Assad faz rara aparição pública e discursa em Damasco


Em Damasco (Síria)

O presidente sírio, Bashar al-Assad, fez uma rara aparição pública nesta quarta-feira e prometeu derrotar a "conspiração contra a Síria" um dia após culpar interesses estrangeiros por atiçar meses de violência mortal.

"Sem dúvida, vamos derrotar a conspiração, que está chegando ao fim e que também será o fim para (os conspiradores) e seus planos", afirmou Assad diante de milhares de simpatizantes na praça de Omayyad, no centro de Damasco.

Vestido casualmente com uma camisa e um paletó, um Assad confiante falou diante da multidão, cerca de seguranças, e declarou: "Eu vim aqui para tirar força de vocês. Graças a vocês, nunca me senti fraco".

"Quem quiser falar deve vir para a rua", afirmou ainda, ao agradecer seus partidários, muitos dos quais seguravam seu retrato ou agitavam bandeiras da Síria, por "apoiar as instituições do Estado e do Exército".

A ONU afirmou, no mês passado, que mais de 5.000 pessoas já morreram na repressão dos protestos contra o regime, que começaram em março, e muitas delas foram baleados durante manifestações pacíficas.

Damasco acusa "gangues armadas terroristas" de fomentar o derramamento de sangue.

Em um discurso na terça-feira, sua primeira aparição pública em meses, Assad prometeu esmagar o "terrorismo" com mão de ferro.


"Partidos internacionais e regionais que estão tentando desestabilizar a Síria não podem mais falsificar os fatos e acontecimentos", disse o líder em apuros no discurso de quase duas horas.

Suas declarações levaram movimentos de oposição a acusá-lo de empurrar o país rumo à guerra civil e as potências mundiais a criticá-lo por tentar transferir a culpa pelos 10 meses de violência nos protestos contra o seu regime.

Em meio às acusações, ativistas afirmaram que quatro civis foram mortos nesta quarta-feira perto da cidade central de Hama e que as tropas leais ao regime entraram em confronto com desertores.

O Observatório Sírio de Direitos Humanos também informou que as forças do regime utilizaram munição real e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os estudantes que protestavam em Daraya, na província de Damasco.

Washington afirmou que Assad utilizou seu discurso na terça-feira para tentar desviar a atenção de seu povo do fato de que ele havia se comprometido a acabar com a violência.

"Ele está fazendo tudo, menos o que ele precisa fazer", ressaltou a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland.

Ela disse que Assad deve cumprir os compromissos da Síria com a Liga Árabe para acabar com a violência, retirar as armas pesadas das cidades, admitir jornalistas, libertar presos políticos e permitir o diálogo político real.

O ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, disse que Assad estava "divorciado da realidade" e o acusou de incitar a violência, enquanto condenou energicamente os ataques contra os observadores da Liga Árabe na Síria.