Manual do jihadista individual aplicado ao pé da letra no Canadá

Em Teerã

  • Asmaa Waguih/Reuters

    Integrante do Exército Livre Sírio se protege de disparos de atiradores do regime na cidade de Salqin, na área de Idlib

    Integrante do Exército Livre Sírio se protege de disparos de atiradores do regime na cidade de Salqin, na área de Idlib

PARIS, 23 Out 2014 (AFP) - Matar um soldado que estava de guarda diante de um monumento, atropelar militares em uma estrada: os dois canadenses responsáveis por ataques nos últimos dias aplicaram ao pé da letra o 'manual' da Al-Qaeda e do grupo Estado Islâmico (EI) em sua luta contra os infieis.

Há vários anos, a Al-Qaeda apela a seus partidários, em artigos e vídeos na internet, para que atuem sem esperar, sem ordens precisas e sem uma organização que os treine ou apoie, com a glorificação antecipada dos "heróis da jihad individual".

Antes da frente síria, era difícil e perigoso chegar a uma "terra de jihad", onde as infraestruturas das organizações islamitas, alvo dos bombardeios de aviões teleguiados americanos, tinham dificuldades para receber voluntários de todo o mundo.

Em 2010, na revista jihadista em língua inglesa Inspire, publicada no Iêmen, o americano convertido Adam Gadahn (conhecido como "Azzam o americano") já mencionava os "deveres da jihad individual".

Pouco depois, em um vídeo com o título "Apenas vocês são responsáveis por vocês mesmos", Gadahn afirmou: "Os muçulmanos do Ocidente devem saber que estão perfeitamente posicionados para desempenhar um papel decisivo na jihad contra os sionistas e os cruzados O que esperam".

As revistas jihadistas online publicaram várias fórmulas para a produção de bombas caseiras e listas de alvos, com os militares das potências ocidentais sempre nas primeiras posições, seguidos por políticos e locais que simbolizam o poder nos Estados Unidos e nos países aliados.

Também alegam que todos os meios são bons para atacar os alvos: tiros com armas de guerra ou de caça, facadas, bombas caseiras, espalhar veneno ou o uso de um veículo como arma.



Difíceis de neutralizar

Na edição de maio de 2012 da Inspire, Abu Musab al-Suri, ideólogo da Al-Qaeda, assinou um artigo com o título "Experiências jihadistas: os principais alvos da jihad individual", no qual apresenta uma lista, por ordem de prioridade, dos alvos que devem ser atacados: "as principais personalidades políticas que fazem campanha contra o islã, os grandes alvos econômicos e as bases e quartéis militares".

"O mujahedine deve praticar a jihad individual em sua terra, onde vive e reside, sem ter que enfrentar as dificuldades da viagem para as terras nas quais a jihad é possível", escreveu, antes de ressaltar que "o inimigo está em todas as partes".

Há algumas semanas, o EI, que não obedece a Al-Qaeda, também pediu aos muçulmanos que matem cidadãos dos países que integram a coalizão que combate o grupo jihadista no Iraque e na Síria, em particular americanos e franceses.

"Se podem matar um infiel americano ou europeu - em particular os malvados e sujos franceses - ou um australiano ou um canadense (...) contem com Alá e matem de qualquer maneira", declarou Abu Mohamed al-Adnani, porta-voz do EI.

Os analistas alertam há muito tempo para o risco representado por indivíduos isolados que, embora não tenham condições de organizar grandes ataques, são impossíveis de detectar quando se mostram discretos antes de entrar em ação.

"Foi a revista Inspire que começou, afirmando que devem fazer", destaca à AFP Louis Caprioli, subdiretor da luta contra o terrorismo do serviço de inteligência francês de 1998 a 2004.

"Lembrem do soldado que foi atropelado e depois degolado em Londres em 2013. E agora o grupo renovou o apelo", comenta Caprioli.

"Como neutralizá-los? É muito difícil. Precisamos de uma legislação adaptada, meios preventivos", completa.

Ele recorda que os autores dos ataques no Canadá "foram detectados, seus passaportes haviam sido confiscados, mas a legislação canadense não permite ir além".

"Em casos como estes, a única solução é detê-los e prendê-los de maneira preventiva", afirma, antes de lembrar que isto será possível na França com uma nova lei antiterrorista que está sendo examinada no Parlamento.

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