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Enterros na cidade de São Paulo cresceram 60% desde o início da pandemia

23.mar.2021 - Enterro realizado no cemitério de Vila Formosa, em São Paulo - Edson Lopes Jr./UOL
23.mar.2021 - Enterro realizado no cemitério de Vila Formosa, em São Paulo
Imagem: Edson Lopes Jr./UOL

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

01/04/2021 11h42

O número de enterros na cidade de São Paulo aumentou 60% em março na comparação com o mesmo mês de 2020, que marcou o início da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Os dados são do serviço funerário do município e consideram os cemitérios públicos e privados, além de crematórios.

Março, que foi o mês mais letal da pandemia também no país, terminou com 9.654 sepultamentos na capital paulista. Antes da crise sanitária, os três primeiros meses do ano registravam 240 sepultamentos em média por dia. Neste ano, o número passou para 311, alta de 30%.

Em 12 de março do ano passado, a diarista Rosana Aparecida Urbano, 57, foi a primeira vítima a morrer de covid-19 no Brasil. Um dia antes, ela havia saído de sua casa, na Cidade Tiradentes, extremo leste da capital, ainda na madrugada, para visitar a mãe, que estava entubada também em decorrência do vírus no hospital municipal do Tatuapé.

Ao receber a notícia da intubação de sua mãe, de 86 anos, Rosana, que era diabética e hipertensa, passou mal e acabou internada no mesmo local. Na noite do dia seguinte, morreu após uma parada cardiorrespiratória. O reconhecimento de sua morte como a primeira em decorrência do vírus no Brasil aconteceu só em junho do ano passado. A mãe dela também morreu, quatro dias depois dela.

Assim como o drama da covid-19 assolou a família da diarista, também atingiu milhares de famílias em São Paulo e no Brasil. A crescente no número de sepultamentos na capital, de acordo com a gestão municipal, tem ligação direta com as vítimas da covid-19.

Como base de comparação, março deste ano terminou com mais de 15 mil mortos em decorrência da doença em todo o estado de São Paulo. O recorde, até então, havia sido registrado em julho de 2020, quando mais de 8 mil pessoas morreram após terem sido diagnosticadas com o vírus.

Enterro à noite, cemitério sem vaga

Além da dor pelo luto de perder um ente querido, a pandemia também trouxe dificuldades na cerimônia de despedida. São Paulo orienta amigos e familiares das vítimas a não realizar funerário, mas, caso seja desejado, pode acontecer com o máximo de 1 hora de duração, com caixão fechado e presença de até 10 pessoas.

Em meio ao caos instalado nos hospitais, públicos e privados, da cidade e do estado de São Paulo, o pós morte é uma continuação do drama. No pior momento da pandemia, o cemitério da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da capital, decidiu suspender temporariamente, até a conclusão das exumações, os enterros em sua quadra geral, a mais requisitada, por falta de espaço.

No entanto, a prefeitura decidiu estender os horários de sepultamentos em quatro cemitérios: Vila Formosa e Vila Alpina, na zona leste, o do São Luiz, na zona sul, e da própria Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte. Os quatro cemitérios são os que mais enterraram vítimas da covid-19 na cidade. Neles, com ajuda de geradores de energia, começaram a ocorrer enterros à noite.

Além disso, a gestão municipal aumentou, de 45 para 50 o número de carros para transportar corpos. Alguns desses veículos anteriormente eram utilizados para o transporte escolar. Os motoristas tiveram que adaptar a van, retirando os bancos e o adesivo amarelo de identificação. Ao fim do contrato com os carros escolares, a prefeitura irá devolvê-los higienizados.