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Mandetta: 'País não está pronto para escalada de casos nas metrópoles'

Do UOL, em São Paulo

06/04/2020 20h33Atualizada em 06/04/2020 21h50

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou na noite de hoje que o país não está pronto "para uma escalada de casos nas grandes metrópoles". A declaração foi dada durante entrevista coletiva concedida após reunião com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na qual o ministro confirmou que será mantido como titular da pasta.

Durante a fala desta tarde, Mandetta reforçou a necessidade de se cumprir o isolamento social para tentar conter o coronavírus: "A sociedade precisa entender que a movimentação social é tudo que esse vírus quer. A movimentação vai levar o vírus às camadas mais frágeis da sociedade: moradores de rua, favela, locais de grandes concentrações."

"Nós não estamos prontos para uma escalada de casos nas grandes metrópoles. Há muito o que fazer. Cobram do ministro da Saúde que se crie leitos nos hotéis e se retire pessoas das favelas. As favelas são numerosas, históricas. Além de serem de muita complexidade, é onde as pessoas se identificam com as casas, e elas tem o direito de saber onde vão viver", afirmou ele.

Mandetta também criticou "histórico de negligência" com transporte público e falta de saneamento básico. "Cobram da Saúde uma solução", disse.

Problemas de logística

Durante a entrevista, Mandetta teceu elogios aos secretários e demais servidores da pasta, ressaltando que o Brasil enfrenta uma situação que envolve todos os outros países.

lotes mascaras - Reprodução  - Reprodução
Lotes de EPI usados por profissionais da área da saúde
Imagem: Reprodução

"Temos dificuldades de fazer testes, dificuldades em relação à logística nesse país. Nós ainda estamos tendo que lidar com compra e demanda de um avião do Brasil lá na China para vir para cá, porque nem logística internacional tem completa. Não estamos falando só do vírus, da doença individual. É de uma situação que atacou o sistema de saúde mundial."

No entanto, ele citou problemas de entrega de equipamentos, dificuldades em realizar testes de covid-19 na população e a preocupação com a falta de itens necessários para profissionais da área, como máscaras de saúde e luvas, sem garantia de estoques a longo prazo.

"Se hoje a gente se preocupa com máscaras, que a China não está produzindo, não sei como será daqui a 45 dias. Os insumos que a Índia ainda vai produzir. Não sei como vai ser a regularização dos estoques, que agora a gente está comprando e não sabe quando e nem como vai receber", observou.

Reunião com Bolsonaro

Durante a divulgação do boletim epidemiológico do coronavírus nesta tarde, feito diariamente pelo Ministério da Saúde, Mandetta não esteve presente pois participava de reunião com Bolsonaro. Ele acompanhava outros nomes do alto escalão do governo, como os ministros Braga Netto (Casa Civil), Jorge de Oliveira (Secretaria-Geral), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Wagner Rosário (CGU).

Mais cedo, foi ventilado que Bolsonaro considerava demitir o ministro e colocar o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) no cargo.

No entanto, após a reunião, Mandetta afirmou que apesar de muitos servidores terem esvaziado gavetas, inclusive as do próprio ministro, ele continua à frente da pasta.

Embates

O principal motivo de embates recentes entre o presidente e o ministro é com relação às medidas de contenção da contaminação pelo novo coronavírus. Seguindo recomendações da Organização Mundial da Saúde, Mandetta defende o isolamento social para conter o vírus. Bolsonaro, por outro lado, diz que o isolamento não deve se aplicar a todos, pois impactaria na economia.

O presidente tem batido de frente com governadores e prefeitos que têm aplicado quarentenas em seus estados e cidades. Mandetta, no entanto, recomendou ouvir os governadores. Bolsonaro vem criticando esta postura do ministro e já levantou a possibilidade de retirá-lo do cargo. Ele chegou, inclusive, a fazer reuniões sobre o coronavírus sem a presença de Mandetta.

Ontem, o presidente disse não ter "medo de usar a caneta" contra integrantes de seu governo que viraram "estrelas", mas não citou ninguém pelo nome. Mandetta não respondeu a este comentário do presidente, pois estava de folga e disse que estava "dormindo" quando ocorreu.