Atletas podem fumar maconha? É considerado doping na Olimpíada? Entenda
Quando pensamos na rotina de um atleta, imaginamos uma vida bem regrada, muitos treinos e alimentação saudável sem exagero de carboidratos. Mas nem sempre é assim, uma vez que alguns se preparam seguindo cardápios com macarrão e pizza. Quando o assunto é maconha, o raciocínio pode ser o mesmo: imaginamos que os atletas são proibidos de usar, mas não é bem assim.
Enquanto não estão em competição, o uso da droga é liberado; durante, é proibido. Mas existe um limite. E a Agência Mundial Antidoping (Wada, em sigla em inglês) afrouxou as regras em maio de 2013 para que atletas possam fumar maconha sem serem pegos em testes ou suspensos de competições. Esta foi a primeira Olimpíada com a nova regra.
Com a alteração, a quantidade limite de THC (principal substância encontrada nas plantas cannabis) permitida para não ser pego no doping saltou 10 vezes: passou de 15 nanogramas por mililitro para 150 nanogramas. Mas quanto isso representa?
O novo limite indica que a pessoa fumou maconha um ou dois dias antes do teste. Valores mais altos que isso, que acarretam em punição, aparecerão só se o atleta fumar pouco antes da prova
José Luiz da Costa, professor de toxicologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)
Mas as normas não são tão "legalize" assim.
O composto canabinóide está na lista de substâncias proibidas durante provas, o que aconteceu foi apenas uma elevação no limite máximo de THC que pode ser encontrado no corpo dos atletas sem que haja punição.
Cocaína, heroína e morfina estão entre as drogas proibidas tanto antes quanto durante as competições.
Fumar maconha ajuda o esportista?
As substâncias citadas na lista de proibidos da Wada são aquelas que de alguma forma podem melhorar a performance do atleta perante os demais e anula o espírito esportivo ou que prejudiquem a saúde. Mas a maconha dá vantagem competitiva? Faz mal à saúde? Depende do ponto de vista.
Não faz sentido você fumar maconha e ir lutar. A droga relaxa, te deixa lento. Mas poderia ser útil em esportes como tiro, por trazer calma, diminuir o nervosismo, evitar a mão trêmula. É relativo
Roberto Zagury, membro da Sociedade brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Ao pensar se a droga faz mal à saúde ou não, a incerteza volta.
"Como a erva é liberada em alguns países e outros não, não temos um consenso. Quando se libera o uso se entende que ela não é prejudicial à saúde", diz o endócrino.
A mudança é polêmica?
Quando o assunto é maconha e esporte, a polêmica existe, mesmo que esteja diminuindo.
Em 2009, por exemplo, o nadador Michael Phelps foi fotografado usando a droga e a história viralizou pelo mundo. Ele foi suspenso por três meses pela Federação de Natação e perdeu contrato de um grande patrocinador, mesmo sem estar em competição.
Em 1998, o canadense Ross Rebagliati ganhou uma medalha de ouro ao competir como snowboarder na Olimpíada de Inverno no Japão. Pouco depois dos jogos os testes dele deram positivo para maconha e o atleta quase perdeu a medalha.
"A maconha trata mais dores físicas e mentais do que qualquer outra substância, faz parte de um estilo de vida saudável e tem zero calorias, não devia ser uma preocupação para as autoridades", afirmou o atleta ao UOL.
Segundo Rebagliati, atletas usam a erva como uma forma natural de tratar dores, inflamações e ansiedade, e ainda para ajudar a manter o controle durante treinos tão intensos:
Esportistas deviam se orgulhar de usar maconha e não álcool, se orgulhar por usar maconha e não outras substâncias que configuram doping
Enquanto alguns apoiam o uso e a liberação da droga, outros questionam a mensagem que um órgão esportivo passa ao mundo ao liberar o uso.
"Entendo que a Wada pensa na mensagem que quer transmitir, querem que todos os atletas sejam exemplos, que as crianças se espelhem neles, que todos queiram a saúde deles, o que complica o apoio e liberação a maconha", acredita Zagury.
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