Exército egípcio promete retirada que pode ser uma farsa
O exército egípcio prometeu regressar aos quartéis após a eleição do novo presidente, mas a retirada pode ser uma farsa devido ao seu peso político e econômico considerável, dizem especialistas.
No poder desde a renúncia de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, o Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) se comprometeu solenemente a entregar as chaves do país no final de junho ao presidente escolhido nas urnas.
Esta transferência simbolizará o fim de um período de transição turbulento, marcado por violentos protestos, às vezes mortais, durante os quais o exército foi acusado de manter o aparato repressivo do passado e de se agarrar aos seus privilégios.
A instituição acredita que tem mantido sua promessa de levar o país rumo à democratização e de manter a estabilidade, em contraste com os conflitos vividos por outros países da Primavera Árabe como a Líbia.
"O Exército é a única instituição no país que funciona. Ela ainda goza de alguma popularidade, tem um poder econômico real e a polícia é incapaz de se reorganizar para manter a ordem", ressalta Tewfik Aclimandos, especialista em Egito da Universidade Paris I.
"Ele tem os meios para continuar a ser um ator político importante por muitos anos", acrescenta.
Para Hassan Nafaa, um dos principais colunistas políticos egípcios, "o lugar do exército vai depender muito do presidente eleito".
Se for oriundo do antigo regime, como o ex-chefe da Liga Árabe Amr Moussa ou o último primeiro-ministro de Mubarak, Ahmad Chafiq, "o exército continuará a desempenhar um papel importante, e não haverá reformas".
Mas, caso outra pessoa ganhe "o exército deverá retornar aos quartéis, mas para isso precisará de um acordo para tudo dar certo. Muitos interesses, inclusive econômicos, estão em jogo", acredita.
Um dos principais candidatos islamitas, Abdel Moneim Abul Futuh, prometeu limitar aos militares as questões da defesa, mas sem esclarecer como faria isso.
A Irmandade Muçulmana, que domina o Parlamento e apresenta um candidato, Mohammed Morsi, poderia criar problemas com os militares, com quem mantém uma rivalidade histórica.
No entanto, eles alternaram nos últimos meses um discurso crítico ao exército e um mais ambíguo, sugerindo que poderiam lidar com os generais.
"O CSFA acredita que é o único com maturidade, experiência e sabedoria para proteger o país", combinando "o interesse nacional e os seus próprios interesses", afirma o International Crisis Group (ICG) em um estudo recente sobre o exército.
Agora, "seu objetivo é de se colocar em segundo plano para evitar os holofotes, mas conservando uma influência decisiva", acrescenta.
O exército é a espinha dorsal do sistema egípcio desde a queda da monarquia em 1952 e, desde então, tem fornecido todos os presidentes do país.
O vasto e opaco império econômico dos militares, que inclui inúmeras empresas, desde a construção à comida e cimento.
O general Mahmoud Nasr, membro do CSFA, advertiu em março que os militares "não permitiriam qualquer interferência nos planos econômicos do exército".
O exército egípcio também recebe, desde os acordos de paz com Israel, em 1979, uma ajuda anual de 1,3 bilhão de dólares dos Estados Unidos.