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Ex-Ministério da Saúde, infectologista critica flexibilização de isolamento

Para Júlio Croda, medidas precisam ser regionalizadas para evitar que aumento de casos em cidades cheguem a municípios vizinhos - Erasmo Salomão/Ministério da Saúde
Para Júlio Croda, medidas precisam ser regionalizadas para evitar que aumento de casos em cidades cheguem a municípios vizinhos Imagem: Erasmo Salomão/Ministério da Saúde

Do UOL, em São Paulo

01/06/2020 13h53

A flexibilização de medidas de isolamento contra o novo coronavírus precisa ser olhada com atenção, especialmente quando adota padrões diferentes em cidades próximas.

A avaliação foi feita por Júlio Croda, ex-diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, em entrevista publicada hoje pelo jornal Estado de Minas. Segundo Croda, cidades não podem ser olhadas individualmente, uma vez que é comum que pacientes procurem atendimento em municípios vizinhos.

"É bom sempre regionalizar a questão. Precisamos entender como os leitos são regulados para uma determinada região. Quando um paciente de uma cidade que não tem UTI precisa de um leito, ele é encaminhado a uma das vagas disponíveis naquela macrorregião. A decisão de flexibilizar ou restringir o isolamento tem que ser tomada em conjunto, entre todas as cidades de uma macrorregião. Todas serão impactadas por um aumento no número de casos. As cidades não podem ser olhadas individualmente, pois 80% dos nossos municípios têm menos de 20 mil habitantes e a maioria das cidades não têm leitos de UTI. Por isso, o olhar precisa ser regionalizado", disse Croda.

A própria publicação cita o exemplo da cidade de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. O sistema de saúde do município está mais perto do colapso do que o da capital paulista; ainda assim, o governo paulista anunciou na última semana uma abertura econômica gradual, com a cidade de São Paulo separada da região metropolitana, uma vez alegar contar com leitos ociosos.

Para Júlio Croda, é preciso ter diretrizes mais rígidas do governo federal para evitar controlar o número de contágios — que, segundo ele, atinge agora as populações das periferias dos grandes centros.

"Sem o apoio da presidência e com estados e municípios pressionados pela iniciativa privada para reabrir mesmo sem leitos, o que vai acontecer é um massacre. Quem está morrendo? Pretos e pobres, que moram em comunidades carentes, onde o vírus circula mais intensamente, já que a população de baixa renda não consegue cumprir o distanciamento social. Nas classes altas, o vírus circula menos e há mais leitos no setor privado. Em compensação, nas classes pobres, há mais circulação e faltam leitos", acredita Croda, infectologista da Fiocruz.

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