meio do dia já pode ser suficiente para recarregar as energias Imagem: Thinkstock

Luciana Alvarez

Do UOL, em São Paulo

04/01/2014 07h00

Os espanhóis mantêm o hábito da “siesta” há gerações, mas apenas recentemente a medicina moderna está provando que dormir por um breve período depois do almoço traz benefícios para a saúde e aumenta a produtividade – além de ser uma delícia, é claro. Para quem vive correndo de um compromisso para o outro durante os demais dias do ano, as férias podem ser um bom momento para experimentar esse pequeno luxo de tirar um cochilo à tarde, livre de qualquer culpa.

Uma sesta de apenas 15 minutinhos já pode ser suficiente para recarregar as energias. Ela, porém, nunca deve ultrapassar duas horas, para não atrapalhar o sono da noite, nem deixar a pessoa com uma sensação de cansaço pelo resto do dia, alerta Leonardo Ierardi Goulart, neurofisiologista do Laboratório do Sono do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.

"Muitas vezes, após uma soneca, ocorre um fenômeno denominado inércia do sono, que é quando, logo após acordada, algumas funções cerebrais da pessoa continuam num ritmo de sono. A pessoa fica mais dispersa”, explica Goulart. A inércia do sono é mais comum após cochilos longos.

Segundo o médico, esse breve sono à tarde é uma ótima solução para evitar os efeitos negativos da sonolência durante o dia, embora nem todos precisem dela. Mas se você se sente cansado, aproveite sim para dormir, recomenda o especialista. “Geralmente é bom entender e obedecer os sinais que o corpo nos envia”, diz.

Durante o verão, torna-se ainda mais comum o corpo "enviar sinais" de que precisa dormir à tarde. Existe uma razão biológica para isso, garante Goulart: “Dias mais quentes fazem com que a temperatura periférica (externa) do corpo se aproxime da temperatura central (interna). Isso tem um efeito indutor do sono.” Do ponto de vista prático, a pausa logo após o almoço ainda evita que a pessoa se exponha ao sol em um dos piores horários para a pele.

Para quem abusar de comidas gordurosas no almoço, a sonolência vem ainda mais forte. Esses alimentos, segundo o médico, fazem com que o corpo produza certas substâncias para auxiliar na digestão que também têm propriedades soporíferas.

Benefícios

Além de a sesta ser relaxante – comprovadamente ela reduz a irritabilidade e o estresse –, recentes pesquisas sobre o assunto demonstram que ela melhora a memória, a criatividade, a produtividade e até reduz o risco de doenças cardiovasculares. De forma geral, os benefícios variam de acordo com a duração do cochilo.

Com apenas dez minutos já há um incremento de produtividade, segundo um estudo conduzido pela Nasa (agência espacial americana) com o objetivo de descobrir qual seria o melhor padrão para obter o máximo de desempenho de seus astronautas e pilotos. Uma receita quase tão rápida quanto uma xícara de café, e com resultados bastante superiores. O período ótimo de cochilo, contudo, é de 26 minutos, concluiu a pesquisa de 1995: esse tempo aumenta o estado de alerta em 54% e a performance em tarefas, em 34%.

Quem dormir cerca de 60 minutos pode até enfrentar um pouco da inércia do sono, mas vai ganhar uma memória mais afiada. Um estudo publicado em 2012 no jornal Neurobiology of Learning and Memory mostrou que todas as durações da sesta melhoraram a pontuação em testes de memória imediata, mas, uma semana depois, o grupo que dormiu por 60 minutos foi o que teve os mais altos resultados na memória de longo prazo. A memória se consolidou.

Finalmente, dormir por 90 minutos, completando um ciclo de sono, ajuda na criatividade e nas memórias emocionais e de procedimentos, como o aprendizado de andar de bicicleta.

No longo prazo, quem dorme sempre também ganha. Em 2007, a Harvard School of Public Health e a Universidade de Atenas publicaram um estudo feito com 24 mil homens e mulheres, acompanhados por um período de seis anos, mostrando que fazer a sesta regularmente reduz em 34% os riscos de doenças cardíacas.

Volta à rotina

Como as férias são curtas, a maioria das pessoas simplesmente tem de voltar ao comportamento habitual de ficar bem acordado após o almoço. Do ponto de vista neurológico, não há problemas em fazer a sesta apenas eventualmente; o difícil mesmo é se acostumar de novo com a rotina sem a sesta.

Embora os cochilos ainda não sejam bem aceitos socialmente no Brasil, essa visão está começando a mudar. Muitas vezes, o que falta é um lugar adequado. Esse problema também já pode ser contornado em algumas grandes cidades.

Na região central do Rio de Janeiro, a clínica Pausadamente oferece desde 2009  cabines individuais para dormir 20, 30 ou 40 minutos. Além de uma cadeira confortável, há música ambiente e cromoterapia (iluminação colorida).

No fim de 2013, a empresa Cochilo inaugurou no centro de São Paulo cabines isoladas acusticamente para se tirar sonecas rápidas. O tempo é determinado pelo cliente, que é acordado de forma suave: a cama treme e as luzes começam a piscar. O spa Yelo, no Itaim, zona sul, também oferece serviço de espaços fechados para o cochilo. No bairro de Pinheiros, zona oeste, o restaurante Bello Bello tem na parte superior um salão com futons e tatames para quem desejar dormir após a refeição. Não se cobra para usar o espaço, mas cada um precisa acordar sozinho.